Sessão de desinfecção no San Paolo do Napoli
Reuters/Ciro de LucaImagine, você, ler esta manchete tonitruante: “Algoritmo decide o Campeonato Italiano de 2019/2020.” Qualquer desavisado poderia supor que se trata de um novo craque do Calcio, sucessor legítimo dos talentos de Paolo Rossi, Gianluca Vialli, Roberto Baggio, Ale Del Piero. Mas não, o personagem do anúncio não joga futebol e não passa de um neologismo idealizado nesta Era da Informática, um termo que, sinteticamente, significa “o conjunto de regras e procedimentos lógicos que conduzem à solução de um problema.” No caso, a definição do ganhador do título do certame, dos times classificados à Champions e à Europa League, e daqueles rebaixados à Série B.
Gabriele Gravina
FIGCNo impasse que a pandemia da Covid-19 já produziu no Ludopédio da Velha Bota, um certame interrompido com quatro partidas atrasadas e mais doze rodadas completas a se realizarem, o personagem caiu de paraquedas depois de uma declaração intempestiva e alucinada de Gabriele Gravina, presidente da Federcalcio, habitualmente sóbrio mas, talvez, contaminado pelo desgaste de tantos dias de debates exaustivos em busca de uma solução. Na última semana de Maio, aliviado pela chance de um consenso, Gravina expôs uma saída delineada em três hipóteses. E, dia 8, uma conferência, por TV, de representantes dos 20 clubes da Série A e do governo deverá analisá-la.
No protocolo, a obrigatoriedade da máscara
@InterUm Plano A prevê que aconteçam, em 20 e 21 de Junho, as quatro pelejas atrasadas. Depois, já a partir do dia 22, se desenrolará a retomada das 12 rodadas remanescentes. Pelo Plano B se estabeleceu que, no caso de recidiva da pandemia, o torneio automaticamente será suspenso e a definição do seu título ocorrerá através de “playoffs”, a do rebaixamento através de “playouts”. Enfim, no Plano C, excluídos por inviáveis os “playoffs” e os “playouts”, Gravina utilizou uma palavra sofisticada para explicar o óbvio. Falou em “cristalização”, determinou que valeria a classificação que o campeonato apresentasse no instante exato da sua cessação. Daí, se recorreria ao Algoritmo, ao cálculo de probabilidades, para especular de que maneira transcorreriam as pugnas que eventualmente faltassem até o seu desfecho.
A "Zebra" e Cristiano Ronaldo
juventus.comTentarei exemplificar. Digamos que, a quatro jornadas do final do certame, a Juventus e a Lazio estivessem, juntas, no patamar dos 80 pontos. À “Zebra” faltariam a Udinese (fora), a Sampdoria (em casa), o Cagliari (fora) e a Roma (em casa). À “Águia”, Cagliari (em casa), Verona (fora), o Brescia (em casa) e o Napoli (fora). Obviamente com o apoio de um computador, e em função das performances anteriores de todas essas equipes, o Algoritmo decidiria o resultado de cada pugna e imporia, matematicamente, os pontos a se acumularem na tabela. Maravilhoso, precioso, claro, se o Futebol não fosse um jogo praticado por gente, com as suas infinitas imprevisibilidades.
A "Águia" da Lazio de Roma
@SSLazioImediatamente choveram as críticas de atletas, dirigentes e da Mídia. A poderosa “Gazzetta dello Sport” ironizou: “Só faltava essa... Gravina tira um Algoritmo da cartola... uma fuga cômica à la David Copperfield.” O presidente, todavia, não se abalou. Tanto que, nesta terça-feira, dia 2 de Junho, permitiu que se conhecesse a fórmula básica do dispositivo. Ponderadamente, levará em consideração o rendimento de cada agremiação como mandante, como visitante, o número de prélios, o volume de gols a favor e contra. Se o torneio acabasse hoje, a Juve nos 63 pontos e a Lazio nos 62, a projeção concederia à “Zebra” o nono “scudetto” consecutivo, 92.07 pontos. A “Águia” ficaria atrás, nos 90,01. Acho difícil, no entanto, que o conclave do dia 8 se contagie pelo absurdo programado por Gravina e avalize tamanha insanidade.
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