Do lado de dentro do Ariake Urban Sports Park, duas pistas de altíssimo nível técnico, construídas especialmente para Tóquio 2020. Do lado de fora, placas proibindo a prática do skate. Depois das três medalhas conquistadas no street, sendo duas de ouro e uma de bronze, os atletas japoneses sonham com o fim da marginalização do esporte.
O olhar do skatista, principalmente os da disciplina street, que andam em pistas que imitam o mobiliário urbano, enxergam em qualquer corrimão um obstáculo para deslizar a prancha sobre os degraus da escada. Bonito de ser ver, mas que pouco agrada uma cultura ainda muito fechada e respeitosa.
Pular obstáculos para chegar na calçada é quase sinônimo de depredação de uma cidade que sequer tem lixeiras espalhadas pelas ruas extremamente limpas. Educadamente, todos carregam o seu lixo para as suas casas e lá descartam. É cultural. O barulho das rodinhas, então, esse é inimigo mortal para um povo que é acostumado a falar baixo nos lugares públicos.
Exatamente por isso, a prática do skate em Tóquio é mais reservada aos parques. Diferentemente de grande parte do Brasil, por exemplo, onde aí há falta de lugares para a diversão, a capital japonesa tem seus lugares específicos. O próprio campeão Yuto Horigome, que derrotou Kelvin Hoefler na final, conheço o esporte em um desses locais. No Matsugawa Park, inclusive, o capacete, um dos adereços dispensados pelos atletas olímpicos, é obrigatório.
“A cena do skate agora será levada para várias pessoas. Gostaria de dizer o quão divertido é o skate e quão profunda é a sua cultura”, disse Yuto, de 22 anos, com a medalha de ouro no peito.
Um tanto mais discreta, algo que também é típico dos jovens japoneses, muitos receosos em emitir uma opinião aos mais velhos, a campeã olímpica Momiji Noshiya, que bateu Rayssa Leal, disse que os japoneses são muito bons no skate e podem conquistar ainda mais medalhas.
“Esperamos ver muitos outros parques para andar de skate no Japão. Gostaria de ter um bom treino e com mais frequência”, disse a atleta, de 13 anos.
Em bom português, Rayssa já havia manifestado a sua opinião contra a marginalização, mas, sobretudo, contra o preconceito contra mulheres no skate. Para a menina de também 13 anos, a medalha ainda pode representar muita coisa no país.
Depois das medalhas com Yuto, Momiji e também Funa Nakayama no street de Tóquio 2020, o Japão espera por mais medalhas agora na disciplina park, que imita uma piscina vazia, com as bordas arredondadas para as manobras. Misugu Okamoto e Sakura Yosozumi são as duas primeiras do ranking da competição que começa no dia 4.
O Ariake Urban Sports Park ficará de legado olímpico para a população japonesa. A estrutura das arquibancadas será desmontada, mas as pistas permanecerão para a prática do esporte e esperança de berço de novas medalhas. Nas ruas, a tendência é que placar contra o skate permaneçam.