Em uma ilha misteriosa ou em um cassino indígena. UFC 249 será histórico
Reprodução/TwitterSão Paulo, Brasil
Delírio, loucura, irresponsabilidade?
Blefe?
Ou força de um evento de R$ 21 bilhões?
Em 1973, Bruce Lee estrelou o filme "O Dragão Ataca". Um dos maiores sucessos de bilheteria do mestre em artes marciais, o enredo era simplório e foi copiado várias vezes.
Lutadores se reuniam em uma ilha misteriosa para lutarem por dinheiro e por suas vidas. Lógico que, depois de muito sofrer, o personagem de Lee venceu. E ainda acabou com a vida do promotor dos sangrentos combates.
Dana White, lutador frustrado de boxe, é responsável pela revolução no UFC.
Como promotor, ele viu toda a potencialidade do evento de artes marciais.
Ele esteve por trás da compra do UFC, que estava para falir, em janeiro de 2001 pelos irmãos Zuffa, donos de redes de cassinos. Eles pagaram 2 milhões de dólares, atuais R$ 10,4 milhões, para Rorion Gracie e John Milius, criadores do evento.
10% do evento ficou para Dana.
Dana transformou o vale tudo em uma disputa com regras rígidas de MMA. Criou ranking por peso, que várias vezes desrespeita, mas criou.
Deu lógica à competição.
Espetacularizou os combates. Criou ídolos como Conor McGregor, Jon Jones, Ronda Rousey. Investiu em reality shows, que aproximaram o público dos lutadores.
Derrubou vetos que pareciam eternos, como o de Nova York. Trouxe as mulheres para o UFC. As noites de combates são vistas, ao vivo, por cerca de 190 países.
Grandes conglomerados se interessaram e, depois de um leilão sangrento, Dana intermediou a venda do UFC para o grupo chinês WME-IMG por 4 bilhões de dólares atuais, R$ 21 bilhões.
Dana foi mantido como presidente e como acionista do UFC. Sua porcentagem caiu, lógico. Mas 1% já lhe traz muito dinheiro.
Dana é o promotor mais bem sucedido da história dos combates. Deixou para trás o badalado, e hoje octagenário, Don King.
Aos 50 anos, multimilionário, tratado como estadista para onde vai, se defrontou com seu maior inimigo: a pandemia de coronavírus.
Nas redes sociais, Dana White é ironizado. Filme de Bruce Lee é lembrado
Reprodução/TwitterIrado, fez o UFC Night 170, em Brasília, histórico. No dia 14 do mês passado, o evento foi fechado para o público, para a imprensa. 30 jornalistas ficaram em um hotel, onde os lutadores foram levados para coletiva.
O ginásio Nilson Nelson ficou vazio.
O card era simples, fraco, não houve nenhuma disputa de cinturão, como costumam ser os UFC Night.
Mas havia o UFC 149.
Muito importante.
Colocaria em disputa o cinturão dos leves entre Khabib Nurmagomedov e Tony Ferguson. A esperada luta foi adiada nos últimos anos, por vários motivos. Por quatro vezes.
Só que o coronavírus adiou pela quinta vez.
Nurmagomedov ficou impedido de sair da Rússia.
Dana convocou o norte-americano Justin Gaethje, quarto do ranking, para enfrentar Ferguson.
Só que o governador de Nova York, Andrew Cuomo, anunciou que todos os eventos esportivos estavam cancelados na cidade, enquanto durar a pandemia. Inclusive, o UFC.
Quase todos os países civilizados do mundo tomaram a mesma atitude. Estão proibidas as competições. Mesmos com os estádios e arenas sem público.
Oportunista, Dana White viu na proibição uma maneira de chamar a atenção para o UFC.
E decidiu enfrentar a lógica.
Convocou os lutadores envolvidos no card.
Entre eles, a ex-campeã peso palha, Jéssica 'Bate Estaca', Andrade. Ela tem a revanche marcada com Rose Namajunas, de quem tirou o cinturão, antes de ser derrotada pela chinesa Zhang Weili.
Jéssica embarcou para os Estados Unidos na semana passada. Ela e sua equipe paramentadas com máscaras e luvas. Postou hoje de Las Vegas.
Dana White ontem confirmou o evento.
Jéssica chegou nos Estados Unidos há seis dias. Equipe com máscaras
Reprodução/InstagramDeu sua palavra que o UFC 249 acontecerá daqui dez dias, 18 de abril.
Com transmissão para o mundo todo.
Sendo mostrada para os Estados Unidos pela ESPN.
Daí vem o enredo do filme de Bruce Lee.
Dana disse que as 12 lutas acontecerão em uma ilha, como na película "O Dragão Ataca."
Sem público.
Levaria os lutadores em pequenos aviões para combate, os 'caças'.
Sendo em uma ilha particular, não haveria a chance de país nenhum vetar a competição por conta do coronavírus.
O presidente do UFC garante que todos os lutadores, treinadores, juízes já foram submetidos a rigorosos exames e não estão infectados. Novos exames serão feitos no próprio sábado, dia do evento,
Dana conseguiu a atenção de todo o planeta.
O mundo está privado de competições.
O UFC 249 seria histórico por 'derrotar' a pandemia.
Enquanto o mundo se admira com a ideia, o jornal New York Times garante que a ilha não passa de blefe.
E as lutas acontecerão na arena do cassino Tachi Palace Casino Resort. Em uma reserva indígena na Califórnia a 317km ao norte de Los Angeles.
Hotel e cassino Tachi. Pertence a indígenas. Sem veto pelo coronavírus
Reprodução/TwitterComo o cassino pertence à tribo Tachi-Yokut não haveria problema.
As tribos são soberanas e não se submetem à legislação do estado da Califórnia, que proíbe disputas esportivas.
No Tachi aconteciam os eventos de MMA, o extinto WEC.
O cassino estava fechado desde o dia 20 de março, pela pandemia.
Dana: filme de Lee, inspiração
Reprodução/TwitterBasta o UFC ter mesmo reservado o cassino, que o evento está garantido.
Uma coisa, no entanto, é certa.
Dana White conseguiu.
Tem a atenção do mundo para o UFC 249.
Na ilha misteriosa.
Ou no cassino dos indígenas.
Os 24 lutadores já estão nos EUA.
Só esperando a ordem para onde ir.
Loucura?
Oportunismo?
Vitória do esporte?
Golpe de mestre de Dana...
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