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'Já ganhei R$ 1.200 jogando futebol em um fim de semana na várzea'

Cada vez mais organizado, futebol de várzea se torna ganha-pão para muitos jogadores, que, em média, recebem mais que atletas profissionais

Futebol|Cesar Sacheto e Guilherme Padin, do R7

Marcinho (à dir.) conta como conseguiu jogar 6 partidas e ganhar R$ 1.200
Marcinho (à dir.) conta como conseguiu jogar 6 partidas e ganhar R$ 1.200 Marcinho (à dir.) conta como conseguiu jogar 6 partidas e ganhar R$ 1.200

Se a elite do futebol profissional é de difícil acesso aos muitos brasileiros que sonham com salários astronômicos e melhores condições, há outro universo onde se pode ganhar a vida com a bola nos pés: a várzea.

Em uma era de profissionalização, as competições amadoras em São Paulo movimentam cada vez mais dinheiro e criaram uma realidade inimaginável às gerações mais antigas: hoje em dia, o futebol varzeano é rentável para seus atletas.

A reportagem do R7 coletou depoimentos e informações de jogadores, diretores de times e outros profissionais ligados à várzea para saber se, de fato, é possível viver somente do futebol amador.

Veja também: Várzea? ‘Liga’ do futebol amador desembolsa R$ 1,5 milhão em 2018

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“Na minha época, muitas vezes eu pagava para jogar. Hoje tem muitos [atletas] que vivem só da várzea. Acho que joguei na época errada”, brinca Eduardo Lima. Ele jogou 14 anos na várzea e hoje cobre as principais copas do futebol amador em seu blog Futebol da Quebrada.

Lima conta que, atualmente, a rotatividade entre jogadores pelas equipes da Grande SP é comum. São raros os atletas que defendem apenas uma camisa, como acontecia em outras décadas no futebol de várzea. 

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Marcio Pinho, ou Marcinho, campeão da edição de 2018 da Copa da Paz, uma das mais tradicionais competições da várzea paulista, pelo Pioneer FC, afirma que viver com os ganhos da várzea é uma realidade nos dias atuais. 

Marcinho ajudou Pioneer a faturar título
Marcinho ajudou Pioneer a faturar título Marcinho ajudou Pioneer a faturar título

“Prefiro ter um emprego fixo para me garantir, mas é possível [viver da várzea], sim. Eu mesmo conheço vários atletas que vivem só de jogar na várzea”, diz Marcinho, que relembra de um fim de semana lucrativo de sua carreira no esporte amador: “Já cheguei a tirar R$ 1.200 em um fim de semana. Foram três jogos no sábado e outros três no domingo”. O habilidoso meia diz ainda que “a média [por fim de semana] é de R$ 600, mas é possível fazer mais [dinheiro]”.

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Para conseguir passar bem por sequências de muitos jogos em curtos períodos de tempo, o canhoto Marcinho conta que, quando joga várias vezes em um mesmo fim de semana, dificilmente atua durante todo o tempo das partidas — na várzea, jogos geralmente têm 70 minutos de duração.

“Os times sabem quando jogo mais de uma vez por fim de semana, e então os técnicos não me usam durante todo o jogo”, diz o jogador de 30 anos.

Vice-campeão da Copa da Paz pelo Renegados B, Jonathan Oliveira conta que há fins de semana em que faz até quatro jogos. “Como dá para conseguir até R$ 400 por jogo, dá para viver, sim”, comenta.

Oliveira, porém, faz uma ressalva: “Vai do seu futebol, né? Se você joga bem, você joga muitas vezes. Eu, por exemplo, jogo aqui e em outros times, então consigo viver da várzea. Muitos dos meus colegas também”.

Saiba mais sobre o futebol de várzea em São Paulo

Denis Marcelino é mais um entre os jogadores que vivem da várzea.

Desempregado no momento, o meia conta apenas com os rendimentos que consegue no futebol amador. 

Aos 31 anos, Denis vive dos ganhos da várzea
Aos 31 anos, Denis vive dos ganhos da várzea Aos 31 anos, Denis vive dos ganhos da várzea

Ele, que vive com a mãe e o irmão, relata que recebe de R$ 1.800 a R$ 2.000 por mês.

“Com o que ganho, eu consigo pagar minha faculdade de Educação Física, onde tenho 50% de desconto, e ainda ajudar nas contas de casa”, diz o jogador de 31 anos.

Jogadores de várzea ganham mais que a maioria dos profissionais

Em fevereiro de 2016, a CBF (Confederação Brasileira de Futebol) divulgou um levantamento sobre o salário dos mais de 28 mil atletas profissionais que atuaram no Brasil no ano anterior. 

De acordo com a pesquisa da entidade, 82,4% dos jogadores recebiam um salário igual ou menor que R$ 1.000. Outros 13,68% tinham ganhos de R$ 1.000 a R$ 5.000. Apenas uma parcela inferior a 4% dos 28.203 atletas registrados profissionalmente tinha salários maiores que R$ 5.000. 

Considerando que um jogador no futebol amador faça três jogos por fim de semana e receba R$ 200 por partida — médias informadas pelos próprios atletas e diretores à reportagem —, ele ganharia R$ 2.400 por mês.

Levando em conta o levantamento da CBF, isto significa que, em termos gerais, jogadores da várzea ganham melhor que mais de 80% dos atletas profissionais no país.

Responsável pela tradicional equipe Nove de Julho e também pela Copa Nove de Julho, Carlinhos "Brasa" comenta sobre as mudanças no futebol amador e profissional ao longo do tempo.

“Antes, o jogador queria ir da várzea para o [futebol] profissional. Hoje, tem muitos que acabam vindo do profissional pra cá”, diz ele. “Por quê? Porque paga melhor.”

Ex-seleção brasileira, Kleber é destaque na várzea

Kleber jogou na seleção sub-19 com Oscar e Juan Jesus, companheiros de Inter
Kleber jogou na seleção sub-19 com Oscar e Juan Jesus, companheiros de Inter Kleber jogou na seleção sub-19 com Oscar e Juan Jesus, companheiros de Inter

Atualmente, a várzea conta com muitos jogadores que já passaram por equipes profissionais. Destaca-se, entre tantos, o exemplo de Kleber.

O lateral-direito já defendeu as seleções brasileiras de base e jogou com nomes reconhecidos mundialmente.

Hoje, assim como muitos colegas de profissão, o defensor também vive da várzea.

Kleber, em ação pela seleção brasileira
Kleber, em ação pela seleção brasileira Kleber, em ação pela seleção brasileira

“É uma coisa que ajuda. E muito. Quando você fica sem clube [no profissional] e fecha com muitos times [na várzea], ajuda muito. São boas as premiações. Alguns pagam na hora ou depositam na conta”, conta ele.

“Ano passado, sobrevivi assim (jogando na várzea). Agora, que estou desempregado — depois de jogar o Paulista (Série A3) pelo Desportivo Brasil —, também estou me mantendo na várzea”, diz o lateral, que atuava pelo Internacional quando jogou pelas categorias de base da seleção brasileira.

Para Kleber, a várzea “não te deixa mais rico, mas não te deixa passando fome. Ajuda sempre. Quando quero sair, comprar algo, é algo que eu posso fazer. A várzea está evoluindo muito. Tem muito jogador que está largando o profissional e vai para a várzea”.

Sobre o período na seleção brasileira, ele se recorda com orgulho. “Foi uma experiência e tanto. A gente é da periferia, e quando vai para time grande, não imagina vestir a amarelinha e defender o Brasil. Foi muito legal, conheci jogadores talentosos, que hoje em dia estão ganhando o mundo”, relembra.

Hoje, Kleber faz sucesso nos campos do futebol de várzea
Hoje, Kleber faz sucesso nos campos do futebol de várzea Hoje, Kleber faz sucesso nos campos do futebol de várzea

Entre os colegas de seleção estiveram Oscar (ex-Chelsea), Juan Jesus (Roma), Alan Patrick (ex-Santos), Fernando (ex-Grêmio), Dodô (Santos).

“Foram muitos jogadores talentosos que hoje estão conquistando o mundo. Foi surreal [jogar na seleção brasileira]”, diz ele.

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