* Foi um evento enorme, com um card fenomenal e a organização do evento estava fantástica, com lutas maravilhosas. Tivemos algumas provocações na pesagem, isso foi até um tanto incentivado, o “trash talk”… Uma questão de mídia, de venda de pay-per-vview, mas tudo dentro de um limite saudável. Quando isso é feito dentro de um limite, de uma competitividade, isso é aceitável. Só que, infelizmente, tivemos um episódio lamentável, triste e horrível para o cenário mundial do Jiu-Jitsu, entre o Erberth Santos e o Preguiça.
BJJ Stars termina em confusão envolvendo Erberth Santos e vitória de Preguiça Vídeo: Erberth se envolve em briga no BJJ Stars após alegar lesão; assista Mário Reis opina sobre briga no BJJ Stars e Erberth: ‘Vai aprender com isso’Infelizmente, esse episódio já é reincidente na carreira do Erberth, que tem um talento enorme, mas histórico de alguns comportamentos agressivos repetidos. Com certeza, vem de uma origem muito humilde, de uma realidade difícil, onde ele fala que o esporte o salvou, o ajudou muito na retomada de vida dele. Mas, talvez, esse histórico dele lá atrás ainda esteja com alguma coisa mal resolvida dentro dele, de tantas repetições de episódios que ele tem. Ele já foi expulso de algumas equipes e tem um comportamento complicado.
O Erberth começou no Jiu-Jitsu aos 9 anos, em um projeto social, tem a sua origem humilde, passou por muitas dificuldades financeiras, até pra conseguir continuar se dedicando ao esporte, e acabou tendo algumas passagens complicadas durante sua vida. Mas nada justifica o episódio lamentável do BJJ Stars e assim como o Erberth tem essa reincidência, nós temos outros exemplos no mundo da luta, como o Nick Diaz, que tem um histórico problemático, com brigas, doping por uso de maconha, já foi preso por embriaguez, faltas constantes em coletivas de imprensa, entre outras coisas. Temos também, no futebol, o caso do Adriano Imperador, por suas várias polêmicas na carreira.
Isso mostra o quanto a questão da autodestruição pode permear episódios desses atletas que são reincidentes. Então, eles têm uma tendência a autodestruição, autoagressividade, e isso é lamentável, quando os atletas não conseguem cuidar desse lado e cuidar de suas carreiras. Isso tudo, dentro da psicologia do esporte, tem um limite. Isso tem que ser trabalhado, o atleta precisa cuidar isso, precisa ter um autoconhecimento. Nós falamos que, em alta performance, o autoconhecimento é fundamental, porque o atleta pode perceber quando está passando do limite, o quanto aquela ansiedade vai prejudicá-lo, se a adrenalina pode estar tomando uma proporção a ponto dele ter uma atitude desnecessária. Se o atleta não tem autoconhecimento, ele vai seguir repetindo comportamentos ruins.
No esporte de competição, o confronto físico entre atletas durante uma disputa envolve diversos lutadores diferentes, dos mais diversos níveis sociais, com os diferentes níveis de aprendizagem, contextos culturais diferentes, etc. Cada um tem uma história, com famílias e com realidades diferentes, mais humildades ou mais ricas. Isso tudo faz uma mistura em um evento desse nível e traz coisas negativas e positivas para o atleta em questão.
Nós, especialistas, o que vemos dentro da psicologia esportiva, quando os atletas têm esses comportamentos recorrentes de brigas e agressões, na maioria das vezes, eles têm uma característica de personalidade que se chama a impulsividade. A impulsividade é um impulso ou tendência a agir, na qual o comportamento apresenta pouco ou nenhum pensamento de reflexão prévia, que leva a comportamentos de risco ou onde o sujeito se arrepende depois. Então, a impulsividade é uma característica muito presente em atletas que tem esse comportamento reincidente, como é o caso do Erberth e de outros diversos.
Ficou claro que isso já é um comportamento reincidente, o quanto isso pode tomar proporções gigantescas. Não sei se isso já foi cuidado de alguma forma, mas muitas vezes o atleta usa o esporte para canalizar uma agressividade que vem lá de trás, da infância, e aí o esporte entra como um canalizador saudável dessa agressividade, a pessoa consegue ter uma vida equilibrada e saudável. Mas às vezes, só o esporte não é suficiente. Muitas vezes, o atleta precisa recorrer a um psicólogo, fazer uma psicoterapia, ter um coach esportivo ou fazer outras atividades para equilibrar o seu nível de energia mental, como Yoga e Meditação, entre outras coisas. É importante sempre se olhar se e reconhecer.
Os atletas que têm mais dificuldade com essa questão da impulsividade e da agressividade vão precisar ter a mente mais blindada ainda, porque vão ter provocações da torcida ou da equipe do adversário, vão ter vaias, entre outras coisas. Se o atleta tem essa mente blindada, ele já consegue focar só na luta, na competição, e ignora tudo o que está em sua volta. Isso diminui o risco dele ter um comportamento impulsivo e agressivo, por exemplo.
Existem algumas formas de agressividade. Podemos ter agressividade pelo comportamento hostil, onde o atleta, que tem por fim esse tipo de comportamento, uma intenção de prejudicar ou lesionar uma pessoa diretamente, por causa desse comportamento hostil. Nós temos a agressividade por uma agressão afetiva, onde o atleta reage diante de uma situação de grande carga emocional, de um estresse emocional. Temos também a autoagressão, que acontece por sensações de culpa e frustração, e aí o atleta não sabe lidar emocionalmente com essas sensações e vai dirigir o comportamento agressivo contra si mesmo e, por fim, temos o deslocamento da agressividade, quando o comportamento é direcionado para outros objetos, como o atleta que chuta coisas, jogar objetos para o ar, dar pancadas em portas, socar paredes. A partir dessas formas se estuda caso a caso.
E você, atleta, já passou ou acompanhou algo semelhante? Em algum momento chegou perto de perder o controle? Conte-me sua experiência me enviando um e-mail através de (psiespinola@gmail.com) ou um direct no meu Instagram (@renatacarvalho_ coach).
* Renata Carvalho é Psicóloga clínica, Coach Esportiva de alta performance, Consultora da Academia CT Brasil e da CMT