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Ninguém humilha Eurico Miranda

Brant pagou com a perda da presidência. Eurico deu o cargo a Campello

Cosme Rímoli|Cosme Rímoli

Eurico Miranda deu a resposta a Brant. Colocou Campello na presidência
Eurico Miranda deu a resposta a Brant. Colocou Campello na presidência Eurico Miranda deu a resposta a Brant. Colocou Campello na presidência

As lágrimas do médico ortopedista Alexandre Campello, ao assumir ontem o Vasco da Gama, celebraram a maior articulação, o maior golpe dado em uma eleição no futebol deste país. 

Porém, apesar de presidente, o homem mais cumprimentado na noite quente da segunda-feira, foi outro. Houve fila para abraços e afagos em Eurico Ângelo de Oliveira Miranda. Aos 73 anos, ele conseguiu manipular, reverter uma eleição perdida, burlar a vontade dos sócios, pela primeira vez em 119 anos.

O primeiro clube do país a aceitar negros no time, a abrir espaço para pobres entre os sócios, a romper a elitização das arquibancadas, se mostrou subserviente a um homem.

Ditador, centralizador, truculento, reacionário. Inúmeros adjetivos ligados ao autoritarismo marcam a trajetória de Eurico Miranda por São Januário. Incapaz de acompanhar a modernidade, o clube está mergulhado em dívidas, que ultrapassam R$ 424 milhões.

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O número exato Campello vai demorar para descobrir. Por um motivo nada nobre, a auditoria independente Anend, contratada por Eurico para verificar as contas do clube, como manda a lei, expressou em seu relatório que não pôde checar todos os dados. Ou seja, o balanço vascaíno é parcial. 

E há ainda o empurrão demagógico da deposta ex-presidente Dilma Rousseff, que liberou a farra do Profut. Liberando os clubes devedores de impostos ao governo de parcelar R$ 4 bilhões em dívidas. Em 20 anos. A medida exigia apenas que os clubes gastassem no máximo 70% de sua receita no futebol. Que criassem equipes de futebol feminino. E não criassem novas dívidas com o governo. 

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Dois anos depois da medida, como o blog anunciou em 2015, ficou evidenciada a farsa. Os clubes diminuíram suas dívidas, mas conseguiram apoio político para não dar contrapartida alguma. Apenas aproveitaram o dinheiro público. Uma vergonha.

O ex-presidente vascaíno foi um articuladores do Profut. E também da medida liminar que acabou com a exigência da Certidão Negativa de Débitos para a disputa de campeonatos neste país. Iludidos acreditaram, em 2015, que a CND iria impedir grandes equipes de jogar. 

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A inteligência e o poder de articulação de Eurico Miranda são impressionantes. E que foram desprezados pelo empresário Júlio Brant. Eurico tem 50 anos de Vasco da Gama. Nove anos a mais do que Brant tem de vida.

Com seu discurso modernista, cercado de ídolos como Edmundo, Felipe Pedrinho, e apontando as mazelas vascaínas: o ultrapassado estádio São Januário, equipes fraquíssimas, patrocínios baixíssimos, com três rebaixamentos nos últimos dez anos, Brant prometia uma revolução. 

Eurico Miranda representava o retrocesso, o atraso, o coronelismo. Os fracassos, as frustrações, o endividamento. Tudo conspirava para um vitória fácil do reformista. O septuagenário também enfrentava problemas físicos, abatido depois de duas ferrenhas lutas pela sobrevivência. Superou dois cânceres. Um na bexiga e outro no pulmão.

Parecia um alvo fácil. E foi menosprezado.

Só que Brant deveria ter percebido que o 'doutor' Eurico não iria entregar o comando do clube de mão beijada. Na primeira fase da eleição vascaína, a dos sócios, a justiça teve de interferir. Porque o que todas as pesquisas apontavam não se confirmou. De maneira muito estranha, foram 2.111 votos para Eurico, contra 1.975 de Julio Brant. Só que a urna 7 mostrava números absurdos. Mais de 90% dos votos foram de Eurico. Ela continha 475 votos. A esmagadora maioria deles de novos sócios vascaínos, que entraram no suspeito período entre novembro e dezembro de 2015, último período aceito para votação a presidente.

Campello havia aberto mão de sua candidatura para apoiar Brant.

A eleição aconteceu no dia 7 de novembro. Depois de vários capítulos na justiça, os votos da urna 7 foram anulados. E Brant já se considerava presidente do Vasco. Afinal, teria o direito de indicar 120 conselheiros. Eurico teria direito a indicar 30. Eles se juntariam aos 150 vitalícios.

Com a vitória na Justiça, Brant comemorou, fez plano de governo, humilhou Eurico. 

Astuto, Miranda não aceitaria passivamente sua derrota. E tratou de articular. E percebeu que havia um nome completamente desprezado na eleição vascaína. Alexandre Campelo, o coadjuvante parceiro de Brant. Ele sempre foi muito mais respeitoso, menos radical ou midiático. Era o mais próximo da oposição.

Longe de tudo e de todos, Eurico se reuniu com Campelo e deu o golpe de mestre. Ofereceria todos os votos dos 'seus' conselheiros e, com os poucos que o médico possuía, acabaria presidente vascaíno. O que exigia de volta era principalmente respeito. Não iria violentar a diretoria sonhada por Campelo. E abriu mão de sua candidatura.

Jamais Brant não esperava que o que o dono da quarta força na eleição tomaria essa atitude. E quando acordou, se viu derrotado na eleição vascaína. Campelo chegou a 154 votos contra 88 de Brant. Ficará três anos no poder.

"O que aconteceu hoje aqui foi uma vergonha, uma mancha na história do clube. Em seus 120 anos jamais aconteceu de a vontade do sócio que representa a voz de milhões de vascaínos espalhados pelo mundo ser desrespeitada no conselho. Isso é uma vergonha para um clube que se diz democrático.

Brant falava como presidente do Vasco. Menosprezou o poder de Eurico
Brant falava como presidente do Vasco. Menosprezou o poder de Eurico Brant falava como presidente do Vasco. Menosprezou o poder de Eurico

"Uma vergonha para a nossa democracia. O Vasco é grande, uma representação importante da sociedade brasileira. Aconteceu do segundo lugar se juntar ao quarto lugar, a quem se dizia ser contra, para impedir uma real mudança dentro do Vasco", desabafou Brant.

E ontem, Campello chorou e assumiu a presidência.

Ao lado dele, na mesa, Eurico Miranda, sorrindo, satisfeito.

Encarando os jornalistas que já o consideravam 'morto'.

Ele continuará influenciando as decisões mais importantes.

"Qual a hipótese de eu ser derrotado no Vasco

"Nenhuma."

Ironiza, Eurico Miranda.

Brant terá três anos para pensar no poder dessas frases...

Eurico Miranda comemora tirar a presidência de Brant
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