São Paulo, Brasil
"Eu aprendi no futebol que a gente vive de vitórias, o esporte é assim. Não podemos ir contra o que dignifica o clube, a camisa é vitoriosa, de conquistas.
"Não pode temer nenhum adversário. Por mais respeito que a gente tenha por outras camisas, somos do tamanho de todas elas."
Estas foram as palavras de Vagner Mancini no domingo passado.
Ele falava especificamente sobre o seu time haver vencido o Novorizontino e ter sido fundamental para a sobrevivência do Palmeiras no Paulista. Bastaria uma derrota e o grande rival estaria eliminado.
E não seria o adversário de amanhã, às 16 horas, em Itaquera. No jogo único, valendo a classificação para a final do Paulista.
Mancini está em uma péssima situação. Ao optar guardar dez titulares os confrontos contra a Internacional de Limeira, pelas quartas e para a partida semifinal amanhã, ele expôs o Corinthians a um vexame histórico.
A tomar a maior goleada em torneios internacionais de sua história. Sendo humilhado pelo Peñarol, no Uruguai, na Copa Sul-Americana. Perdeu por 4 a 0 e escapou de tomar mais gols.
Nos 44 jogos sob seu comando, foram três derrotas vergonhosas. Além da vergonhosa partida de quinta-feira, houve 5 a 1 para o Flamengo, em Itaquera, e outro 4 a 0, para o próprio Palmeiras, na arena da Água Branca.
A leitura é simples para conselheiros e membros das organizadas. Ninguém queria que o Corinthians entregasse o jogo para o Novorizontino. O que interessa é a parte em que Mancini declarou não temer o Palmeiras.
Se ele expôs o clube a não lutar por eventuais R$ 32 milhões, caso vencesse a Copa Sul-Americana, que ele elimina o Palmeiras amanhã, na casa corintiana.
Cássio, João Victor, Jemerson e Raul Gustavo; Fagner, Gabriel, Ramiro, Luan e Lucas Piton; Otero e Cauê.
Esse deverá ser o time que Mancini colocará para enfrentar o rival Palmeiras.
A pressão é tão grande que a diretoria autorizou que fosse colocado um vídeo nas redes sociais, de uma chave girando uma fechadura. A mensagem é: hora de 'virar a chavinha', ou seja, esquecer o vexame na Sul-Americana e apoiar o time contra o Palmeiras.
A iniciativa não foi bem-vinda. Acabou rejeitada. Muitos torcedores garantiram que não esqueceriam a vergonha que o clube passou no Uruguai.
E Mancini está tratando de tentar fazer isso. Está tratando como a partida mais importante de sua carreira. Ele já foi campeão da Copa do Brasil, comandando o Paulista de Jundiaí, em 2005. A trajetória não decolou como se esperava.
Ele largou o Atlético Goianiense em outubro do ano passado, na reta final do Brasileiro, para assumir o 'maior desafio de sua carreira'.
Vivido, como jogador, dirigente e treinador, ele sabe da enorme responsabilidade, da pressão para vencer amanhã o grande rival. Que só chegou à semifinal do Paulista pela postura séria dos seus jogadores.
Há um grande descontentamento atual sobre seu trabalho. Embora o presidente Duílio Monteiro Alves lembre bem que ele foi contratado para evitar o rebaixamento no Brasileiro, a situção é completamente diferente.
Uma eventual eliminação para o Palmeiras, amanhã, pode custar o emprego de Mancini. Ele sabe muito bem do contexto. Não é alienado. Sabe muito bem onde aceitou trabalhar.
A postura das principais organizadas, alinhadas com a diretoria é, no primeiro momento, antes da partida, apoiar. Dar força moral para o time eliminar o eterno rival.
Depois, em caso de novo fracasso, cobrar.
Centralizar na figura de Vagner Mancini.
O homem das escolhas no futebol.
Por isso, de todos os envolvidos, é para o treinador corintiano que esta semifinal vale mais.
O destino foi muito irônico.
Envolve o maior clássico de São Paulo.
Contra o clube que foi resgatado da eliminação, por seus ideais.
E que não teme.
A princípio, o presidente Duílio promete apoio, independente do resultado amanhã.
Mas muitas vezes o Corinthians já mostrou sua maior característica.
Ser incontrolável...