Doha, Catar
Em todo o treinamento do Brasil no Catar, ele é o segundo jogador mais perseguido por câmeras e fotógrafos. Antes de começarem as atividades com a bola, está sempre sorridente, confiante, brincando com os companheiros.
Mas quando começam os exercícios físicos, já chega a concentração. Ele se esforça, corre, se alonga, vai ao seu limite.
Mas o ápice vem quando é liberada a bola. Seu talento fica evidente.
Dribles em velocidade, arrancadas, tabelas.
E o aprimoramento nos dois fundamentos que sabe ter de melhorar: o cabeceio e o arremate ao gol.
Fica muito claro por que Tite decidiu tirar Fred do time, ir contra a sua maneira de décadas de escalar suas equipes.
Nada de um volante à frente da zaga, outro mais à frente, mas com potencial de marcação, auxiliados por um meia capaz de ser fundamental para travar o meio-campo adversário.
Foi assim com o Corinthians campeão mundial de 2012, com Ralf, Paulinho e Danilo. Mais Jorge Henrique ajudando muito na marcação do lado mais forte do adversário. Emerson Sheik ligava esses jogadores a Guerrero.
Na Copa de 2018, Tite optou por Fernandinho e Paulinho. Com Philippe Coutinho mais preso. Willian também tinha de fechar o lado mais ofensivo do time que enfrentava o Brasil. Neymar tinha toda a liberdade pela esquerda. E Gabriel Jesus, sacrificado, fugia de suas características, enfiado entre os zagueiros e marcando a saída de bola.
Vinicius Junior acabou com todos esses conceitos formados há décadas por Tite. O treinador teve de se render aos treinamentos e jogos em que o atacante entrava.
Casemiro terá o auxílio de Lucas Paquetá, que terá de esquecer seu potencial ofensivo para que o Brasil tenha Neymar, Raphinha, Richarlison e Vinicius Junior. Assim como Danilo e Alex Sandro ficarão mais presos.
Seu grande medo era que ele ocupa o lado esquerdo, o mesmo de Neymar. Mas desde que Thomas Tuchel passou pelo PSG, mostrou que o ídolo brasileiro pode ser um ótimo meia. O que abriu espaço para dois extremas fixos: o canhoto Raphinha, pela direita. E Vinicius Junior pela esquerda, com Richarlison flutuando na frente, como referência.
Os quatro anos que está no Real Madrid serviram para forjar o ex-jogador do Flamengo. Ele aprendeu não só a mostrar seu incrível repertório de dribles, mas a atuar em conjunto, para a equipe. Tabelando, cruzando, lançando. Deslocando-se, deixando de ser um alvo fixo. O que dificulta ainda mais seus marcadores.
"Vini é jovem de idade, mas não de campo, e já tem mais de cem partidas. Não falam de Vinícius como o melhor jogador do mundo. Ele está no top cinco.
"Tem que focar a partida, pois pode ganhar o jogo sozinho. Ele pode ser ainda mais decisivo. Tem facilidade e, se conseguir se concentrar mais, pode fazer mais gols e dar mais assistências."
Todos esses elogios são de Benzema, francês de gênio forte, que é difícil de elogiar companheiros.
A maturidade, de se entender como um jogador fora de série, mas importante para o conjunto, está chegando para Vinicius Junior. Apenas com 22 anos, ele entende perfeitamente sua importância.
E queiram ou não, é o sucessor de Neymar.
Com talento parecido para os dribles, arrancadas, jogadas inesperadas.
Mas com grande diferença.
Encontrou um treinador espetacular que não só lhe ensinou os fundamentos táticos básicos como também pôs limites. O italiano Carlo Lancelotti. Um dos melhores do mundo, comandante do Real Madrid. Único técnico a disputar cinco finais de Champions. E vencer quatro.
"Vinicius é um jogador especial. Pela maneira como ele joga, pode às vezes acontecer de os rivais se irritarem. Mas todos têm que entender que ele sempre tenta o drible, não importa se sua equipe estiver ganhando ou perdendo.
"Às vezes, eu entendo que os rivais se irritem um pouco mais do que o normal, mas isso são coisas que acontecem no futebol. Com experiência, ele irá aprendendo pouco a pouco sobre tudo. E está aprendendo", declarou Ancelotti, que também foi se rendendo ao brasileiro.
Vinicius Junior teve de ouvir inúmeras broncas, cobranças do técnico italiano. E agradece. Já que foi por elas que diminuiu 90% dos dribles desnecessários. E simulações, que tanto mancharam a carreira de Neymar.
Seu potencial é enorme. Ainda mais com a liberdade que Alex Sandro promete dar, já que é um lateral muito menos ofensivo do que era Marcelo, na Rússia. Vinicius Junior tem potencial para entrar no time e não sair.
E na Copa de 2026, ser o protagonista e suceder a Neymar. Todos sabem disso na seleção, mas ninguém comenta. Muito menos ele, que respeita demais o jogador do PSG. E o respeito é mútuo.
O site especializado em transferências de jogadores, o transfermarkt, é direto. Coloca Vinicius Junior valendo 120 milhões de euros, cerca de R$ 627 milhões.
Já Neymar é avaliado no mercado internacional em 75 milhões de euros, cerca de R$ 410 milhões.
Embora o Brasil siga empolgado com o camisa 10 da seleção, ele já chegou aos 30 anos e meio, não conseguiu ser o protagonista a levar o PSG à conquista de sua primeira Champions. Jamais foi o melhor do mundo. E hoje está atrás de Mbappé no clube francês.
Já Vinicius Junior está se firmando como um dos grandes jogadores do Real Madrid. Em uma crescente espantosa.
Está mais do que evidente que tem tudo para suceder a Neymar como o brasileiro mais importante no futebol mundial. E na seleção.
Não ganhou a posição de titular à toa na estreia do Brasil, amanhã.
"Eu quero ajudar a seleção a voltar a ser campeã do mundo. Vou fazer de tudo. O Brasil merece", disse Vinicius Junior antes da chegada ao Catar.
Promessa é dívida...
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