São Paulo, Brasil
Pela primeira vez nos 50 anos do Campeonato Brasileiro, o título pode ficar nas mãos de um treinador 'de aviso prévio'.
Abel Braga foi avisado de maneira direta pelo presidente do Internacional, Alessandro Barcellos, ainda em dezembro.
Seja qual for o resultado do clube no torneio nacional, seu trabalho termina junto com o Brasileiro.
Acabou a partida no dia 24 de feveiro, contra o Corinthians, em Porto Alegre, o técnico de 68 anos estará desempregado.
Barcellos já tem apalavrado um contrato de dois anos com o treinador espanhol Miguel Ángel Ramírez.
Abel, campeão mundial, da Libertadores e bicampeão gaúcho pelo clube colorado, se submeteu.
Ele vinha de péssimos trabalhos.
De maneira marcante, no Cruzeiro e no Vasco da Gama.
Antes, fora dispensado pelo Flamengo que, segundo ele, já havia contratado Jorge Jesus.
Aos 68 anos, passou a representar, para muitos jornalistas, o retrato do treinador de outra era, ultrapassado.
E começou mal no Internacional.
Assumiu a equipe na primeira colocação no Brasileiro.
Disputando a Copa do Brasil, caiu nas quartas-de-final, diante do América Mineiro.
Caiu nas oitavas-de-final na Libertadores, contra o Boca Juniors.
A tristeza pela saída do argentino Eduardo Coudet, que trocou o clube pelo minúsculo Celta de Vigo, na 20ª rodada do Campeonato Nacional foi manifestada na revolta da torcida e de imprensa gaúcha.
Mas quando tudo parecia que iria despencar, Abel Braga usou sua experiência. Conseguiu conquistar o grupo de jogadores limitados que o Inter possui. Avisou que a estrela D'Alessandro iria embora ainda em dezembro, porque fisicamente não jogaria mais no Internacional que brigaria pelo título.
E foi claro.
Ele iria embora, mas os atletas teriam de dar o 'máximo' para serem campeões. Se quiserem ficar em um dos clubes com melhor infraestrutura na América do Sul. Porque Ramírez chegará com a filosofia de apostar em garotos, formar um novo time. Como fez no Indepediente del Valle.
Com esse discurso, Abel conseguiu unir o grupo.
E tratou de apelar para o que sempre fez de melhor.
Montar equipes competitivas, com enorme força física, muita marcação nas intermediárias, velocidade nos contragolpes e bolas aéreas certeiras.
O time encaixou.
E conseguiu o que ninguém mais esperava.
A diretoria colorada já temia até que o clube pudesse ficar sem uma das vagas na Libertadores.
Só que o time vibrante, guerreiro, movido a raiva, por Abel Braga foi acumulando vitórias.
Conseguiu seis seguidas no Brasileiro, 18 pontos, algo que não obtinha desde 1976.
E, em uma desenfreada subida, já está a um ponto do líder São Paulo.
Basta vencer hoje no Morumbi que seu time assume a primeira colocação no Brasileiro, restando sete rodadas para o final.
Abel Braga sabe que pode estar em uma das últimas decisões da sua carreira.
E sente que está representando não só ele.
Mas técnicos de sua geração, como Vanderlei Luxemburgo e Paulo Autuori, considerados ultrapassados por grande parte dos jornalistas esportivos.
O seu Internacional, hoje, diante do São Paulo, de Fernando Diniz, representante dessa 'nova geração', irá para a batalha.
Escolheu o time competitivo que vem ganhando, lutando do início ao final das partidas. Equipe que relembra a forma 'gaúcha', com o Internacional de Rubens Minelli, e o Grêmio, de Felipão.
A ordem de Abel Braga é comprar a briga.
Marcar o São Paulo por pressão, não esperar ser atacado.
Time com fome, lutando por cada dividida, usar muito o contato físico, situação que os comandados de Diniz detestam. E, principalmente, anular o veterano de 37 anos, Daniel Alves.
Vai explorar as costa de Reinaldo, que se projeta como ponta.
E abusar das bolas aéreas, já que o melhor cabeceador do São Paulo, Arboleda, foi infantilmente suspenso contra o Athletico Paranaense.
Marcelo Lomba; Rodinei, Lucas Ribeiro, Victor Cuesta e Moisés; Rodrigo Dourado, Edenilson, Patrick, Praxedes e Caio Vidal; Yuri Alberto.
Este será o seu time.
Montado no 4-5-1, para apertar, imprensar, travar.
Atuar do modo que o São Paulo detesta.
Abel Braga sabe que esta partida é que tem os maiores holofotes no Brasileiro.
Será uma decisão no torneio de pontos corridos.
O melhor palco para mostrar que ainda está 'vivo'.
E que merece seguir trabalhando em um time grande.
Jamais o Campeonato Brasileiro teve com campeão um técnico demitido previamente.
Por o clube decidir não seguir com seu trabalho.
Engolindo o orgulho, o currículo vencedor, Abel Braga aceitou.
Por isso ele fará de tudo para ser campeão do Brasil.
E sair de cabeça erguida.
Mostrando a injustiça que o Internacional está cometendo.
Para isso, vencer o São Paulo hoje é fundamental.
Mostrar que o aviso prévio foi enorme erro...
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