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Neste intervalo de datas Fifa, a Azzurra tenta nova reconstrução

Alijada da Copa de 2018, daí campeã, com Roberto Mancini, da Eurocopa/2021, frustrada ao buscar vaga para o Catar/2022 nas eliminatórias da Uefa, a Itália adentra o dramalhão dos playoffs

Silvio Lancellotti|Do R7 e Sílvio Lancellotti

O Mancio à frente, na celebração do título da Euro/2020
O Mancio à frente, na celebração do título da Euro/2020 O Mancio à frente, na celebração do título da Euro/2020

Uma semana sem disputas na Velha Bota. Espaço aberto às datas Fifa, mais particularmente às Eliminatórias da Copa do Catar/2022. Dotada com 13 vagas para as 32 seleções que participarão da competição, a Uefa, ou a entidade que administra o futebol na Europa, já definiu dez contendoras. As três restantes se decidirão, de 24 a 29 de março, numa série dramática de mata-matas com 12 equipes, inclusive a "Squadra Azzurra" da Itália, que precisará passar pela Macedônia do Norte para depois se digladiar com Portugal ou Turquia. Embora a campeã da Europa, na sua parte das eliminatórias a Azzurra ficou atrás da Suíça. Roberto Mancini, o seu treinador, resolveu aproveitar este interregno para um "raduno", o encontro de 35 atletas, basicamente de clubes da Bota, na bela sede de Coverciano, perto de Florença. Com mais do que boas novidades.

Mario Balotelli em pleno voo, numa convocação anterior
Mario Balotelli em pleno voo, numa convocação anterior Mario Balotelli em pleno voo, numa convocação anterior

Exceção à sua regra, Mancini, o Mancio, brincadeira com o seu sobrenome e com o fato de ser "mancino", canhoto, inesperadamente reconvocou o polêmico atacante Mario Balotelli, bem escondido no pequenino Adana Demirspor da Turquia. Paralelamente, reforçou a sua admiração por brasileiros ao chamar, pela primeira vez, Luiz Felipe, ex-Ituano, hoje um zagueiro da Lazio, 24, e João Pedro, ex-Atlético-MG, do Cagliari, 29, um dos principais artilheiros do "Nazionale", com 10 dos 22 tentos do time. Proveio da Uefa, porém, a melhor das notícias que o Mancio queria receber: a entidade conseguiu a autorização da Fifa para zerar todos os cartões amarelos acumulados nas Eliminatórias – e a Azzurra tinha dez pendurados. Além de Chiesa, que acaba de passar por uma delicada cirurgia de ligamentos no joelho esquerdo, estavam pendurados, e daí poderiam desfalcar a sua equipe na peleja crucial: os centrais Chiellini e Rafael Toloi; o ala Pellegrini; o volante Tonali; os meias Barella, Bernardeschi, Lorenzo Insigne e Pessina; sem falar em Gianluigi Donnarumma, o arqueiro que salvou a Itália nas loterias dos penais da Eurocopa. “Um magnífico regalo atrasado de Natal”, comentou o Mancio, obviamente feliz com a súbita liberação.

Mancini & Vialli, os "Gêmeos-Gol" da Sampdoria, reunidos na seleção
Mancini & Vialli, os "Gêmeos-Gol" da Sampdoria, reunidos na seleção Mancini & Vialli, os "Gêmeos-Gol" da Sampdoria, reunidos na seleção

Também impactou o treinador, positivamente, a volta, à sua comissão técnica, de Daniele De Rossi, um campeão do mundo pela Itália na Copa da Alemanha/2006, solerte meio-campista, 117 partidas e 21 tentos com a Azzurra. Claro que o Mancio dispõe de diversos assessores muito experientes e essencialmente leais ao seu redor. Chefia a delegação ninguém menos que Gianluca Vialli, o seu “Gêmeo-Gol” nos idos da Sampdoria de Gênova. E Lele Oriali, volante campeão na Espanha/82, funciona como o “team manager”, o solucionador de enroscos. No apoio tático, o Mancio alinha Alberigo Evani (Milan) e outros dois da Samp, Attilio Lombardo e Fausto Salsano. “Mas o Dani”, ele explica, “se provou indispensável na união de um elenco esfacelado pela desgraça da nossa ausência na Copa da Rússia, em 2018.” Em agosto de 2021, para fazer um curso que lhe assegurasse a licença de treinador, De Rossi se afastou da CT do Mancio. Revela: “Então, eu tive azar e tive sorte. O infortúnio de não me diplomar, pois a Covid-19 atrasou todos os procedimentos. E daí a beleza, a felicidade de encontrar o meu posto ainda intacto, no meu aguardo”.

De Rossi e o lesionado Spinazzola, na comemoração de Wembley/2021
De Rossi e o lesionado Spinazzola, na comemoração de Wembley/2021 De Rossi e o lesionado Spinazzola, na comemoração de Wembley/2021

Um agregador. Com essa palavra, o Mancio sintetiza toda a importância de De Rossi na delegação. “É um maluco, bem, um maluco saudável, que nos faz gargalhar quando precisamos de um simples riso. E um tipo bem especial; ele nos emociona quando mais precisamos nos comover.” O treinador recorda dois episódios acontecidos na Euro. Um debate no vestiário quando alguém insistiu no tema de uma eventual disputa de penais, quem cobraria e em que ordem. Para a perplexidade geral, De Rossi se atirou ao chão e, quando se levantou, tinha uma bola nas mãos. Pontificou: “O importante é pegar os penais. Temos que estudar os batedores”. Na semifinal, a Espanha detonou duas de quatro chances. Na final, três de cinco, a anfitriã Inglaterra, em Wembley. Donnarumma levou o prêmio de melhor da competição. O outro dos episódios nasceu nas celebrações do título. Enquanto todos os jogadores e os integrantes da CT, mais os cartolas e os agregados, se divertiam no gramado, o lesionado ala Leo Spinazzola, que havia dilacerado o calcanhar nas quartas contra a Bélgica, literalmente jazia num recanto do gramado. De Rossi não titubeou: colocou Spinazzola nas costas e lhe deu o glorioso prazer da volta olímpica.

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O Mancio e Jorginho
O Mancio e Jorginho O Mancio e Jorginho

Poucas pessoas sabem que Mancini tem a sensibilidade de um artista. E não se trata de uma metáfora capaz de descrever, poeticamente, o seu estilo dentro de campo, um craque que, na Itália, ganha o apelido de “fantasista”. A imagem também não se refere à elegante eficiência com que ele montou uma Azzurra repleta de jovens e de talentos capazes de resgatar o ânimo e o prestígio de um Calcio desmoralizado pelo maior fracasso desde a sua não qualificação para a Copa da Suécia/58. Vialli, o seu companheiro de ofensiva na antológica Sampdoria que, em 1990/1991, abiscoitou o único “Scudetto” de toda a sua história, também seu parceiro de baralho na solidão das concentrações de antigamente, lembra que, nas horas vagas, o Mancio adorava desenhar. Muitas vezes foi ele quem concebeu as camisas secundárias da Samp, assim como os uniformes de viagem, combinações de ternos, camisas e gravatas, inclusive. Haverá o projeto de alguma tática-surpresa contra a Macedônia do Norte e, depois, provavelmente, contra Portugal? O Mancio não hesita e retruca, sem ironizar: “Caso exista, o Bobi descobrirá no dia”. Bobi é o apelido de Blagoje Milevski, o treinador da inimiga. “E eu só pensarei no segundo adversário depois de superar o primeiro.” E se tudo der certo? Então, ele se dispõe a uma brincadeira, e uma provocação: “Sonho em ganhar do Brasil, na decisão da Copa. 1 X 0. Jorginho”.

N.R.: Para quem não sabe, Jorginho, ou Jorge Luiz Frello Filho, é um volante, catarinense de Imbituba, com dupla nacionalidade, titularíssimo da Azzurra do Mancio, e indiretamente responsável por a Itália ter caído nestes playoffs, ao desperdiçar um pênalti contra a Suíça, num jogo em que, terminasse vencedora, garantiria antecipadamente a sua qualificação.

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