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Os feriados, a sua origem, sua história, os seus excessos no País

Na tentativa de controlar, um mínimo que seja, a evolução da Covid-16, Estado e Prefeitura antecipam e acumulam datas. Novos recordes no Brasil.

Silvio Lancellotti|Do R7 e Sílvio Lancellotti

Mesmo na data em que atingiu o seu recorde negativo de infectados e de falecidos, o brasileiro conseguiu inventar uma piada que as chamadas “redes sociais” rapidamente se incumbiram de disseminar. Sobre a decisão do prefeito Bruno Covas e do governador João Dória que, acossados pela Covid-19, anteciparam, acumularam vários feriados ao redor do próximo domingo, alguém refez o calendário deste último terço do mês de Maio: “Para quem está com a noção do tempo perturbada, a quarta-feira 20 se tornou 11 de Junho, quinta 21 virou 20 de Novembro, a segunda 22 ficou 9 de Julho.” Não fosse o drama que o País atravessa e a anedota até ostentaria alguma graça. Ao menos serviu, de todo modo, para propor uma reflexão: por que raio de motivo o brasileiro gosta tanto, tanto, mas tanto, de um feriado?

Não há Freud que explique como e quando apareceu, por aqui, o inefável prazer de se enforcar um dia de trabalho. E me parece ainda mais grave que, na tentativa de conter o avanço devastador de uma pandemia, administradores públicos se obriguem a baixar regras para que as pessoas não saiam às ruas e diminuam os perigos de um contágio. Ora bolas, quem garante que a população não aproveitará a chance para encher os parques ou lotar as praias? Pena, pois o conceito de feriado não nasceu da intenção de se apoiar qualquer vagabundagem. Trata-se de uma idéia que surgiu na Babilônia, cerca de 4.000 anos atrás, com a função então importantíssima de demarcar uma passagem de tempo: no caso, a celebração de um Ano Novo. Pelo calendário primitivo daqueles idos, a data corresponderia ao atual 15 de Março. Então, em 153 AC, os cônsules de Roma a transferiram a 1º de Janeiro, de forma a coincidir com o começo de seus mandatos de todo-poderosos.

O feriado funcionava como o símbolo de um início mas, também, de uma ruptura. Nada a ver com festas e/ou com celebrações. O significado de folga, de euforia, apenas se implantou na Idade Média, nos entornos do Século XII, quando rebeldes da Igreja Católica, compelidos a cumprir uma quarentena antes da Páscoa, inventaram o Carnaval, a “Festa dos Loucos”, no qual se permitia tudo, o insano mergulho nos pecados antes da reclusão e da penitência. E assim aconteceu, a associação de feriado com qualquer manifestação de religiosidade até que a política rompesse aqueles já vetustos paradigmas. Consolidada a Revolução Francesa com a “Tomada da Bastilha” em 14 de Julho de 1789, os novos donos do poder oficializaram a data. Uma ruptura e um início, no caso, da chamada Idade Contemporânea.

O 14 de Julho, até hoje a Data Nacional da França, foi o primeiro, digamos, feriado civil da História. E o conceito daí se espraiou, universalmente, como um vírus. Existem, é claro, os eventos óbvios, mundiais, como o Natal de 25 de Dezembro, desfrutado, como festa familiar, inclusive por ateus e agnósticos. Mas o Brasil republicano aderiu à moda no governo de Artur Bernardes (1922-1926), com a decretação do Dia do Trabalho em 1º de Maio de 1924.

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E logo se tornaram doze aquelas situações em que não se trabalha, um exagero que Getúlio Vargas, antes até de se entronizar como ditador, cortou para seis, por Lei, em 15 de Dezembro de 1930. Não funcionou. Por aqui já são celebrações compulsórias, ao mesmo tempo, a data em que nasceu o Império, o 7 de Setembro, e a data em que o Império foi derrubado para brotar a República, 15 de Novembro. E, ironia múltipla: as três antecipações de agora se incluem no rol absurdo de 21 feriados programados para 2020. O Japão tem dez. Os EUA têm nove. E a Suécia, ah, a Suécia, tem só três.

PS: Jornalista não sabe o que é feriado. Jornalista que se especializou em Esportes e Gastronomia, como este seu escriba cá de plantão, não sabe o que é Domingo, nem se diverte à noite. Tradução: permanecerei de olho na vida que segue por aí mesmo nas jornadas que Dória & Covas metamorfosearam. Jornalista que se preza e se orgulha da profissão, todavia, se reserva alguns direitos particulares. Por isso, e aqui perpetro a minha humilde e modesta homenagem às vítimas da Covid-19, este meu texto não se enriquece com qualquer ilustração.

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