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Professor e árbitro, Renato Panda relembra blitz policial, agressão e diz: ‘O Jiu-Jitsu me ajudou o tempo todo’

Professor e árbitro, Renato Panda relembra blitz policial, agressão e diz: ‘O Jiu-Jitsu me ajudou o tempo todo’

Tatame|

Por Diogo Santarém

Professor da equipe GFTeam e árbitro em diversos campeonatos da arte suave, o faixa-preta Renato Sousa, popularmente conhecido como “Panda”, passou por uma difícil situação em novembro do ano passado. No dia 15 do mês citado – e assim completando cinco meses no último domingo -, Renato, de 41 anos, voltava de carro da praia do Recreio dos Bandeirantes, no Rio de Janeiro, com um casal de amigos. Panda, que estava no banco de trás, percebeu que o veículo foi parado por uma blitz da polícia. A abordagem, no entanto, aconteceu de forma truculenta, como contou o árbitro em entrevista à TATAME.

“Estava passando com um casal de amigos brancos na Estrada dos Bandeirantes. O carro já estava passando pela blitz, quando o policial me avistou no banco de trás, deitado, e mandou parar o carro. Nós descemos e ele veio fazer abordagem correta, perguntando se tínhamos arma, drogas ou bebidas. Aí começou a me revistar, tudo tranquilo. Eu estava com uma bermuda de tactel com bolso do lado, ele colocou a mão no meu bolso para tentar abrir e eu disse que eu abria e tirava o que tinha ali, que era só minha carteira, e se caso ele quisesse abrir meu bolso, teríamos que ir até delegacia para isso. Ele ficou tentando forçar para abrir ali mesmo e eu disse que ele não ia abrir e segurei o bolso da bermuda. Foi quando ele tentou me dar uma kimura, e na hora que ele me deu essa kimura, eu estiquei o braço para fazer a defesa, sem deixar ele me imobilizar. Ele não estava normal, ele estava transtornado, e depois que eu fiz a defesa, ficamos um olhando para o outro, e eu abaixei a cabeça para pegar o que tinha no bolso. Foi aí que ele me deu um tapa na cara. Eu não entendi nada e ele começou a me xingar, falou os palavrões me dando soco, pedindo para encostar no carro, me chamando de ‘crioulo’, de marginal, de safado, falando que eu tava vindo da praia enquanto ele tava trabalhando. Enquanto ele me batia, eu falei que se ele quisesse bater, ele podia bater, só que saindo dali, eu ia direto para delegacia fazer queixa, e quanto mais eu falava isso, mais ele me batia. O outro tava na minha frente apontando o fuzil pra mim, falando que se eu quisesse ir na delegacia, podia denunciar. Meu amigo conseguiu intervir, falando que ele estava se equivocando ali, que não éramos bandidos e marginais, e me colocou dentro do carro. Quando ele chamou meu amigo, falou que ia liberar a gente, mas se eu levasse aquilo adiante, seria cobrado do meu amigo, aí pegou o número do meu amigo, endereço, etc. Fomos embora e fui na delegacia no mesmo dia, e lá eles só me atenderam porque meu pai tinha conhecimento. Antes disso, não tinham me atendido, e depois me mandaram para o IML”, relembrou.

No outro dia, eu fui na corregedoria, graças ao contato de um amigo meu lá, porque tentaram dificultar, mas tenho alunos policiais, amigos, e eu consegui ser atendido na CGU e no outro dia eu fui na Corregedoria da Polícia Militar, onde tentaram dificultar também, mas graças ao meu conhecimento, consegui ser atendido. Estamos esperando aqui no que vai dar, né? Se vai para frente… Esperamos a justiça”, contou o conhecido faixa-preta.

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Confira outros trechos da entrevista com Renato Panda:

– Passado algum tempo do ocorrido, como você está?

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Eu estou com uma dor imensurável, não dá para explicar… Estou com uma dor mesmo. Tenho 41 anos, sou trabalhador e nunca passei por isso… Meus alunos perguntando se eu tinha sido preso, porque eu fui preso. As crianças da comunidade me perguntando isso. E para explicar esse abuso de autoridade para as crianças? Isso mexe com a minha vida, comigo, com meu psicológico. Eu não estou bem, de verdade, estou me sentindo coagido… Ninguém me ameaçou, mas eu sinto. Não sei o que pode vir acontecer comigo, não hoje, não agora que está na mídia, mas futuramente. Eu não conheço essas pessoas, elas podem querer cobrar de uma outra forma e eu estou preocupado com a minha integridade, a integridade da minha família, dos meus amigos. Eu estou mal, mas eu não vou desistir, eu quero justiça, quero levar isso até o fim e não vou parar até os que responsáveis sejam penalizados. Eles têm que ser penalizados com pena máxima decidida pela Justiça, com certeza. Eles são responsáveis por isso, queremos justiça e cobrar do Governo do Estado isso aí, porque o governo que coloca policiais despreparados na rua, é o fato.

– Como acredita que o Jiu-Jitsu tenha te ajudado no momento?

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O Jiu-Jitsu foi primordial, fundamental, porque se não fosse ele, pode ter certeza que eu não estaria aqui conversando com você. Vários amigos me perguntaram como eu resisti a tudo aquilo, e falando para o cara que é da parte daquilo, o Jiu-Jitsu ali funcionou o tempo todo, como se eu tivesse numa luta e dei aquele grito no início, de garra, de ‘vamos começar a guerra’. Eu pensava em reagir, mas eu sou professor, sou educador. Se eu reagisse, como explicaria isso para os meus alunos? Mas eu trabalhei no Jiu-Jitsu, na hora que você está naquele sufoco, tem que ter sabedoria, saber o momento certo para defender, e eu tratei aqueles momentos como uma luta, explodia gritando. Eu estava numa paz de espírito, como no Jiu-Jitsu, e eu sou feliz no que eu faço, isso é o mais importante.

– Posteriormente, como o Jiu-Jitsu está te ajudando?

Posteriormente, o Jiu-Jitsu está me ajudando o tempo todo. O Jiu-Jitsu é uma religião, é sensacional. Todo mundo me abraçou, todos me conhecem e sabem que eu sou tranquilo. Eu gosto de somar sempre. O Jiu-Jitsu está me ajudando demais, essa repercussão toda que está tendo é graças ao Jiu-Jitsu. Talvez, se eu não fosse professor de Jiu-Jitsu, não ia repercutir tanto assim, e sabemos que isso é corriqueiro, isso acontece toda hora com as pessoas da periferia, tanto brancas como negras, mas as negras são mais atacadas, e isso é provado estatisticamente, mas acontece o tempo todo com as pessoas de periferia. Eu também sou de periferia, venci na vida por causa do Jiu-Jitsu, e após esse acontecimento, o Jiu-Jitsu me fez dar mais um grande passo na vida, servindo de exemplo para todos.

– Como acredita que o Jiu-Jitsu pode ajudar na formação policial?

O esporte para sociedade é importantíssimo, é fundamental na questão de qualidade de vida. Eu dou aula em escola, e depois que eu entrei na escola, vi que a arte marcial em si é diferenciada dos outros esportes, e tinha que ser aplicadas em todas as escolas, porque toda arte marcial é educadora e agrega valores para a sociedade, forma caráter, opiniões e dá oportunidade. Quando nós mesmos vemos crianças daqui indo para Abu Dhabi, vemos aquela criança que saiu da comunidade, quando que ela imaginaria que iria para Abu Dhabi? Fazendo outra arte dá, mas é mais difícil. O Jiu-Jitsu está ganhando o mundo, por isso digo que todas as escolas teriam que ter o Jiu-Jitsu, assim como em Abu Dhabi, que é obrigatório, no Catar, nas Forças Armadas. E aqui no Brasil alguém tinha que levar o Jiu-Jitsu para dentro da polícia. Seria fundamental dentro da corporação, o Jiu-Jitsu trabalharia dentro da cabeça desses caras, e os policiais que têm esse treinamento, fica nítido a diferença entre eles e os outros que não tem acesso ao Jiu-Jitsu. Na polícia, isso é sensacional, eles vão mudar da água para o vinho, desde as abordagens, coerências. No Jiu-Jitsu, ou a pessoa não gosta ou ela ama, mas seria muito importante se o Jiu-Jitsu fosse obrigatório na polícia e mudaria muito a postura deles, com toda certeza.

– Como professor e cidadão, qual lição você tirou disso tudo?

Esse acontecimento serviu para abrir minha mente para muitas coisas, porque quando vemos na televisão, não levamos tão a sério. Eu mesmo não levava tão a sério até acontecer comigo, agora isso já aconteceu comigo, com colegas. Disso, eu tiro que tem que ser sempre uma pessoa de bem, continuar sendo essa pessoa de bem que eu sou, orientar outros cidadãos, orientar o máximo de pessoas que eu conseguir, e não se calem, independentemente da violência, de onde a pessoa seja também. Tem que denunciar, dar parte, porque se continuar calado, vai continuar acontecendo, eu não queria que tivesse acontecido comigo, mas aconteceu e hoje eu vejo dessa forma. Eu não vi tudo nessa vida e vou morrer sem ver, mas eu nunca imaginei que aconteceria isso comigo, nem de quando eu era moleque de baile funk, aprontava muito e não acontecia isso, e depois de virar pai de família, ser humilhado, ser chamado de ‘crioulo’, de marginal, safado, é difícil…

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