O Eduardo, meu pai e seu avô, e o Gigio, meu irmão e seu pai, não puderam saborear o privilégio e o orgulho que o delicioso talento literário de Mariana Lancellotti , sim, minha sobrinha, cada vez mais me transmite. Ora, direis, o Sílvio começou a ouvir as estrelas do nepotismo. Nada disso, minha leitora. Nada disso, meu leitor. Eu cometeria uma injustiça infame se não elogiasse “Sobre Amor, Morte e Moscas”, o segundo livro da Mari, agora poemas que me impactaram – eu que estou prestes a completar meio século de jornalismo.
Paulistana de 38 anos, diplomada em Relações Públicas e pós-graduada em Sócio-Psicologia, ela pouco se lembra do Gigio e do Eduardo, que subiram aos Céus em 1984 e em 1986. Ambos, certamente, como eu, parafraseariam a brilhante factótum Nora Ephron (1941-2012), que disse mais ou menos o seguinte: “O progenitor bem-sucedido é aquele cujo filho ou cuja filha se torna capaz de pagar a sua própria terapia.” Ou, aquele que supera os ancestrais ao procurar um ofício assemelhado. Entre volumes sobre Gastronomia, Esportes, novelas policiais, um romance finalista do Prêmio São Paulo, assinei mais de vinte títulos. Mas, nunca, um único de poemas.
“Sobre Amor...” (Editora Algaroba) é curto, compacto, 110 páginas entre os versos e as lindas ilustrações de Isabella Rudge. A autora define, na sua auto-apresentação, como viu “Lorena”, o seu trabalho anterior, de 2016: “Tentei que fosse um romance, mas Lorena queria mostrar seu passado em contos. Respeitei.” Daí, optou por “prosas cada vez mais curtas, que coubessem em um post de Instagram”. Pois o resultado, na sua condensação preciosamente burilada, se revela envolvente, provocador. Exemplo: “Verbete – substantivo masculino e abstrato, enigmático, sintético, luz inconsciente, vapor intocável, estava aqui agora mesmo, já foi.” E mais um outro: “Darkest night – seu cinismo, minha cegueira, minha teimosia, sua ilusão, moram na mesma cidade, chamada São Solidão.”
Claro, conheci perfeitamente bem meu pai e meu irmão. E imagino precisamente o que diriam. O Eduardo: “Com as suas palavras, a minha neta entoa uma ária digna de ‘La Bohème’”. O Gigio: “Ah, como eu gostaria, hoje, de me ajoelhar no carpete, deixar que minha filha subisse nas minhas costas, e brincar com ela, de cavalinho...” É, o avô, o pai e o tio geralmente não percebem que o rebento cresceu e se transformou, de fato, em um buquê maravilhoso...
Gostou? Clique em “Compartilhar”, em “Tuitar”, ou registre a sua importante opinião em “Comentários”. Muito obrigado. E um grande abraço!