Venda de Paquetá é a desculpa para uma briga que pode implodir o Flamengo
FlamengoSão Paulo, Brasil
Beira o inacreditável.
O Flamengo faz uma corrida de recuperação no Brasileiro. Faltando nove rodadas para o campeonato acabar, o clube é terceiro colocado, a quatro pontos do líder Palmeiras, com quem tem confronto direto no Maracanã.
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Vem de uma imponente vitória diante do rival histórico, o Fluminense por 3 a 0. Foi o primeiro clube a levar um milhão de pessoas aos estádios como mandate em 2019.
A torcida está empolgada.
A dívida atual do clube, beira os R$ 300 milhões.
Resultado excelente, para quem devia R$ 800 milhões, em 2012.
Os estatutos do clube foram mudados para punir dirigentes desonestos.
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A passagem de Eduardo Bandeira de Mello, com seus dois mandatos, deveria ser motivo de pacificação, fortalecimento da política interna do clube.
Selar a união das várias facções políticas.
Só que muito pelo contrário.
Tem tudo para terminar de forma deprimente.
O motivo foi a venda de Lucas Paquetá para o Milan.
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O clube negociou o garoto de 21 anos por 35 milhões de euros ao Milan, cerca de R$ 150 milhões. O clube ficará com R$ 100 milhões, já que 30% dos direitos são do jogador e de seus agentes. E o dinheiro ao clube será pago em quatro parcelas de R$ 25 milhões.
Só que a multa era de R$ 200 milhões.
A chapa Unifla, encabeçada por Rodolfo Landim, que luta pela presidência do clube, foi direta. Publicou um manifesto com várias acusações a Bandeira de Melo. Gravíssimas.
A venda do atleta Lucas Paquetá é analisada por nós da Chapa Unifla sob cinco pontos fundamentais.
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1) É inacreditável que façam isso na reta final do Brasileiro, demonstrando que a diretoria atual não tem o menor compromisso com a vitória.
2) É inaceitável que a venda tenha sido feita por um valor abaixo da multa. E, no mínimo questionável, que tenha acontecido a 82 dias do final da gestão atual. Qual o critério para se abrir mão da possibilidade de um valor maior
3) Tal fato se agrava com a participação de um VP do Futebol - e candidato à presidência do clube (o vice Ricardo Lomba) - que recentemente deu declarações sobre a possível venda do atleta, já planejando a aquisição de possíveis substitutos. Nunca é demais lembrar que uma parcela significativa das negociações fica com empresários, advogados etc. É difícil entender que o clube venda o nosso melhor jogador para comprar outros, havendo ainda perda de dinheiro.
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4) O timing da transação é um enigma. Ou a negociação foi fechada e não comunicada para que não atrapalhasse os objetivos eleitorais do presidente Bandeira; ou é um castigo que ele quer impor ao associado e ao torcedor em função do fracasso nas urnas. O que é pior? Ele saber e não contar, ou fechar depois da apuração como forma de punir quem não votou nele?
5) Na nossa visão, craque o Flamengo faz em casa. Mas, na atual administração, o craque feito em casa é vendido de qualquer forma, e o dinheiro é jogado no lixo.
Comissão paga por Bandeira de Mello é questionada na compra de Vitinho
FlamengoApesar da popularidade como presidente do clube com maior torcida no país, Bandeira de Melo não conseguiu ser eleito deputado federal. Ele concorreu pelo partido Rede. E conseguiu apenas 38.500 votos.
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A oposição sugere que a venda do principal jogador do time seria uma vingança ao torcedor que não votou nele.
A acusação teve tanta força que está prometida para hoje a abertura de um inquérito no Flamengo para não só investigar a venda de Lucas Paquetá. Como a compra de Vitinho.
"Essa transação do Paquetá tem características fora do padrão que chamam atenção. A janela só abre em janeiro, mas a venda está sendo feita no meio do campeonato. Do preço total, 30% vão para uma empresa.
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"É grave o fato de a venda ser feita por valor muito abaixo da multa. Eu, como presidente do Conselho Deliberativo, não posso ter outra atitude que não seja apurar essa negociação. Será aberto um inquérito para estudar o que aconteceu. Acho muito estranho, acho que tem outros interesses.
"Há uma renúncia de 15 milhões de euros. A multa é 50 milhões e resolveram baixar para 35 milhões. Estamos no meio do campeonato, a janela só abre em janeiro. Isso é uma questão fora de padrão. Essa questão deveria ter ficado com o presidente do ano que vem", sacramenta o presidente do Conselho Deliberativo, Rodrigo Dunshee.
Ele também investigará a compra de Vitinho. Além dos dez milhões de euros, cerca de R$ 43 milhões, gastos com o jogador. Dunshee quer esclarecimentos sobre comissões pagas a empresários. Segundo ele, quem deveria bancar esse dinheiro é o clube que vendeu, o russo CSKA.
Dunshee além de presidente do Conselho Deliberativo é candidato a vice-presidente do clube na chapa de Rodolfo Landim.
Bandeira de Melo disse estar revoltado com essas suspeitas.
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Desabafou ontem pela manhã.
Falou até sobre a possibilidade de ser expulso do clube.
"Acho estranho que isso venha de uma pessoa que me conhece, conhece minha família. Nunca foi do meu feitio manipular algo para ter uma vantagem pessoais. Vocês têm visto investidas sobre questões pessoais minhas, coisas indevidas e mal-educadas. Coisas que deviam ser tratadas com profissionalismo, inclusive ameaçando me expulsar do clube.
"Se um dia quiser me expulsar e for desejo da maioria dos sócios, me expulse. Eu seguirei sendo torcedor. Eu não entendo assim, as pessoas com quem converso não entendem assim. Mas que tenhamos um pouco de tranquilidade para encerrar o ano. Deixem o Flamengo em paz."
A verdade é que não haverá volta.
O inquérito será aberto.
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E não há a menor dúvida que afetará o time.
O clube com Bandeira de Mello disputou 21 campeonatos.
Só venceu a Copa do Brasil em 2013 e dois Cariocas, em 2014 e 2017.
Não conquista o Brasileiro desde 2009.
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FlamengoMas seus políticos não se importam.
Pensam apenas nos seus interesses pessoais.
Se o Conselho Deliberativo acredita que a venda de Paquetá e a compra de Vitinho são suspeitas deveriam ser investigadas.
Mas que o clube se unisse para adiar as eleições, marcadas para dezembro, para janeiro.
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E só após o Brasileiro tudo fosse esclarecido.
O jogador já fez exames.
E acertou contrato de cinco anos com o Milan.
Vitinho já é do Flamengo.
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As comissões foram pagas.
Não mudaria nada esperar o time mergulhar na disputa do Brasileiro em paz. Até porque os dois jogadores serão afetados. Paquetá e Vitinho, mais seus estafes, terão de se explicarem. Isso faltando nove rodadas para o fim do importante torneio nacional.
Se Bandeira de Mello tiver prejudicado o Flamengo, que pague.
Mas a investigação acontece no pior momento possível.
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Esperar seria desfavorável à oposição.
Daí a abertura imediata do inquérito.
Triste futebol brasileiro.
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