Mano não conseguia fazer mais o Cruzeiro jogar. Demissão correta
Vinnicius Silva/CruzeiroSão Paulo, Brasil
"É muito mais que uma fase difícil.
"São 18 jogos e apenas uma vitória.
"E isso no futebol não se sustenta."
“Não acho que a direção do Cruzeiro tenha me derrubado. Acho a saída justa. Num conjunto de 18 jogos, você vencer um, não pode continuar o trabalho. Por isso tive a iniciativa de conversar com eles no domingo e hoje também. "
"Tenho respeito pelo Cruzeiro e gosto das pessoas com as quais trabalhei. Não vou perder o respeito porque os resultados não vêm. É simples e é justo que se faça essa interrupção neste momento."
"Em duas oportunidades, eu vim aqui e iniciei uma reação (essa foi sua segunda passagem pelo clube), mas hoje precisa vir outro profissional, com novas ideias, nova cabeça, para propor algo diferente e ver essa reação acontecer. Ela não pode esperar mais. Não tenho nenhuma outra justificativa para dar."
Muito coerente, firme, direto.
E, principalmente, correto.
Mano Menezes se mostrou muito digno na sua saída do Cruzeiro, definida neste início de madrugada, após mais uma frustrante derrota.
Seu time caiu diante do Internacional, por 1 a 0, na primeira partida pela semifinal da Copa do Brasil. Derrota dolorida demais, com o Mineirão lotado, repleto torcedores tentando apoiar uma equipe frustrante, que acumulou oito jogos sem uma vitória sequer.
O Cruzeiro que já fora eliminado nas oitavas-de-final da Libertadores, em Belo Horizonte, pelo River Plate.
É 18º no Brasileiro, com 10 pontos, em 39 possíveis. Mergulhado na zona do rebaixamento.
Caminhar para a eliminação da Copa do Brasil também foi demais.
A torcida que tentou apoiar, se revoltou nos últimos minutos da partida, começando a xingar o time e, principalmente, Mano Menezes.
A revolta acabou na demissão.
Em conjunto, de verdade.
Mano percebeu que não tinha mais ambiente para continuar.
E a diretoria admitia que ele não funcionava mais como comandante de um grupo caríssimo, que foi montado para ser campeão da Libertadores, não para acumular vexames e colocar em risco a classificação para a Libertadores de 2020, podendo até ser rebaixado para a Segunda Divisão do Brasileiro.
Edenílson comemora diante dos revoltados cruzeirenses
Site InternacionalA busca agora é por um novo comandante. Com planos para trabalhar o resto do ano e próxima temporada.
Nomes fortes para tentar uma reviravolta estão empregados. Jorge Sampaoli, Fábio Carille, Marcelo Gallardo.
Rogério Ceni também é citado pela imprensa mineira.
Um treinador desempregado tem aceitação do grupo, principalmente de Fred e Thiago Neves, que o adoram: Abel Braga.
A direção cruzeirense tem de agir rápido, para tentar salvar 2019.
Quanto à saída de Mano Menezes, foi mais do que justa. Foram três anos e um mês de um trabalho que deu quatro títulos. Dois representativos, duas Copas do Brasil. E, dois não, os provincianos Mineiros.
Mas mal iniciou 2019 ficou claro que o repertório de Mano Menezes se esgotou com o grupo que tinha nas mãos. Esse, infelizmente, é um dos problemas que o treinador a longo prazo enfrenta.
Se domina o clube, conhece cada jogador, o envolvimento com o grupo pode atrapalhar, os gritos, as cobranças não funcionam mais. A maneira de empolgar a equipe para os jogos importantes se repete.
Porém o grande obstáculo que foi se tornando intransponível era o tático.
Mano é um especialista em montar defesas e contragolpear em velocidade. Foi assim por onde passou. Mas, por pressão da diretoria, tinha um grupo técnico, de toque de bola, e com jogadores fundamentais entrando na fase final da carreirra. Sem fôlego para a intensidade que o futebol proposto pelo técnico exigia.
Marcação fortíssima, ataque em bloco, veloz e recomposição imediata, sem a bola. O Cruzeiro passou a ter sérias dificuldades em atacar.
Os gritos de 'burro', 'retranqueiro' refletiam o desespero da torcida que via uma equipe que ficava a maior parte do tempo com posse de bola, mas se perdia em trocas de passes inúteis. Por conta da falta de efetividade do meio de campo, divorciado dos atacantes.
Laterais sem convicção, coragem de buscar as triangulações, ajudar o time a buscar a linha de fundo para atacar.
Mano admitiu na sua última coletiva. O Cruzeiro precisa de novas ideias
Reprodução/TwitterO Cruzeiro ficou previsível, fácil de anular. E que transpirava insegurança, principalmente diante de sua torcida, em 2019.
Fred era o representante maior da solidão no ataque. Ele, que nunca foi de se movimentar, ficava irritadíssimo esperando a bola que nunca chegava.
O Cruzeiro de Mano era irritantemente defensivo.
O ambiente para o treinador tabalhar ficou péssimo, com a diretoria sendo acusada de inúmeras irregularidades, que culminou na saída de Itair Machado, homem forte do futebol do clube.
Para o bem do Cruzeiro, a saída de Mano Menezes foi a melhor notícia.
E também para o treinador.
Com 57 anos, já milionário, Mano precisa parar, refletir, estudar.
Se reciclar.
Ele é inteligente.
Tinha de buscar outro clube, outro grupo, outros jogadores
E, principalmente, estudar outra maneira de montar suas equipes.
O ciclo de três anos e um mês foi longo demais.
Só daria certo se houvesse a reformulação completa para esta temporada.
O que não aconteceu com a crise vivida pela diretoria.
Com os mesmos jogadores ficou impossível renovar as ideias.
Mano e Cruzeiro tinham de seguir rumos diferentes...
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