Se o Brasil não abrisse mão dos impostos, não teria disputado e vencido o Mundial
CBFSão Paulo, Brasil
Enquanto o Campeonato Brasileiro entrava na sua fase decisiva, neste mês de novembro, outro torneio, praticamente fantasma, era disputado.
Seus jogos aconteciam em palcos pequenos, modestos, longe das arenas da Série A do torneio nacional.
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Estádio Olímpico Pedro Ludovico Teixeira, em Goiânia, com capacidade para 13.500 pessoas.
Estádio Walmir Campelo Bezerra, em Brasília, capacidade, 20 mil pessoas.
Estádio Kleber Andrade, em Cariacica, Espírito Santo. Capacidade: 21 mil pessoas.
Estádio Hailé Pinheiro, em Goiânia. Capacidade: 9.900 pessoas.
O torneio foi o Mundial sub-17.
Disputado de dois em dois anos, reúne garotos até 17 anos.
Ele aconteceria no Peru.
Mas a Fifa retirou a competição do país vizinho.
O motivo?
O governo não abriu mão de cobrar impostos sobre a competição. Como transmissão e tudo envolvendo a competição. Além de assegurar a proibição de vendedores ambulantes ao redor dos estádios.
Era o artigo número oito do caderno de exigências da Fifa.
O Brasil, que não havia conseguido sequer se classificar para a competição, se aproveitou. A CBF não teve dificuldade em convencer políticos de Brasília, Goiânia e Cariacica da promover o torneio.
E o governo brasileiro, como fez na Copa do Mundo de 2014, abriu mão da cobrança de qualquer imposto.
A competição garantiu à Fifa nada menos do que 4 bilhões de dólares, cerca de atuais R$ 16,7 bilhões.
Por esse gesto, conseguiu o Mundial.
E a Seleção Brasileira que havia dado o grande vexame de não se classificar, ganhou sua vaga como anfitriã.
Em março, o Brasil perdeu por 3 a 0 para a Argentina. Perdeu a vaga ao Mundial
Reprodução/TwitterÓtima manobra da CBF, já que a competição tinha de acontecer na América do Sul.
A Globo, dona do monopólio do futebol no país, conseguiu o direito de transmissão, que fazia no seu canal a cabo, Sportv.
O Flamengo se recusou a ceder o meia Reinier para a competição. Por julgar que o Brasileiro e a Libertadores são muito mais importantes, mesmo com o garoto sendo reserva no time.
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A jovem estrela do Vasco, Talles Magno, chorou ao ter de abandonar o clube, lutando para não chegar perto da zona de rebaixamento, e disputar o Mundial.
Com o apoio maciço da torcida e com a surpreendente melhora do time, o Brasil foi ganhando suas partidas e chegou à final.
A cúpula da TV Globo sabe que a audiência do futebol vem caindo ao longo dos anos na tevê aberta. Cerca de 22% nos últimos dez anos.
Um dos motivos apontados pelos executivos está no fracasso da Seleção Brasileira principal, que não consegue uma Copa do Mundo desde 2002, há 17 anos.
Quando o Brasil foi decidir hoje, o torneio, a Globo decidiu mostrar a final diante do México.
O Brasil comemora o empate graças a um pênalti inexistente na final
Ueslei Marcelino/Reuters - 17.11.2019O jogo foi marcado para as 19 horas, depois dos jogos principais do Brasileiro.
A emissora fez da final torneio dos garotos, que era desprezado pela emissora, um grande evento.
E, principalmente, uma maneira de protestar publicamente contra a Seleção de Tite.
Sem citar nominalmente a equipe profissional, que está há cinco partidas sem vitória, e que irrita os patrocinadores e afasta a audiência, o narrador Gustavo Villani, deu inúmeras estocadas.
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"O futebol brasileiro não morreu. Não, ao futebol da preguiça. Essa seleção tem vontade de vencer..." E por aí.
A Seleção perdia a partida por 1 a 0, gol de González, aos 20 minutos da segunda etapa.
Empatou em um pênalti inexistente em Verón, aos 38 minutos.
Kaio Jorge cobrou.
E a Seleção virou o jogo, aos 47 minutos.
Gol de Lázaro, do Flamengo.
O atacante só não estava no incêndio onde morreram dez jovens promessas na concentração rubro negra, em 8 de fevereiro, porque estava de folga. Se não estaria dormindo no alojamento.
O Brasil chegou ao tetracampeonato mundial sub-17.
Do torneio que não teve competência para se classificar.
Lazaro marcou o gol da vitória. Por sorte escapou do incêndio no Flamengo
CBFSe o país não fosse tão condescendente e liberasse a Fifa e os participantes de qualquer imposto, não teria conseguido sequer disputar a competição.
Sorte que os políticos brasileiros não são tão rígidos quanto os peruanos.
Mas é melhor não pensar.
Melhor comemorar.
Como a Globo tanto quer.
"É tetra, é tetra, é tetra..."
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