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Injusto em Tóquio/2020, um dia sem nenhum ouro para o Brasil

Poderia ter acontecido nos 400m do Atletismo, com Thalita Simplício, deficiente de visão, prejudicada por uma irregularidade do guia da rival que a bateu. Prata. E cinco medalhas de bronze.

Silvio Lancellotti|Do R7 e Sílvio Lancellotti

Thalita e seu guia, Felipe Veloso
Thalita e seu guia, Felipe Veloso Thalita e seu guia, Felipe Veloso

Com apenas quatro dos seus 36 atletas na píscina, e ainda assim necessitados a superar eliminatórias, a Natação do Brasil viveria uma primeira metade de sábado tristemente desenxabida neste dia 28 de Agosto, Jogos Paralímpicos de Tóquio. Assim, caberia ao Atletismo, seu parceiro na conquista de medalhas, 269, quase 85% do total das 318 que o País havia abiscoitado até tal data, batalhar sozinho pelo ampliação do seu butim. Antes do sábado, a Natação do Brasil somava 121 (34 de ouro, 36 de prata, 41 de bronze). Enquanto que, na liderança destacada da contagem, o Atletismo já tinha 148 (36-34-38).

Julyana Cristina, a Juju
Julyana Cristina, a Juju Julyana Cristina, a Juju

Duas mulheres, duas cariocas do Arremesso do Disco na categoria F57, duas atletas com dificuldades locomotoras, inauguraram a batalha na busca do pódio. Tuany Barbosa Siqueira, de 28 anos, aos 21, quando era competidora no Judô, rompeu os ligamentos do seu joelho direito e se obrigou a uma cirurgia, infelizmente mal sucedida, e perdeu a sensibilidade da canela e do pé. Julyana Cristina da Silva, a Juju, 25, nasceu com uma malformação na sua perna direita, infelizmente amputada depois de tentativas de reparação. O primado pessoal de Tuany não favorecia as esperanças, 22m56. Fez 21m30 e se limitou a um mero penúltimo lugar entre 12 mulheres. Os 30m81 alcançados pela argelina Nassima Saifi, que se exibiu antes, eram até acessíveis, em função dos 30m50 não oficiais que Juju já atingira em treinamentos. Mas ela parou em 30m49, novo recorde sul-americano.Tudo bem, medalha de prata, duas atletas a se apresentarem, ainda. E a ucraniana Mokhigul Khandamova cravou 31m66, a Juju no bronze. Faltava a nigeriana Grace Nwaozuzu, de índice assustador, 33m77. Nwaozuzu, porém, empacou nos 29m26 e a brasileira, enfórica, se consolidou na terceira posição. O oitavo bronze do País.

Thalita e Veloso
Thalita e Veloso Thalita e Veloso

Thalita Simplício da Silva, uma velocista de 24 de idade, potiguar de Natal, participou dos 400m na categoria T11, de deficientes de visão. Um problema congênito, quando tinha 12 anos, a tornou praticamente cega. Por isso corre com o auxílio de um guia que a conduz, sem ultrapassá-la, graças a uma fita atada aos punhos de ambos. Em seu caso, Felipe Veloso da Silva. Na etapa qualificatória, com 57”90, Thalita anotou o melhor tempo. Precisaria, porém, se resgardar da chinesa Liu Cuiqing, capaz de 56”00. E foi empolgante a disputa, Thalita e Cuiqing nas raias do centro, Veloso e Xu Donglin, o guia da chinesa, atentos um ao outro. Na entrada da última reta Cuiqing/Donglin tentaram disparar e, nos 30m derradeiros, pareceu que os brasileiros conseguiriam a ultrapassagem. Faltou pouco. Thalita fechou a prova em 56”80, o seu recorde pessoal. Só que os 56”25 de Cuiquing representaram um novo primado. Pena que a fiscalização não tenha punido Donglin, que claramente puxou Cuiqing de modo a fazê-la vencer. Quinta prata do Brasil em Tóquio.

Bruna e seu treinador, no dia 30 a decisão do ouro
Bruna e seu treinador, no dia 30 a decisão do ouro Bruna e seu treinador, no dia 30 a decisão do ouro

Noite aqui, manhã lá no Japão. E vice-versa. No intervalo oriental entre a manhã e a noite do Atletismo, houve duas semi-finais no Tênis de Mesa. Catia Cristina Oliveira, 30 anos, de Cerqueira César/SP, cadeirante por causa de um acidente de carro em 2007, enfrentou a sul-coreana Su Yeon Seo já com o bronze garantido. No seu esporte não existe a luta pelo terceiro lugar, assegurado a ambos os derrotados nas semis. Foi o que lhe coube na derrota por 3 X 1 (os parciais de 11-7, 8-11, 5-11 e 9-11). Em outra categoria, Bruna Alexandre, catarinense de Criciúma, 26 anos, o braço direito amputado aos seis meses por causa de uma trombose, se debateu com Tien Shiao-wen, uma chinesa de Taipei. Saiu atrás, 12-14 no set inicial. Porém, virou o jogo, 3 X 1, os parciais de 11-6, 12-10 e 11-7. Bronze no Rio, Bruna, agora, vai batalhar pelo ouro, no dia 30, contra a australiana Qian Yang.

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Lucia Araujo, bronze no Judô
Lucia Araujo, bronze no Judô Lucia Araujo, bronze no Judô

No Judô, ainda a zero no evento de Tóquio/2020, Lucia Araujo, uma paulistana de 40 anos de idade, ganhadora da prata em Londres/2012 e no Rio/2016, amealharia um um bronze numa luta contra uma adversária bem mais jovem, a russa Natalie Ovchinnikova, de 27, a vice da Europa no seu peso. Deficiente de visão desde nascer, conseqüência de uma toxoplasmose congênita, Natalie havia perdido a sua semifinal apenas aos 9” do desfecho, um ippon aplicado pela uzebeque Parvina Samandarova, que acabaria na segunda colocação. Diante da russa, não se desconcentrou um só instante. Dominou inteiramente o seu combate e, aos 2’33” dos quatro minutos regulamentares, obteve um waza-ari fatal. Curiosidade: Lucia é a esposa de Helder Maciel Araujo, um ex-parajudoca, hoje um dirigente no seu esporte, com quem tem uma filhota linda, Ana Clara, de cinco aninhos.

Cícero Nobre
Cícero Nobre Cícero Nobre

O sol nascente já tinha se despedido no poente quando se iniciou a prova do Lançamento do Dardo, categoria F57, para deficientes físicos. Com deformações congênitas em ambos os pés, Cícero Nobre, 27 de idade, paraibano de João Pessoa/PB, entrou na contenda cotadíssimo a escalar o pódio. Desde 14 de Novembro de 2019, afinal, era dele o recorde do planeta, 49”26. E dos seus onze adversários apenas o iraniano Amanolah Papi, de 31 anos, acometido de poliomielite na infância, razoavelmente se aproximava da sua marca, 48m60 em 2018. De fato, com 48m93, seu primado na temporada, Cícero liderou até que o iraniano obtivesse magistrais 49m65. Daí, já parecia com a prata assegurada quando o azerbaijão Hamed Heidari, cuja melhor marca não passava de 43m77, impactou com um lançamento de 51m42, recorde mundial. Papi ficou com a prata e Cícero com o bronze.

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Phelipe Andrews Rodrigues
Phelipe Andrews Rodrigues Phelipe Andrews Rodrigues

E a segunda metade do sábado na Natação? Dos quatro que disputaram as eliminatórias, apenas Phelipe Andrews Rodrigues, já ganhador do bronze nos 50m Livre da categoria S10, chegou à sua final com alguma chance. Um recifense de 31 anos, ele nasceu com uma anomalia no pé esquerdo, a qual o sacrifício de várias cirurgias sucessivas não solucionou. Adotou a Natação como saída fisioterápica e se tornou um astro. Compete desde Pequim/2008 e uma reclassificação rigorosíssima quase o retirou do Parapan de Lima/2019. Mas, ganhou todos os recursos e então, no Peru, somou sete medalhas de ouro e, ainda, um pódio de bronze. Agora, nos 100m, precisaria do máximo empenho para melhorar seu tempo, apenas o quinto nas eliminatórias, 53”44, e arrematar um segundo pódio no Japão. Conseguiu melhorar, e bastante, 52”04. Desafortunadamente, todavia, de seus adversários na contenda, três ainda ficariam à sua frente e o recifense fechou no quarto posto. Mas terá mais uma oportunidade de subir ao pódio nos 100m Borboleta do dia 31.

Gabriel Bandeira, Ana Karolina, Débora Carneiro e Felipe Vila Real
Gabriel Bandeira, Ana Karolina, Débora Carneiro e Felipe Vila Real Gabriel Bandeira, Ana Karolina, Débora Carneiro e Felipe Vila Real

Houve também uma derradeira chance de medalha numa prova que não necessitara de eliminatórias, aquela dos 4 X 100 Livre, revezamento misto, para dois rapazes e duas garotas, a S14 dos deficientes intelectuais. O ganhador do primeiro ouro do País em Tóquio, nos 100m Borboleta, o paulista de Indaiatuba Gabriel Bandeira, 21 anos, fechou na frente a fase inicial da prova com 51”11. A segunda a nadar, a paulistana Ana Karolina Soares de Oliveira, 21, apesar do ótimo tempo de 1’01”88, entregou a disputa na quarta colocação. Com Débora Carneiro, 23, paranaense de Maringá, 1’03”49,o Brasil caiu para quinto. Enfim, o mais velho do time. Felipe Vila Real, o paulista de Santa Rita do Passa Quatro, 24, com 54”75, fechou em quarto. Só que o elenco do Comitê Russo foi desclassificado por causa de uma irregularidade de passagem e a Natação do Brasil herdou o bronze e não saiu sem prêmio da piscina. O quinto bronze de um sábado infelizmente sem ouro.

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