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O resgate moral de Joseph Blatter

Punido com o seu banimento do Futebol, o ex-cartola promete "fatos novos" mas só tem uma única chance: se transformar, de fato, num delator.

Silvio Lancellotti|Sílvio Lancellotti

Blatter e o dilema: delator ou não?
Blatter e o dilema: delator ou não? Blatter e o dilema: delator ou não?

Graças a um artifício típico dos repórteres daqueles idos, eu me aproximei de Joseph Blatter, secretário-geral da FIFA, em 1990, durante a Copa da Itália, e lá estabeleci, com ele, tacitamente, um acordo de benefícios mútuos. Por eu ser um jornalista brasileiro, Blatter, entre aspas, me “usaria” para divulgar informações de seu interesse. Eu, é claro, cuidadosamente peneiraria o que ele passava, informação versus fofoca, e só divulgaria, mesmo, aquilo que fosse digno de publicação. Dois superiores, na “Folha de S. Paulo”, obviamente sabiam da extensão do relacionamento: Flávio Gomes e Sérgio Kraselis.

Com a filha Corinne e a neta Selena
Com a filha Corinne e a neta Selena Com a filha Corinne e a neta Selena

A conexão se iniciou acidentalmente. Já na estrada da cobertura da competição desde o México/70, eu havia aprendido que as melhores fontes de dados vêm daqueles personagens com quem a mídia conversa pouco e que se sentem ofuscados pelos holofotes dirigidos aos famosos. Pelé? Não, o massagista Mário Américo. Enzo Bearzot? Não, um amargurado ex-titular, Franco Causio. Diego Maradona? Não, o mano Lalo e a namorada e depois esposa do Pibe, Cláudia Villafane. João Havelange, o presidente da FIFA? Não, Sepp Blatter, o secretário-geral.

A casa da família Blatter em Visp, Suíça
A casa da família Blatter em Visp, Suíça A casa da família Blatter em Visp, Suíça

Descobri que, um helvético perfeito, Blatter fazia a sua barba, inapelavelmente, todas as manhãs, cedinho, no salão do hotel que albergava a cartolagem. E lá eu me aboletei, certa data, antes mesmo de a Copa se iniciar, a ler um exemplar rosado de “La Gazzetta dello Sport”. O salão ainda estava praticamente vazio e, assim que ele se sentou, me apossei da cadeira mais próxima e entabulei um papo, em italiano, com o Fígaro de plantão. Aqui e ali, mais alto, lançava as minhas iscas, nomes como os de Havelange, Ricardo Teixeira e Antonio Matarrese, então o ultra-polêmico presidente da FIGC, a federação da Velha Bota.

Havelange, Teixeira e Blatter
Havelange, Teixeira e Blatter Havelange, Teixeira e Blatter

A curiosidade matou o gato. Blatter não resistiu e puxou conversa. Já fantasiava o golpe que, anos depois, tentaria pespegar em Havelange. Insinuei não simpatizar com o monarca e nem com o genro Teixeira, presidente da CBF. Falei de um furo que transmitira à “Folha” dias antes: graças a um upgrade propiciado por um amigo da Varig, tinha me acomodado na Primeira Classe, deliciosamente logo atrás de Teixeira e do empresário Kleber Leite, que bebericavam os seus uísques e riam de uma série de malvadezas desferidas, incrivelmente, contra Sebastião Lazaroni, o treinador do Brasil. Gravei toda a diatribe. Os parlapatões não tiveram como desmentir.

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Maradona em 94: rumo ao exame anti-doping
Maradona em 94: rumo ao exame anti-doping Maradona em 94: rumo ao exame anti-doping

Enfim, Blatter passou a confiar em mim. Por cerca de 20 anos nos comunicamos constantemente, em encontros eventuais, por telefone, email e, recentemente, WhatsApp. Graças a Blatter eu reuni preciosidades sobre o paulatino solapamento da autoridade de Havelange na FIFA, sobre a sua própria ascensão ao trono em 1998, sobre uma série de fatos paralelos, como a acusação de doping que tirou o “Pibe” Maradona da Copa dos EUA/94. Foi Blatter quem me expôs os detalhes que desvendei numa vasta reconstrução de página dupla da “Folha” e no meu “Almanaque da Copa do Mundo” (LPM Editores, 1998). Foi quem me revelou os bastidores do “Episódio Ronaldo Fenômeno”, pouco antes da decisão da Copa da França, outra reconstrução que explicitei no livro “Brasil, o (Quase) Campeão do Século” (LPM, 1998), que ninguém pôde desmentir.

Ronaldo em 98: que aconteceu, mesmo?
Ronaldo em 98: que aconteceu, mesmo? Ronaldo em 98: que aconteceu, mesmo?

Natural que, agora, num momento em que Blatter garante dispor de provas para reverter o seu banimento do Futebol, determinado em 2015, eu ousasse re-procurá-lo. A quem não sabe, recordo: denunciado por pagamentos indevidos ao francês Michel Platini e outras coisinhas, o Comitê de Ética da FIFA o suspendeu até 2021. Platini também foi afastado do cargo de Presidente da UEFA. Jamais alguém explicou por que razão a FIFA entregou cerca de R$ 6,3 mi ao francês, R$ 3,1 mi ao seu fundo de pensão, ou que serviços Platini prestou à entidade. Um suborno? Não creio. Mais provável uma clássica compra de votos. Pois Blatter anuncia que dispõe de novas provas, capazes de anular a sua punição. Eu lhe pergunto: quais provas? “Você saberá na hora certa”, ele promete, manso e com a voz característica de quem atingiu os 81 de idade. Claro que o Blatter de hoje é diferentíssimo daquele Blatter de 1990. Evidentemente perdeu o viço, parece exausto, sem uma perspectiva além de redesenhar a sua biografia. Porém...

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Com a namorada Linda Barras
Com a namorada Linda Barras Com a namorada Linda Barras

Desde 2014 o namorado de Linda Barras, bela mulher de 51 de idade, casada com um seu velho amigo, Christian, milionário do mercado de imóveis da Suíça, Blatter não precisa de dinheiro. Vive até que frugalmente, em Visp, a sua mesma cidadezinha de nascença. Não dispensa os auxílios da filha Corinne, esposa do proprietário de um bistrô local e mãe de Selena, a neta que se tornou o mimo cotidiano do avô. Corinne o assessora desde a década de 80 e também vive frugalmente. Despesa, mesmo, apenas os salários de um assessor e porta-voz, Thomas Renggli, um jornalista, talvez na casa dos R$ 50 mi ao mês. Nada, perto do caixa de Blatter, que guardou, dos seus tempos áureos, bem uns R$ 60 milhões. Sim, ele deseja, mesmo, o resgate moral. Para tanto, porém, precisará se transformar em delator. É. Eu duvido que os fatos novos não sejam fatos antigos.

Renglli e um amigo
Renglli e um amigo Renglli e um amigo

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