Renato Gaúcho e sua desilusão na Gávea. O treinador pensou que seria um trampolim para a seleção
Alexandre Vidal/FlamengoSão Paulo, Brasil
"Encerro aqui mais um ciclo.
Todos temos sonhos a serem conquistados e treinar o Flamengo era um dos meus.
"Conquistei, não da forma que eu gostaria, porém, não faltaram garra e empenho para tentar sair com as conquistas que esperávamos.
"Quero agradecer ao Presidente Landim, ao Marcos Braz e ao Bruno Spindel pela oportunidade e por terem confiado em mim.
"Agradecer a todos os departamentos do clube que foram muito importantes nessa jornada. Agradecer aos jogadores e a torcida que, mesmo não sendo da forma que sonhávamos, não deixaram de ter Raça, Amor e Paixão.
"Isso é Flamengo!
"Sigo com carinho e admiração pelo Clube de Regatas do Flamengo.
"Sucesso aos próximos!"
Essa foi a despedida oficial de Renato Gaúcho do Flamengo.
Ele usou o que detesta, as redes oficiais, para deixar claro: seu maior sonho como treinador acabou se tornando o maior pesadelo.
Renato passou por várias fases como técnico, amadureceu. Voltou muito diferente depois dos dois anos que ficou sem trabalhar, entre 2014 e 2016. Embora milionário, vivendo muito bem no Rio de Janeiro, indo à praia várias vezes por semana, ele tratou de estudar futebol. À sua maneira, assistindo aos jogos, trocando ideias, conceitos com Mauricio Souza e com o falecido treinador Valdir Espinosa, campeão mundial pelo Grêmio.
Quando veio o convite para retornar como técnico do clube que é o maior ídolo na história, ele finalmente decidiu pôr em prática o que depurou. E também se assumir com mão mais forte no comando do time.
Conquistou quatro Campeonatos Gaúchos (2018, 2019, 2020 e 2021), uma Copa do Brasil, em 2016, e a Libertadores da América em 2017.
O desgaste veio, de acordo com a falta de investimentos do clube. E a ascensão no cenário nacional dos bilionários Flamengo e Palmeiras.
Renato Gaúcho passou a vislumbrar quais seriam os desafios que faltavam na sua carreira, na vida.
A dispensa do Grêmio, pela eliminação na Pré-Libertadores, foi pesada e injusta. Ele estava com Covid, impossibilitado de estar no banco de reservas. E o time gremista era absolutamente dependente do treinador. E o Independiente del Valle se classificou.
Renato queria muito treinar o Flamengo. Recusou proposta do Corinthians. Sondagem do Santos. E esperou o rubro-negro.
Assim que se tornaram públicos os vários problemas de relacionamento que Rogério Ceni cultivou na Gávea, veio a demissão do treinador. E a chance de Renato Gaúcho.
O grande erro foi não perceber a filosofia extremamente capitalista que impera na Gávea. Em vez de apenas comemorar ter finalmente um elenco de R$ 200 milhões, como desejava, ele deveria ter sido mais direto com a diretoria.
Não vender sonhos.
O elenco é excelente, mas, em posições-chaves, formado por veteranos. Com reserva abaixo dos titulares. Faltou deixar clara essa dificuldade. O time estava desgastado com tantos jogos, e com convocações de atletas fundamentais para as seleções brasileira, uruguaia, chilena.
Renato também não entendeu o quanto o presidente Rodolfo Landim é capitalista. Ele tinha três campeonatos para disputar: a Libertadores, a Copa do Brasil e o Brasileiro. Landim não abria mão de nenhum. Queria o dinheiro das premiações, a valorização dos atletas com a conquista, o patamar mais alto para seguir cobrando cada vez mais dos patrocinadores, das televisões, aumentando o preço dos ingressos.
Se o treinador se defendia por ter tido apenas "oito minutos" com os titulares efetivos do Flamengo, ele não soube usar o elenco. E, principalmente, buscar outras maneiras táticas de o clube atuar. Tanto que foi eliminado sem sofrimento da Copa do Brasil pelo Athletico Paranaense. Perdeu a final da Libertadores para o Palmeiras. E deixou escapar o Brasileiro, pelo velho vício de Gaúcho de poupar atletas na competição nacional, priorizando a Libertadores.
Além disso, enfrentou a ira da torcida acostumada com títulos desde a passagem fulminante de Jorge Jesus.
Renato nunca havia sido tão xingado quanto foi, por exemplo, contra o Athletico Paranaense, na eliminação da semifinal da Copa do Brasil. Torcedores esqueceram a partida em que o time era humilhado e passaram a ofender o treinador, que fingia não ouvir.
Enfim, a passagem pelo Flamengo foi o fracasso mais dolorido na história do técnico.
Renato Gaúcho sonhava que a Gávea o levaria à seleção brasileira, depois da Copa do Mundo do Qatar, quando Tite, finalmente, deixará o comando do time de Neymar.
Mas foram quatro meses de decepções.
E a demissão sumária após a perda da Libertadores.
Os dirigentes não o quiseram nem nos quatro últimos jogos do Flamengo.
Com os atuais, Renato não passa nem perto da Gávea.
O treinador sabe disso.
E o caminho de 2022 tem tudo para ser o mais previsível.
A volta ao lugar onde é tratado com todo respeito, paciência.
Reverência, até.
O Grêmio.
Ou seja, a Gávea não o levou à seleção.
Mas, muito provavelmente, à Segunda Divisão.
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