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Sim, o Futebol está vivo. No entanto, apenas debaixo de cinco ditaduras.

Belarus, Burundi, Nicarágua, Tajiquistão e Turcomenistão realizam os seus torneios como se a Covid-19 não fosse uma ameaça real ao planeta

Silvio Lancellotti|Do R7 e Sílvio Lancellotti

Uma alegoria de amor ao Futebol
Uma alegoria de amor ao Futebol Uma alegoria de amor ao Futebol

Para quem se queixa de uma carência esportiva, começou nesta semana, mais especificamente no domingo, dia 5 de Abril, o campeonato nacional de Futebol do Tajiquistão, um país localizado na fronteira do Afganistão e da China, resultado do estilhaçamento da União Soviética em 1991. Com 9.5 milhões de habitantes, oferece um certame bem pequenino, apenas 10 clubes. Lidera a sua classificação o Vakhsh Qughonteppa, único a vencer um jogo na rodada inaugural, resultado de 2 X 1 sobre o Istaravshan.

Fakhtullo Faktulloev, do Khojand, artilheiro do certame do Tajiquistão
Fakhtullo Faktulloev, do Khojand, artilheiro do certame do Tajiquistão Fakhtullo Faktulloev, do Khojand, artilheiro do certame do Tajiquistão

Separado do Tajiquistão por um pedaço do Uzbequistão, o Turcomenistão, também ex-URSS, igualmente mantém vivo o seu torneio. Embora mais vasto, basicamente um enorme deserto, ostenta uma população menor, um pingo acima dos 5,2 milhões, e um certame proporcionalmente mais compacto, apenas 8 equipes. Principiou no dia 20 de Março e, completas três jornadas, permanece invicto o Kopetdag Ashgabat, 9 pontos, três à frente do Ahal.

O estádio do Kopetdag, no Turcomenistão
O estádio do Kopetdag, no Turcomenistão O estádio do Kopetdag, no Turcomenistão

Também existe futebol no Burundi, um enclave situado no miolo da África, às margens do lindo Lago Tanganika e junto à Ruanda, à República Democrática do Congo e à Tanzânia. Super-povoado em relação ao seu tamanho, 12 milhões de pessoas e 430 por quilômetro quadrado, o seu torneio congrega, sabe-se lá com que qualidade, a imensidão de 16 times. Depois de 27 rodadas, lidera o Le Messager, 55 pontos, quatro à frente do Musongati.

O time do Le Messager, do Burundi
O time do Le Messager, do Burundi O time do Le Messager, do Burundi

E o Ludopédio não segue, impávido e colosso, apenas em nações, digamos, perdidas no mapa. Há um campeonato na Europa, em Belarus, e também na América Central, na Nicarágua. Em Belarus, 16 times, depois de três jornadas e de três triunfos, o Energetik comanda a classificação, 9 pontos, à frente de seis rivais com 6. Na Nicarágua, com 10 agremiações, depois de 14 rodadas o Manágua lidera, 30 pontos, à frente do Real Estelì e do Diriangén, 27. 

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Na torcida do Energetik, de Belarus, uma máscara solitária
Na torcida do Energetik, de Belarus, uma máscara solitária Na torcida do Energetik, de Belarus, uma máscara solitária

Comparada fosse com a Organização das Nações Unidas, a ONU, 193 integrantes, ou com o COI, Comitê Olímpico Internacional, 206 membros, a FIFA, a entidade que rege o Futebol no planeta, é mesmo portentosa. Abriga exatos 211 países afiliados. Por quê apenas cinco, porém, são os que, em plena pandemia denominada de Covid-19, cujos números se multiplicam a cada hora, ousam abrir os seus estádios, se arriscam a aglomerar pessoas e a favorecer os riscos de um contágio fatal? Simples, em todos os cinco o governo está nas mãos de ditadores e/ou inconsequentes.

Rahmon, a esposa, nove filhos e nove netos
Rahmon, a esposa, nove filhos e nove netos Rahmon, a esposa, nove filhos e nove netos

Emomali Sharipovich Rahmonov, 67 de idade, um antigo assecla dos ocupantes soviéticos do Tajiquistão, tomou o poder em Dezembro de 1994 e, desde então, entre outras excentricidades, mudou de nome, num auto-decreto, para Rahmon, por desprezar o sufixo “ov”, uma característica da Rússia. Também deletou o Sharipovich, e então virou Emomali Rahmon. Não satisfeito, baniu o “ov” de todos os documentos dos seus concidadãos.

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Berdimuhammedow
Berdimuhammedow Berdimuhammedow

Gurbanguly Berdimuhammedow, 62, desmanda no seu Turcomenistão desde Dezembro de 2006. Um pupilo de Saparmurat Niyazov, que era o dono do lugar em 1990, antes mesmo do final da URSS, assumiu minutos após a oficialização da morte, suspeitíssima, do mentor. Dentre as barbaridades das gestões de ambos se incluem pistas de patinação no gelo para refrescar moradores das área mais secas; a construção de estátuas de ouro, gigantescas, rotatórias, de modo a sempre fitarem o sol; e a constante re-feitura dos refrões do hino nacional, em sua louvação. Mais. Numa decisão crucial na guerra contra a pandemia, Berdimuhammedow ainda proibiu que lá se use a palavra coronavirus. A punição é, claro, parar numa cadeia.

Lukashenko e Nikolai, o caçula de seus três filhos
Lukashenko e Nikolai, o caçula de seus três filhos Lukashenko e Nikolai, o caçula de seus três filhos

Aleksandr Lukashenko, 65, ocupa o poder supostamente republicano em Belarus desde Julho de 1994. Também um sobrevivente do antigo PCUS, consegue a magia de se reeleger, sucessivamente, sem opositores. Já ganhou o epíteto de “O Último Tirano da Europa”. Aliás, Estados Unidos e União Européia sistematicamente se recusam a conceder vistos de entrada a ele e, azaradamente, aos três filhos, que apreciariam estudar mais perto da Civilização. Perguntado sobre a Covid-19, Lukashenko afirmou que o sol, a prática do futebol e o consumo da vodca servem como ótimos antídotos.

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Nkurunziza, em plena ação pelo Halleluia F. C.
Nkurunziza, em plena ação pelo Halleluia F. C. Nkurunziza, em plena ação pelo Halleluia F. C.

Pierre Nkurunziza, 55, assumiu a presidência do Burundi em Agosto de 2005, e acaba de prometer, pela enésima vez, que não se candidatará ao novo pleito, programado para o mês de Julho. Difícil de acreditar. Num plebiscito, em Março de 2018, foi transformado em “Guia Supremo e Eterno” do seu povo. Fanático pelo Futebol, tem o seu próprio time, o Halleluia F. C., que viaja através do País em turnês de exibição. Denunciado por uma infinidade de ações de desrespeito aos Direitos Humanos, já driblou inclusive um laudo médico independente que atestou a sua insanidade.

Daniel Ortega e Rosário Murillo
Daniel Ortega e Rosário Murillo Daniel Ortega e Rosário Murillo

Daniel Ortega, 75, integrou a cúpula da Frente Sandinista que, em Julho de 1979, derrubou uma dinastia familiar que explorava a Nicarágua desde 1936. Originalmente, de acordo com as regras democráticas, subiu ao poder, em 1984, numa eleição livre e direta. Fracassou, porém, na sua administração. O analfabetismo, que era de 50%, explodiu para absurdos 87%. Daí, perdeu três pleitos em seguida, até recuperar o cargo em 2006 e passar a exercer o poder em seu próprio benefício, com o apoio fidelíssimo da esposa, Rosário Murillo, que também exerce a função oficial de sua vice-presidente.

O time do Diriangén, da Nicarágua
O time do Diriangén, da Nicarágua O time do Diriangén, da Nicarágua

Para um antigo herói, os abusos tangenciam a ridicularia. Ortega ignorou o fato de a Igreja Católica ter cancelado as celebrações da Semana Santa. E, mesmo sem a menor política de prevenção do contágio, usou a própria mulher, que tem programas de rádio e de TV, para repreender os bispos que lhe fazem oposição e convocar marchas de auto-apoio: uma dessas passeatas, pateticamente batizada de “Amor nos Tempos de Covid-19”. Em carros com alto-falantes a voz gravada de Rosário estimula a frequência a piscinas e a parques públicos. Pior, o marido promete aceitar que ancore em suas praias qualquer navio com passageiros suspeitos de infestação. Vade retro!

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