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"Era um local irregular", assume monitor, sobre o Ninho do Urubu

O homem que deveria estar cuidando dos garotos do Flamengo, no terrível incêndio que matou dez meninos, sabia que dormitório improvisado e ilegal

Cosme Rímoli|Do R7 e Cosme Rímoli

O dormitório improvisado ardendo em chamas. 10 meninos mortos
O dormitório improvisado ardendo em chamas. 10 meninos mortos O dormitório improvisado ardendo em chamas. 10 meninos mortos

São Paulo, Brasil

Muito sério.

Chocante, até.

Mas o ex-monitor dos garotos de base do Flamengo, Marcus Medeiros, acaba de escancarar na Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro.

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Ele escancarou toda a irresponsabilidade do clube, que expôs seus meninos ao terrível incêndio na madrugada do dia 8 de fevereiro de 2019.

E que culminou na morte de dez garotos.

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Marcus é um dos indiciados pela Polícia Federal, como um dos responsáveis pelas mortes dos meninos.

Assustado com a possibilidade de ser preso, ele confirmou o desleixo com que o Flamengo tratava os jogadores da base.

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"Acho uma injustiça as acusações.

"Se eu estivesse ali, não estaria vivo.

"O que pude fazer para resgatar os meninos, eu fiz.

"Na gíria, querem pegar um bucha, um pato.

"A corda arrebenta para o mais fraco.

"Eu não assino nada. 

"Não montei contêiner.

"Estava trabalhando num lugar irregular.

"Poderia estar morto junto, por que sou culpado?

"Eu cumpria ordens."

Marcus não poderia ser mais claro. 

Não deixou margens para dúvidas.

Sabia que trabalhava em um local irregular.

Contêineres soldados, altamente inflamáveis, que serviam de dormitório para 36 meninos.

Por sorte, muitos garotos estavam fora, dormindo em casa de parentes ou amigos, porque era folga dos times de base do Flamengo.

Instalado em um local que, para Prefeitura do Rio de Janeiro, deveria haver apenas um estacionamento. Jamais um dormitório.

Marcus também revela como era frágil o monitoramento das crianças.

"Minha função era ir de quarto por quarto conferir.

"A partir daí, era responsável por dar a ceia e botar os meninos para dormir e orientado a fazer rondas, uma função de vigia, que não era minha.

"No momento da tragédia, eu estava fora.

"Fui tomar um suco do lado de fora. Foi aí que ouvi a explosão e o corre corre.

"Fui por trás do contêiner e consegui puxar alguns garotos. Todos eles viram a minha luta."

Os dez garotos mortos no dormitório improvisado e irregular
Os dez garotos mortos no dormitório improvisado e irregular Os dez garotos mortos no dormitório improvisado e irregular

Ou seja, todo o esquema de segurança na madrugada dependia dele. 

E Marcus também não estava no seu local de trabalho.

Ao tomar um 'suco do lado de fora', ele deixou os meninos expostos à própria sorte. E, tudo indica, que um curto circuito no aparelho de ar condicionado central, deu início ao terrível incêndio.

Fica impossível avaliar caso Marcus estivesse no dormitório improvisado, mais vidas teriam sido salvas.

Mas ficou evidente o quanto o Flamengo arriscou a vida dos seus meninos.

Depois das mortes, Marcus reclamou do tratamento que recebeu do clube.

Ele considera que é por ter sido indiciado como um dos responsáveis pelas mortes.

"Desde então, o Flamengo me tirou do Ninho do Urubu e agora trabalho na Gávea. Me fazem de bola de pingue-pongue.[

"Na geladeira.

"Mesmo sabendo da minha situação, e isso é muito ruim."

O seu depoimento foi o mais esclarecedor.

Depuseram hoje, além de Marcus, Antonio Marcio Garotti, diretor financeiro do Flamengo, Rafael Strauch, ex-vice-presidente de administração, Luiz Humberto Costa, gerente de administração e hotelaria, Marcelo Helman, ex-diretor executivo de administração do CT.

Eduardo Bandeira de Mello, ex-presidente do Flamengo, Alexandre Wrobel, ex-VP de patrimônio, Fred Luz, ex-CEO, Rodrigo Dunshee, VP jurídico, Rodrigo Dunshee, além do atual CEO do clube, Reinaldo Belotti, também já deram suas explicações.

O Flamengo segue sem acordo com a maioria das famílias dos meninos mortos.

Briga ferrenhamente para pagar uma indenização muito mais baixa do que a proposta pelo Ministério Público: R$ 2 milhões para cada família e R$ 10 mil por mês, até que cada um dos adolescentes mortos completasse 45 anos.

O Flamengo usa o incêndio da boate Kiss, no Rio Grande do Sul, como parâmetro. Até hoje, as famílias das 237 pessoas mortas em 2013, não foram ressarcidas.

Por isso, a direção do clube acredita estar sendo até generosa.

Oferece R$ 300 mil a cada família.

Mais dois terços de um salário mínimo, por garoto morto, por dez anos.

O impasse continua.

E ninguém foi culpado judicialmente pelas mortes dos meninos.

Assim caminha a lenta justiça desse país...

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