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Cláudio Weber Abramo (1946-2018), um brigador pela transparência

Um grande jornalista, um guerreiro no combate à corrupção e na vigilância dos poderes públicos, e um amigaço de quem eu já sinto muita falta

Silvio Lancellotti|Do R7 e Sílvio Lancellotti

Cláudio Weber Abramo
Cláudio Weber Abramo Cláudio Weber Abramo

Começos de 1977. Mino Carta reúne os seus amigos fiéis, com ele os nobres tocadores da revista “IstoÉ”, então mensal, e anuncia, eufórico, que acabara de inventar a vulcanização da borracha: “Vamos transformar a revista em semanal. O mesmo custo, a mesma equipe, o mesmo endereço, e quatro vezes mais faturamento ao mês”. No princípio pareceu uma loucura. Labutaríamos como a cáfila num deserto, mas todos topamos. Do saudoso Raimundo Faoro (1925-2003), que liderava a OAB anti-Ditadura, aos pioneiros Armando Salem, Tão Gomes Pinto, Hélio de Almeida, Nirlando Beirão, Fernando Sandoval, e eu que ainda dividia o meu tempo entre a mensal e a direção da redação da “Vogue” do mano Luís Carta (1937-1994).

Durante uma entrevista
Durante uma entrevista Durante uma entrevista

Na semanal, inicialmente, me coube tocar a Editoria de Internacional, com dois correspondentes praticamente voluntários, tão ralo era o que a “IstoÉ” podia pagar: o Hugo Estenssoro nos EUA e o Mário Chimanovitch em Israel mas a missão de acompanhar a Europa toda. Não havia grana, também, para as fotografias. A Internacional da “IstoÉ” se divertia com os desenhos do Paulo Caruso e de outro amigaço, o Hermenegildo Sabat, na Argentina, que as remetia por um malote da ex-Varig. Ao mestre Cláudio Abramo (1923-1987) cabia perpetrar a coluna que enriquecia a editoria, “Periscópio”. Também foi ele quem me apresentou a um dos personagens mais intransigentes no caráter com quem convivi: Cláudio Weber Abramo, seu filho com a chargista Hilde (1913-1994). Virou meu braço-destro na Internacional.

O endereço da Transparência
O endereço da Transparência O endereço da Transparência

Matemático de diploma universitário, um rapaz bastante magro, de cabelos elegantemente desgrenhados e barbas negras como a asa da graúna do escritor José de Alencar, o Claudinho por quase meia década me escoltou naquelas árduas madrugadas de fechamento da semanal, quartas e quintas em que jamais saímos antes do amanhecer. Sim, pois além da Internacional eu logo me transformei numa espécie de secretário do Mino, encarregado de conferir todos os textos e de acertar os títulos e as legendas das imagens nos seus tamanhos justos. Nos intervalos, embora os intervalos fossem raros, o Claudinho e eu dividíamos os pedaços de pizza que comíamos com as mãos, mesmo, jogávamos Xadrez, compartilhávamos pocket books.

Na "Folha de S. Paulo"
Na "Folha de S. Paulo" Na "Folha de S. Paulo"

Depois da “IstoÉ” cada qual seguiu um outro caminho. Ele, entre outras preciosidades, como uma pós-graduação em Filosofia pela Unicamp, criou a brava “Transparência Brasil”, entidade que se tornou referência no combate à corrupção no País, e ainda articulou a Lei de Acesso à Informação em vigor desde 2011. No trajeto, orientou o desenvolvimento de inúmeras ferramentas online que permitem aos jornalistas a compreensão dos chamados dados públicos. Como as doações, os gastos de campanha de candidatos a cargos eletivos, e a atuação daqueles que viraram congressistas, da sua presença em sessões e a sua postura nas votações, até os processos na Justiça de que são os alvos. Foi-se na noite do domingo, 12 de Agosto, vitimado pela Doença Ruim. Ah, saudades gigantescas, Claudinho. Saiba, aí nos Céus, que ainda tenho aquele minitabuleiro de Xadrez com que você me agraciou.

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