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Fuga da polícia e 'quase morte': após drama, Alex Silva renasce na Bolívia

Nas quartas da Libertadores, zagueiro é destaque do Jorge Wilstermann

Futebol|Do R7*

Alex Silva é um dos pilares da surpreendente equipe do Jorge Wilstermann
Alex Silva é um dos pilares da surpreendente equipe do Jorge Wilstermann Alex Silva é um dos pilares da surpreendente equipe do Jorge Wilstermann

De revelação e tricampeão brasileiro no São Paulo a motorista detido por dirigir embriagado. Em apenas seis anos, a trajetória do ex-jogador da seleção brasileira Alex Silva passou por uma verdadeira montanha-russa. Hoje, o zagueiro reconstrói sua carreira com a camisa do Jorge Wilstermann, da Bolívia, e ainda lembra dos momentos difíceis que viveu.

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Após passagem vitoriosa pelo São Paulo e convocações para a seleção brasileira, o 'Pirulito', como Muricy Ramalho o apelidou, foi vendido ao Hamburgo, da Alemanha. Um ano e meio depois, estava de volta ao Morumbi, onde começou a acumular problemas. Saiu brigado do Tricolor em 2011 e rescindiu contrato com o Flamengo em 2013. Lesionado, não conseguiu emendar uma sequência no Cruzeiro e passou por clubes de menor expressão. Em 2015, foi afastado do São Bernardo por discutir com torcedores e encarou a falta de oportunidades e o desinteresse das grandes equipes.

Sem clube após deixar o Boa Esporte, há três anos, o defensor viveu seu momento mais sombrio. Embriagado, Alex foi detido por furar uma blitz policial. O episódio mudou sua vida definitivamente. Ele conta que, durante a perseguição policial, escutou uma voz que o fez parar o carro. Mais tarde, no IML (Instituto Médico Legal), a mesma voz apareceu, lembrando-o: “Você está entrando aqui vivo, mas era para estar morto se eu não parasse o carro”.

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Desde então, o tricampeão brasileiro deixou para trás as festas e o álcool que o fizeram perder o foco na profissão e passou a se dedicar inteiramente ao futebol. O resultado está sendo colhido agora, aos 32 anos. Jogador do boliviano Jorge Wilstermann desde janeiro de 2017, Alex Silva foi contratado para a disputa da Libertadores. No torneio, o time já bateu o Palmeiras, goleou o tradicional Peñarol e eliminou o Atlético Mineiro em pleno Mineirão. Agora, Alex e seus companheiros se preparam para o duelo contra o River Plate, pelas quartas de final da competição.

Em alta na Libertadores e titular absoluto do técnico Roberto Mosquera, ele diz viver o melhor momento da carreira. Feliz com o reconhecimento recebido em Cochabamba, o zagueiro afirma que brasileiros não respeitam a história e que a demissão de Rogério Ceni no São Paulo foi um exemplo disso. Sua admiração pelo ex-companheiro, a relação com o irmão Luisão e a surpreendente campanha do Wilstermann também foram assuntos da entrevista exclusiva concedida ao R7.

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Altos e baixos na carreira

“Comecei na Ponte Preta, com 15 anos de idade, e depois fui para o Vitória, com 17. Lá, disputei meu primeiro Brasileirão e minha primeira Sul-Americana e chegamos na semifinal da Copa do Brasil em 2004. Depois me transferi para o São Paulo, onde ganhei vários títulos e prêmios individuais e cheguei à seleção. Em seguida, fui jogar no futebol alemão, onde fiquei por um ano e meio.

Em 2010, Alex levou 20 pontos
Em 2010, Alex levou 20 pontos Em 2010, Alex levou 20 pontos

Retornei ao São Paulo, depois Flamengo e Cruzeiro, e então as coisas começaram a não dar certo para mim na carreira. Até chegar aqui (no Jorge Wilstermann), eu ainda não tinha conseguido retomar o futebol que joguei nos grandes clubes. 

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No Cruzeiro, eu tive um contrato de seis meses, por empréstimo do Flamengo. Lá, tive a infelicidade de, no terceiro jogo, romper o ligamento do joelho. Falando a verdade, eu estava trocando a carreira profissional pelos prazeres do mundo. Acabei colocando a bebida e as festas no lugar da profissão e isso foi me afundando.

Quando me machuquei no Cruzeiro, eu já tinha largado e colocado outras coisas em primeiro plano, como a diversão, e não priorizei a minha recuperação. A gente colhe o que planta. Plantei coisas erradas e colhi na frente”.

Depois do Cruzeiro, Alex Silva enfrentou uma fase complicada. Sem espaço nos times de Série A, o zagueiro foi detido por dirigir sob efeito de álcool, em 2014, quando estava sem clube. Ele ainda passou por Boa Esporte, São Bernardo, Rio Claro, Hercílio Luz e Brasiliense, até chegar ao futebol boliviano.

Detido por dirigir embriagado

“Infelizmente, o sucesso e o dinheiro cegam o homem e a gente acaba não se atentando para as demais coisas. A gente acha que, por estar com a vida financeira boa e com a conta bancária cheia, não necessitamos de mais nada.

Em uma segunda-feira, decidi pegar meu carro e ir de Amparo para Campinas. Lá, parei em um bar e comecei a beber. Eu ia dormir em Campinas. Tomei tequila, cerveja, misturei as bebidas e, de repente, decidi voltar para Amparo dirigindo, no meio da madrugada. Meus amigos na época insistiram para que eu dormisse lá, mas eu decidi voltar. Acabei entrando no meu carro e peguei a estrada. No posto de carga, um guarda me deu sinal de luz para que eu parasse. E naquele momento, eu escutei uma voz que pediu para que eu acelerasse e não parasse. Acelerei e passei pela blitz. Eu escutava essa voz para que acelerasse mais o carro. E eu acelerava sem medo nenhum. A polícia estava atrás de mim e eu ia acelerando cada vez mais. Se não me engano, cerca de 1 quilômetro depois, escutei outra voz que dizia: “Pare o carro ou você vai capotar”. Escutando essa voz, decidi parar. A polícia chegou me empurrando e dizendo que eu tinha corrido o risco de tomar um tiro.

Alex Silva atuou no Allianz Parque, em março
Alex Silva atuou no Allianz Parque, em março Alex Silva atuou no Allianz Parque, em março

Fiz o bafômetro, constou alto [nível de álcool] e fui detido. Na delegacia, já começou a minha mudança. Comecei a pensar nos meus filhos. Eu, que aparecia nas páginas de esporte como campeão, de repente estava em matéria policial. Ali, eu cheguei ao final de tudo, porque nunca tinha me acontecido isso.

O delegado me pediu que fosse ao IML para coletar sangue e urina. Muitos podem não acreditar, mas quando entrei no IML, um lugar no qual chegam pessoas sem vida, um lugar muito forte e pesado, eu senti a voz falar comigo de novo. Ela dizia: ‘Você está entrando aqui vivo, mas era para estar morto se eu não parasse o carro naquela blitz’.

Voltei para a delegacia e paguei a fiança. Esse foi o momento em que eu decidi mudar toda a minha vida para melhor”.

Consequências do episódio

“Me atrapalhou muito. Acima de tudo, futebol é profissionalismo. Creio que muitos clubes fecharam as portas por conta disso, não apostaram mais no Alex Silva e não acreditaram na mudança. Sem dúvida nenhuma, naquela ocasião, a falta de profissionalismo me atrapalhou e me prejudicou muito.

Na janela de junho, recebi duas propostas de clubes da Série B e optei por ficar aqui. Creio que Deus agora tem começado a abrir portas”.

Saída do Brasiliense e ida para o Jorge Wilstermann

“Minha vinda para o Jorge Wilstermann foi por meio de um ex-jogador do clube, o Thiago Leitão, brasileiro que acabou me indicando para a disputa da Libertadores. O time estava em busca de um defensor experiente que já tivesse jogado a competição e ele chegou em mim e me fez o convite.

O técnico Mosquera já havia visto meu vídeo e aprovado a contratação. Conversei com o Brasiliense, disse que se tratava de uma Libertadores, algo difícil de recusar. A proposta de contrato era de um ano e no Brasiliense eu tinha contrato de apenas seis meses. Então, entramos em comum acordo e me transferi para cá”.

Diferenças entre Bolívia e Brasil

“Na Bolívia, os torcedores são apaixonados pelo clube e te valorizam. Eles têm um respeito diferente pelos jogadores de futebol. A valorização aqui na Bolívia é totalmente diferente do Brasil. Aqui, eles entendem que você não entra para perder, mas que a derrota faz parte. Eles valorizam a história e no Brasil isso não existe. Basta ver o que fizeram com o Rogério Ceni.

Com seleção olímpica, Alex Silva foi bronze em Pequim
Com seleção olímpica, Alex Silva foi bronze em Pequim Com seleção olímpica, Alex Silva foi bronze em Pequim

Fiquei seis meses aqui e por já fazer história, prolongaram meu contato por mais dois anos. Essa é a valorização. Isso você não encontra no Brasil. Brasileiro não respeita história. Estou muito feliz e minha família também.”.

Rogério Ceni

“Guardo lembranças muito boas e muitos aprendizados dele. Em todas as equipes de menor porte que joguei, pude ser capitão. E em todas as minhas passagens como capitão, procurei ser um Rogério Ceni, um cara profissional e ao mesmo tempo que motivava. Aprendi muitas coisas com o Rogério e sou grato por ter feito parte da história dele. As lembranças que ficam são essas: de um verdadeiro líder e profissional. Uma pessoa de caráter”.

Relação com o irmão Luisão

“Nossa relação é muito boa. A diferença de idade é de apenas quatro anos e passamos nossa infância juntos. Eu comecei a me interessar e me identificar de verdade com o futebol quando completei meus 15 anos. Ele já estava no profissional do Cruzeiro e eu tinha a oportunidade de ir ao Mineirão assistir aos jogos. Vi muitos clássicos entre Cruzeiro e Atlético e aquele estádio lotado e a torcida gritando confirmaram meu interesse de ser um jogador profissional de futebol.

Por ser irmão mais velho, o Luisão sempre me ajudou. Até hoje ele tem me ajudado. Creio que se, no passado, eu o tivesse escutado, talvez tivesse tido uma carreira diferente. Mas nós temos uma relação muito boa, passamos férias juntos e trocamos muitas mensagens. Eu acompanho os jogos dele em Portugal e ele sempre me acompanhou e me apoiou. Tenho ele como segundo pai”.

Campanha do Jorge Wilstermann

“Sempre acreditamos em nosso trabalho e em nosso potencial. Esse negócio de não acreditar parte mais de fora, pois nós sempre acreditamos que poderíamos fazer uma grande Libertadores. O objetivo do clube era esse. Só há uma maneira de fazer com que o futebol boliviano seja valorizado, que é fazendo uma boa campanha na Libertadores.

O momento mais marcante dessa campanha foi contra o Atlético Mineiro. Todos viram a emoção e foi algo histórico para o clube. Creio que o melhor momento da minha carreira está sendo esse, pois chegar às quartas da Libertadores pelo São Paulo, Flamengo, Grêmio, Santos ou Corinthians é uma coisa. Agora, chegar aqui por um clube boliviano é algo muito especial. Então, o melhor momento da minha carreira está sendo esse, aqui no Jorge Wilstermann”.

*Pedro Rubens Santos, estagiário do R7

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