Vexame anunciado. Figueirense não apareceu. Só o Cuiabá em campo
Reprodução/Twitter @CuiabaECSão Paulo, Brasil
Em outubro de 2015 já eram fortes as movimentações em Brasília. Estava sendo articulado o impeachment da presidenta Dilma Rousseff.
Ela precisava de medidas que aumentassem a sua popularidade, aumentasse sua base eleitoral, na tentativa de sobreviver no poder.
E tratou de, demagogicamente, agradar os clubes de futebol.
Com dinheiro público, claro.
Dividiu a dívida de R$ 4 bilhões que dirigentes irresponsáveis, incompetentes e, alguns, corruptos fizeram com o governo.
A prática de não pagar dívidas trabalhistas e impostos virou corriqueira. Muitos não tinham a menor condição de pagar e, se os clubes fossem cobrados com seriedade, teriam falido, fechado as portas, como muitas empresas fizeram e ainda fazem.
Mas cada torcedor é um eleitor.
E Dilma apoiou o Profut. Deu aos maus pagadores nada menos do que 20 anos para dividir seus débitos. Com o país vivendo um caos, os clubes foram privilegiados.
O Brasil deixou de arrecadar R$ 4 bilhões em 2015. Esse dinheiro chegaria aos cofres públicos só em 2035.
Os ingênuos comemoraram. Porque o governo iria exigir o Fair Play financeiro. A principal exigência, imposta pelo falecido movimento Bom Senso, seria o rebaixamento de equipes que não pagassem em dia seus salários.
E os clubes teriam o mesmo poder que as Federações nas eleições da CBF.
Só se enganou quem quis.
A medida populista de Dilma não a conservou na presidência.
A CBF deu um golpe na calada da noite e multiplicou por três o poder de votos das Federações.
Os clubes voltaram a dever impostos e acumulam dívidas trabalhistas. Mesmo depois do perdão dos R$ 4 bilhões, a dívida atual com a União chega a R$ 1,9 bilhão.
E o STJ considerou inconstitucional o rebaixamento dos clubes por falta de pagamentos de salários.
Esta é a explicação do vexame do Figueirense, que sofreu uma desmoralizante derrota por W.O. As duas letras significam no mundo todo walkover, ou seja, vitória fácil, sem a presença do adversário.
O tradicional clube de Santa Catarina nunca havia passado por um vexame tão grande, nos 98 anos de história.
Seus jogadores se recusaram, por falta de pagamento, a entrarem em campo contra o Cuiabá, pela Segunda Divisão.
Eles viajaram até o local da partida.
Exigiram, por escrito, a promessa do presidente Cláudio Honigman. Se os salários não fossem pagos até o dia 28, ele renunciaria.
O dirigente que havia prometido pagar a todos, se recusou a assinar o documento.
E os atletas cumpriram sua promessa.
Não houve jogo, o time perdeu por WO. A lei prevê derrota por três gols de diferença. E ainda pode haver punição administrativa.
Assinantes do canal Premiere, pay-per-view da Globo, foram prejudicados. Torcedores compraram ingressos. Todos podem processar a CBF, organizadora do campeonato da Segunda Divisão.
A situação dos atletas é lastimável. O direito de imagem não é pago desde maio, há três meses, portanto. O salário em carteiro não chega desde junho. O clube também não está pagando o Fundo de Garantia dos jogadores. Há casos como o ex-goleiro do São Paulo, Denis, que a dívida chega a um ano. Por isso ele tenta se livrar do clube na justiça.
Desde 2017, a empresa Elephant assumiu o futebol do clube. E tem sido um desastre. O pior momento foi ontem em Cuiabá.
Os atletas já haviam prometido que não jogariam desde a semana passada, quando passaram a não treinar, depois da derrota para a Ponte Preta.
Só ingênuos acreditaram no Profut. Medida populista, sem efeito prático
DivulgaçãoOs jogadores do sub-20 aderiram à greve.
Advogadodos atletas diz que muitos estão com ameaças de despejo por não pagarem aluguel. E outros podem ser presos por não pagarem pensão alimentícia de ex-esposas.
"Todos estão estão em sérias dificuldades financeiras", diz Felipe Rino. "E o clube não quis dialogar", enfatiza.
A CBF já convocou o presidente do Figueirense para uma reunião no Rio de Janeiro. Quer a solução do caso.
Porque se o clube desistir da Série B seria um caos para o torneio.
A entidade poderia ter de enfrentar milharess de processos de assinantes de pay-per-view.
É até possível que a CBF empreste dinheiro ao Figueirense, já que os bancos estão se negando diante da grave situação financeira do clube.
As dívidas passariam dos R$ 120 milhões.
E travariam o clube.
A situação precisa ser resolvida.
O Figueirense, lógico, faz parte dos clubes que aderiram ao Profut em 2015.
Teve suas dívidas parceladas com o governo em 20 anos.
E voltou a atrasar salários com os atletas.
Mas segue protegido pela lei.
Virada na calada da noite garantiu a eleição de Caboclo. Profut desmoralizado
CBFNem o WO de ontem terá maiores consequências.
Os dirigentes prometem uma providência.
Descobrir e demitir os líderes do WO.
Assim caminha o futebol deste país de ingênuos...
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