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O ano de 2020 tinha tudo para ser histórico na vida de Alexandre Galgani. O atirador esportivo foi o primeiro atleta brasileiro a garantir vaga na Paralimpíada de Tóquio e brigaria por medalhas em três provas
Reprodução/Instagram @alexandre_galgani
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Porém, ele – e nem ninguém -, esperava que o mundo passasse pela pandemia de coronavírus, que causou milhares de infectados, outros tantos mortos e mudou todo o calendário esportivo, causando, entre outras coisas, o adiamento dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos para 2021
Washington Alves/EXEMPLUS/CPB
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Para Alexandre, a mudança, apesar de necessária, acabou atrapalhando seus planos, já que ele se preparava para atingir o seu auge no segundo semestre de 2020, quando aconteceriam os Jogos
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“Se fosse só a mudança de data, ainda tudo bem, mas cancelou tudo. Está sendo um ano perdido. Eu montei uma programação para chegar ao meu auge na Olimpíada. Eu tenho acompanhamento psicológico para me preparar e tive que mudar tudo. Eu tinha metas e estava alcançando. Quando chegou a notícia do adiamento, deu uma desanimada“, lamentou
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O atleta, bastante focado em sua carreira, até mesmo construiu um estande de tiro em sua casa, em uma chácara no interior de São Paulo, e consegue continuar se preparando graças ao apoio da CBC (Companhia brasileira de cartuchos) e da Taurus. Mas admite que esse tipo de treinamento não é o ideal
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“Eu montei o estande pra facilitar por causa da dificuldade que eu tenho de me locomover, mas eu gosto de treinar em vários locais diferentes, já que nas competições sempre existem condições adversas. Eu costumava ir duas vezes por semana para Campinas. E de vez em quando para o Rio de Janeiro, onde treina a seleção“
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A alteração de planos, porém, não vai desanimá-lo, já que ele, atualmente com 37 anos, já passou por mudanças drásticas em sua vida
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Nascido em 25 de abril de 1983, em Sumaré, no interior de São Paulo, Alexandre sempre teve o esporte em sua vida. Porém, na juventude, ele sonhava mesmo era em jogar basquete, e atuava profissionalmente no time da cidade
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Até o dia 16 de março de 2002, quando sofreu um acidente que mudou totalmente seus planos: “Minha família tem uma chácara. Eu estava em um churrasco e lá tem uma cascatinha na piscina. Eu pulei lá de cima, meu pai viu e me deu uma bronca. Eu falei: ‘Tá bom! Nunca mais pulo lá de cima’. Aí, eu pulei da beirada, bati a cabeça no fundo e lesionei a coluna”, recorda
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O Alexandre Galgani que mergulhou naquela piscina era um. E o que saiu socorrido pelos familiares e amigos era outro. Em segundos, sua vida sofreu uma reviravolta sem precedentes. Ali, uma nova trajetória passou a ser percorrida pelo paulista
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Se antes ele sonhava em brilhar no basquete, a partir daquele dia, voltar a ter domínio sobre o próprio corpo passou a ser seu objetivo de vida
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“Na hora em que eu bati a cabeça, perdi todos os movimentos. Eu sabia o que tinha acontecido. Não sei como, eu subi de costas para superfície, porque estava me afogando. Nessa hora, um amigo, que estava de fora me olhando, viu meu desespero, pulou e me segurou dentro d'água. Como eu já sabia o que tinha acontecido, eu falei: ‘chama todo mundo e me tira em bloco, imobilizado’”
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“Eu só mexia os olhos. Não perdi a consciência em momento algum depois do acidente. Não desmaiei, não aconteceu nada. Nem com galo na cabeça eu fiquei. Só sentia dor de cabeça, o corpo inteiro formigava e eu não tinha mais nenhum movimento”
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Depois de passar por algumas cirurgias, seu corpo reagiu. “Quando eu bati a cabeça, o choque prensou as vértebras. Uma delas foi jogada para fora. E isso estava pressionando a medula. Com isso, parou de pressionar. Depois de uns três meses, começou a voltar um pouquinho o movimento do braço”
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Alexandre reconquistou o movimento dos braços, formou-se em Direito e continuou focado em sua recuperação. Em 2013, seu pai, Sérgio Galgani, incentivou o filho a voltar a atirar. Alexandre abraçou a ideia e, depois disso, uma nova reviravolta em seu destino aconteceu
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“Depois das cirurgias, consegui melhorar até o ponto em que eu estou agora. Meu pai era militar e como sempre incentivou a gente a atirar desde criança, voltei para o estande para praticar. Um dia, um cara me viu atirando e falou: ‘Pô, você atira bem. Por que não começa a participar de provas?’ Eu olhei para o meu pai e falei: ‘E aí? Você me ajuda?’. Na hora ele falou: ‘Ajudo!’ E aí eu comecei”
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No início, Alexandre teve que se preparar fisicamente e se adaptar: “Eu não tenho movimento nas mãos. Mexo só o dedo do gatilho e muito pouco. Ainda bem que o gatilho é bem levinho. Tocou, ele dispara. Minha arma fica no apoio que a gente chama de garfo, que tem uma mola. Essa mola simula o balanço do braço, justamente para dificultar, para não ficar estático e para nivelar a competição com quem tem outros tipos de lesão”
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Ele não demorou a mostrar seu talento e conseguir uma vaga na seleção brasileira. Até que perdeu seu principal apoiador, seu pai, que tinha apenas 62 anos
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“Meu pai sempre me acompanhava. Foi ele quem sempre me incentivou a entrar no esporte. No dia 16 de março de 2014, a gente foi a um campeonato em São Paulo. Quando a gente estava montando o equipamento, meu pai teve um problema no coração chamado dissecção da aorta”
Arquivo pessoal
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“A veia aorta do coração tem três camadas e uma delas começou a vazar sangue entre as outras. Meu pai caiu para trás na hora. Ele foi para o hospital, mas infelizmente acabou falecendo”
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A perda do pai logicamente foi mais um golpe duro para Alexandre, que pensou em desistir, mas foi convencido pelos familiares a continuar buscando o sonho: “Minha família entrou, com meus amigos, e disseram que eu não iria desistir. Eles me disseram que iriam se revezar. Um dia meus amigos treinariam comigo. No outro, minha mãe treinaria. No outro, meu irmão”
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Ele então mais uma vez conseguiu se superar e continuar sua caminhada. E não demorou a realizar um de seus grandes sonhos
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“Quando eu entrei no tiro, a primeira coisa que imaginei foi participar da Paralimpíada no Rio, por ser no Brasil, algo que provavelmente eu não vou ter a oportunidade de participar novamente. Foi uma sensação maravilhosa. Um sonho realizado. Pena que eu não consegui ir para o pódio. Mas só de ter participado foi uma experiência indescritível”
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Depois do Rio 2016, o objetivo passou a ser Tóquio 2020. A classificação veio com quase um ano e meio de antecedência e de uma forma marcante. Em fevereiro de 2019, Alexandre Galgani tornou-se o primeiro atleta do Brasil no esporte paralímpico individual a garantir a vaga para os Jogos Paralímpicos do Japão
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No meio do caminho, ele ainda participou do Parapan, em 2019. Na competição disputada em Lima, no Peru, Alexandre brilhou, conquistando a medalha de prata na categoria R4 (carabina de ar em pé, e ainda um quarto lugar na SH2, em que o competidor usa um suporte especial para a arma
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Atualmente com 37 anos, o atleta, que garante que, em seus treinamentos, costuma bater o recorde mundial das provas que disputa, é grande candidato a conquistar uma medalha para o Brasil nas Olimpíadas, mesmo com elas acontecendo em 2021
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Até lá, Alexandre pode até enfrentar mais algumas dificuldades, mas como prova a sua história de vida, não vai desistir de seu sonho. Segundo ele, o esporte sempre foi fundamental para ele continuar
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“O esporte é maravilhoso na vida de qualquer pessoa. Para quem é cadeirante, é mais importante ainda. No esporte a gente encontra independência. Mostra que somos capazes de superar as barreiras. É um mundo de realizações, de sonhos possíveis. O que eu sempre falo para todos é que nunca desistam, porque tudo é possível“
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