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Nos Emirados, futebol e corridas de camelos com mini-jóqueis-robôs

Desde a eclosão da Era do Petróleo, na década de 60, o dinheiro e a tecnologia transformam um deserto em um aprazível paraíso de maravilhas 

Silvio Lancellotti|Do R7 e Sílvio Lancellotti

Numa corrida de camelos, um dos jóqueis-robôs
Numa corrida de camelos, um dos jóqueis-robôs Numa corrida de camelos, um dos jóqueis-robôs

Uma superfície de 83.600km2, menor do que a área de Santa Catarina, perto dos 95.740. Apenas 19 cidades, nas quais se espalham cerca de 9.6mi de pessoas, ou 75% dos habitantes do município de São Paulo. Porém, com uma renda-per-capita anual equivalente a R$ 170.000, quase 85 vezes acima dos R$ 2.050 de São Caetano/SP, a maior do Brasil. Tudo isso numa monarquia hereditária que se divide em sete feudos, os denominados Emirados Árabes Unidos, localizados diante do Golfo Pérsico, entre Omã e a Arábia Saudita, e sobre jazidas absurdamente vastas de petróleo.

Khalifa bin Zayed
Khalifa bin Zayed Khalifa bin Zayed

Cada um dos sete Emirados – Abu Dhabi, Ajman, Dubai, Fujairah, Ras Al-Khaimah, Sarjah e Umm Al Quwain – tem a sua própria estirpe de comando. Num conjunto, os sete dinastas que compõem um Conselho Federal e escolhem o seu Presidente: desde 3 de Novembro de 2004, Khalifa bin Zayed bin Sultan al Nahyan, hoje 70 de idade e, pelo que consta, a mesma parceira desde 1964 e oito filhos, dois varões e seis mulheres. Os Emirados têm ainda um Primeiro-Ministro, o Xeique Mohammed bin Rashid al Maktoum, 69 de idade e nada menos que seis esposas com quem gerou catorze damas e nove homens. Nas suas eventuais horas vagas, Zayed também exerce a função de Presidente do Al Ain, o clube que, neste dia 22 de Dezembro de 2018, sábado, no estádio de Abu Dhabi que evidentemente ganhou o nome de Zayed, disputará com o Real Madrid o título da Copa do Mundo da FIFA.

O perfil de Al Ain
O perfil de Al Ain O perfil de Al Ain

Da cidade homônima de Al Ain, com 430.000 habitantes a quarta mais populosa da região de Abu Dhabi, o clube, curiosamente, não teve origens aristocráticas. Nasceu em 1968, fundado por imigrantes do Bahrein e do Sudão, lá instalados em busca dos postos de trabalho que a eclosão da Era do Petróleo subitamente produziu. Encravados na península mais árida e mais seca do planeta, os Emirados, essencialmente dominados por nômades que procuravam a água só encontrável nos múltiplos oásis espalhados desde o Mediterrâneo até as beiras do Oceano Índico, passaram por dois grandes ciclos históricos antes do petróleo. Com a arribada dos lusitanos de Vasco da Gama, no finalzinho do Século XV, se inaugurou o período da “Costa Pirata”, em que funcionava como um entreposto de navegadores. Daí, do fecho do Século XIX à Década de 30, a “Era das Pérolas”, que enriqueceu seus povos até que os japoneses desenvolvessem a técnica inusitada do cultivo artificial.

A chegada a Al Ain, por largas avenidas
A chegada a Al Ain, por largas avenidas A chegada a Al Ain, por largas avenidas

Então, graças à ingerência dos britânicos, interessados na importância estratégica da península, uma conexão mais acessível entre a Europa Ocidental e o Extremo Oriente, as sete principais tribos de nômades se congregavam sob a denominação de Estados da Trégua, imposta na marra e sob um tratado de “duração eterna”. Quando, na década de 50, a British Petroleum começou a explorar as jazidas terrestres do Irã e do Iraque, e mais as aquáticas do Golfo Pérsico, os líderes das tribos, educados nas universidades da Inglaterra e dos EUA, optaram por formalizar a antiga Trégua na constituição de uma nação nova, enfim una e indivisível.

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Tahnoon, com a taça, e a delegação do clube Al Ain
Tahnoon, com a taça, e a delegação do clube Al Ain Tahnoon, com a taça, e a delegação do clube Al Ain

Pode-se dizer que os integrantes das sete tribos, parentes e contraparentes, ocupam todos os cargos de poder nos Emirados. O Xeique Tahnoon bin Mohammed al Nahyan funciona como o prefeito de Al Ain. A 100 quilômetros do Golfo, junto a uma cadeia de colinas que lhe propicia uma temperatura branda e, inclusive, um razoável regime de chuvas, exibe as plagas mais verdejantes da península inteira, repletas de palmeiras, tamareiras e roseirais que se espraiam nas margens de lagos surpreendentes. Em mero meio século os dignitários de Al Ain presentearam a sua cidade com um aeroporto internacional, dois campos de golfe, duas universidades, três museus, um zoológico, um aquário, o Estádio Hazza bin Zayed para 22.217 pessoas, e um formidável camelódromo para mais outras tantas.

Um dos roseirais de Al Ain
Um dos roseirais de Al Ain Um dos roseirais de Al Ain

Em tempos idos, havia provas com 50 ou 60 animais, que crianças e pré-adolescentes, praticamente semi-escravos, se incumbiam de montar. Consequência do petróleo e da civilidade que a dinheirama do petróleo acarretou, em 2005 uma lei exigiu a substituição de tais ginetes. Não foi possível encontrar adultos suficientes de tamanho e peso adequados. Sem problemas. Os Emirados bancaram uma pesquisa que levou à criação de mini-jóqueis de circuitos eletrônicos, robôs acionados por controle remoto, sempre vestidos com o fardamento do seu haras respectivo, todos com os seus chicotinhos mecânicos e coordenados pelos técnicos em veículos 4 X 4 que trafegam bem ao lado, em uma pista de asfalto, paralela à pista de areia. Verdadeira loucura: enquanto os camelos sem pilotos batalham para não se atropelar, os veículos tentam não dar trombadas.

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Os camelos e seus jóqueis-robôs, numa reta final
Os camelos e seus jóqueis-robôs, numa reta final Os camelos e seus jóqueis-robôs, numa reta final

Os dinastas igualmente revolucionaram o clube que os imigrantes do Bahrein e do Sudão fundaram em 1968. O seu fanatismo por esportes os compeliu a transformarem uma brincadeira de operários numa potência. Com meio século de existência, o Al Ain, apelidado “The Boss”, ou “O Patrão”, já acumulou 32 troféus, 13 da Liga Pro, que principiou a organizar o seu certame nacional em 1973 e tem 14 times na sua composição. Bem atrás do Al Ain, o Al Wasl e o Al Ahli somam 7 conquistas cada. Já foram treinadores do Al Ain o italiano Walter Zenga, arqueiro da “Azzurra” da Copa de 90, e os brasileiros Alexandre Gallo, Toninho Cerezo e Adenor Tite Bacchi. E já foram seus atletas o chileno Valdívia e os brasileiros Dodô (ex-São Paulo e Santos) e Emerson Sheik.

Tite, o assistente Cléber Xavier, e familiares, em Al Ain
Tite, o assistente Cléber Xavier, e familiares, em Al Ain Tite, o assistente Cléber Xavier, e familiares, em Al Ain

Cartolagem à parte, com a exceção do seu preparador de arqueiros, o bósnio Miralem Ibrahimovic, todos os dez integrantes da Comissão Técnica do Al Ain provieram da Croácia do ex-volante Zoran Mamic, 47, no cargo desde 30 de Janeiro de 2017. Enorme ironia: condenado, na sua pátria, com o mano Zdravko, a 59 meses de prisão, por ter surrupiado uma grana do Dinamo de Zagreb, o clube que orientou de 2013 a 2016, ele não pode abandonar os Emirados sob o risco de acabar numa cadeia. Não existe, por lá, um tratado de extradição. O elenco do Al Ain, no entanto, é quase integralmente nativo, com a exceção dos volantes egípcios Nader e El Shavat, do apoiador malinês Doumba, do artilheiro sueco Marcus Berg, 42 gols em 43 partidas, e do ala-atacante brasileiro Caio, 24, oriundo de Araçatuba/SP, que se formou no São Paulo, se mudou ao Japão em 2011, e se alojou nos Emirados em 2016.

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Zoran Mamic e um intérprete, à beira do campo do Al Ain
Zoran Mamic e um intérprete, à beira do campo do Al Ain Zoran Mamic e um intérprete, à beira do campo do Al Ain

O Al Ain só amealhou a sua vaga na Copa do Mundo da FIFA por ser o campeão-representante do país-sede. Até desembarcar na decisão contra o Real Madrid, superou o Wellington da Nova Zelândia (3 X 3 no tempo normal e 0 X 0 na prorrogação, 4 X 3 nos penais), o Esperança da Tunísia/África (3 X 0) e, surpresa, impacto, o River Plate da Argentina (2 X 2, 0 X 0 e 5 X 4). Esta, em 2018, é a quarta edição da Copa nos Emirados. Em 2009, o laurel ficou com o Barcelona. Em 2010, com o Internacional de Porto Alegre. E, em 2017, com o Real. “Os Merengues” agora completam a sua quarta participação na competição. Na edição inaugural, em 2000, no Rio, tombaram diante do Corinthians, enfim o campeão, numa das semis. Daí, arrebataram o troféu em 2014 (no Marrocos, 2 X 0 sobre o San Lorenzo da Argentina), em 2016 (no Japão, 4 X 2 sobre o Kashima Antlers local, prorrogação), e em 2017 (nos Emirados, 1 X 0 sobre o Grêmio dc Porto Alegre). O Al Ain faz a sua estreia no Futebol universal e na história da Copa da FIFA.

A celebração da vitória sobre o River Plate
A celebração da vitória sobre o River Plate A celebração da vitória sobre o River Plate

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