São Paulo, Brasil
"Tenho vários jogos pelo profissional e nunca vim na imprensa falar nada porque nunca tinha sofrido preconceito, nem sido vítima nenhuma vez. O Ramirez, quando tomamos acho que o segundo gol, o Bruno fingiu que ia chutar a bola e ele reclamou com o Bruno.
"Eu fui falar com ele e ele falou bem assim para mim:
"'Cala a boca, negro'.
"Eu nunca falei nada disso, porque nunca sofri.
"Mas isso aí eu não aceito."
Esse depoimento de Gerson, após a vitória do Flamengo sobre o Bahia, por 4 a 3, mobilizou o país, no dia 20 de dezembro de 2020.
Principalmente a crônica esportiva, que ficou contra o colombiano do Bahia.
Mas as câmeras de transmissão não flagraram as palavras que teriam sido ditas por Ramírez.
Os auditores STJD que poderiam tomar uma atitude histórica, se comprovada a atitude racista, estavam em recesso para as festas do final do ano. E assim continuaram, atrasando a análise da denúncia.
O assunto racismo sempre foi um incômodo para o futebol brasileiro.
Os veteranos treinadores Vanderlei Luxemburgo e Luiz Felipe Scolari sempre defenderam que as ofensas trocadas dentro de campo, fiquem por lá. Como se dentro do gramado não houvesse lei, respeito às pessoas e que o racismo não fosse crime.
A direção do Flamengo garantiu que levaria o caso "às últimas consequências". Até para servir como "exemplo" para a sociedade.
O próprio Bahia chegou a afastar o jogador.
Mano Menezes comparou a acusação de Gerson à 'malandragem'.
O meio-campista do Flamengo depôs na à Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância, no dia 22 de dezembro.
"Vim falar sobre o ocorrido, mas não vim falar apenas sobre mim. Falo pela minha filha, que é negra. Pelos meus sobrinhos, que são negros. Meu pai, minha mãe, amigos... por todos os negros. Hoje tenho status de jogador de futebol e voz ativa para falar e dar força a quem sofre racismo ou outros tipos de preconceito."
O Ministério Público investiga a denúncia de injúria racial.
De maneira paralela, a questão corria na esfera esportiva.
Lenta como o sistema judiciário deste país.
O Flamengo, de maneira estranha, queria que o STJD esperasse a decisão da justiça comum.
O tribunal não só não atendeu, como fez questão de exigir o depoimento de Gerson;
O clube carioca marcou para hoje, dia 3.
Seria por videoconferência.
Só que, de maneira mais estranha, Gerson não depôs, às 10h30.
A desculpa é que estaria 'concentrado' para o clássico de amanhã, às 21 horas.
Hoje à tarde, Ramírez e Mano Menezes prestarão seus depoimentos.
O treinador está desempregado, foi mandado embora do Bahia.
Mas o volante jogará ainda nesta noite, às 21h30, contra o Fluminense.
Não foi usada a desculpa de 'concentração'.
A tendência, diante da atitude do jogador do Flamengo, que teria agido a mando do clube, é que a acusação de racismo.
O zagueiro flamenguista Nathan que, segundo Gerson, teria ouvido a ofensa, também não depôs.
Com essa situação, o caso deverá ser arquivado, por falta de provas.
E Ramírez escapará do artigo 243-G do Código Brasileiro de Justiça Desportiva: praticar ato discriminatório, desdenhoso ou ultrajante, relacionado a preconceito em razão de origem étnica, raça, sexo, cor, idade, condição de pessoa idosa ou portadora de deficiência.
A pena é de seis a dez jogos. Mais multa entre R$ 100,00 e R$ 100 mil.
A situação deve atingir também a esfera civil.
E o caso 'esquecido'.
A postura do Flamengo, de Gerson é inaceitável.
Inaceitável, se houve a 'injúria racial' de Ramírez.
O próprio jogador 'matou' a denúncia...
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