Doha, Catar
Discrição.
Os jogadores da seleção brasileira não querem desgastes desnecessários, polêmicas, ostentações que tirem o foco da caminhada na Copa do Catar.
O time já é um dos oito melhores do mundo. E precisa de três vitórias para voltar a ser campeão depois de 20 anos. Na sexta-feira (9), enfrenta a Croácia, aqui em Doha, lutando para ser semifinalista, depois de oito anos. A última vez foi no Brasil, em 2014.
As preocupações mais importantes, como o estado físico de Neymar e Danilo, estão superadas. Alex Sandro também está para ser liberado.
O Brasil enfrentará a atual vice-campeã da Copa do Mundo, com o ex-melhor do planeta, Modric, como seu articulador.
As preocupações já são grandes.
E não cabem mais desgastes.
Os líderes da seleção, Thiago Silva, Casemiro e até Daniel Alves, conversaram com o grupo. E decidiram por um pacto para preservar o ambiente na seleção. Nada de ostentação, de expor nas redes sociais exageros nas folgas com seus familiares.
E todos aceitaram.
O motivo desse pacto foi a repercussão do episódio do 'bife de ouro', que Vinícius Jr. e Eder Militão comeram, ao lado do ex-jogador Ronaldo, no restaurante do chef turco Nusret Gökçe. Conhecido por sua extravagante maneira de colocar sal em seus assados, ele ganhou o apelido de Salt Bae.
Logo o preço da carne folheada a ouro ganhou as manchetes do mundo todo.
No restaurante a que Ronaldo levou Vinícius Jr. e Militão havia quatro tipos de carne folheada a ouro. O mais caro é o tomahawk, parte mais macia do lombo, que custa R$ 3.300. O filé já custa menos, R$ 1.100.
Quem pede o praço tem direito ao sal colocado de maneira coreografada por Salt Bae.
Os jogadores não postaram o jantar na semana passada nas redes sociais. Foi, espertamente, o dono do restaurante. A publicidade foi garantida.
E teve até efeitos colaterais, como a análise de que o relógio que Militão usava custava R$ 3 milhões.
Enfim, um "prato cheio" para polêmicas no Brasil.
Familiares acompanharam, assustados, a repercussão do jantar.
O capitão do time, Thiago Silva, tratou de defender os jogadores. Mas admitiu que a "culpa" foi sua, por pedir a Tite a folga.
"Foi uma pequena folga, e eu fui dos responsáveis por pedir à comissão esse tempo. Sei que os meninos saíram com seus familiares e jantaram onde quiseram. Às vezes, ficamos procurando problema. Se querem atrapalhar, eu sinto muito, estamos muito cientes, responsáveis e tranquilos daquilo que temos como objetivo."
A culpa que Thiago Silva carregava estava no fato de não ter orientado os jogadores mais jovens a evitar, de todas as maneiras, a exposição.
Daí a dura conversa para que na folga, por exemplo, depois da vitória contra a Coreia do Sul, não houve polêmica nenhuma.
Tite acompanha com satisfação essa tomada de posição dos jogadores. Sem ser necessária uma ordem sua ou da presidência. Partindo dos atletas.
Daniel Alves decidiu ironizar a situação.
E resolveu postar uma foto satirizando o chefe Salt Rae, colocando açafrão, para imitar ouro, na sua comida na concentração da seleção, com a mesma coreografia.
O resumo: os jogadores brasileiros vão se controlar.
Faltam dez dias para acabar a Copa do Mundo.
Depois do dia 18, se a seleção chegar até a final, poderão ostentar suas fortunas.
Farrear onde quiserem.
Até lá, mesmo aqui no Catar, o país mais rico do mundo, o pacto é de moderação.
Discrição.
O que acaba sendo até uma demonstração de respeito aos brasileiros...
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