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Os segredos que levaram a Croácia a decidir a Copa do Mundo

Depois de 56 anos, um país do Leste Europeu decide uma Copa do Mundo. A trajetória da equipe mistura nacionalismo, estratégia e talento

Cosme Rímoli|Do R7 e Cosme Rímoli

Modric e Zlatko. O jogador usa seu grande talento como complemento da estratégia
Modric e Zlatko. O jogador usa seu grande talento como complemento da estratégia Modric e Zlatko. O jogador usa seu grande talento como complemento da estratégia

Moscou, Rússia.

Depois de 56 ano, a Croácia iguala o maior feito da história de uma nação do Leste europeu. Assim como a então Tchecoeslováquia, decidirá uma final de Copa do Mundo.

O extinto país perdeu no Chile para o Brasil por 3 a 1. Em 1993, houve a separação. Hoje há a República Tcheca e a Eslovaca. 

Os croatas também tem no cunho político grande parte de sua motivação na Copa do Mundo.

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Os reflexos de uma sangrenta guerra civil, que durou dez anos e esfacelou a Iugoslávia, custou mais de 100 mil mortes, ainda perduram na delegação que fez história em 2018. O conflito para separar duas etnias que se odiavam aconteceu entre 1991 e 2001. Com acusações de retaliação, massacres em nome de 'limpeza étnica' do lado sérvio e do lado croata.

O observador técnico Ognjen Vukojevic foi multado pela Fifa e o zagueiro Vida advertido. Ambos por comemorações nacionalistas, que remeteram à eterna inimiga Sérvia, depois que o time superou a Rússia.

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A Fifa não tolera política misturada com futebol.

Mas é o orgulho nacional o elemento a mais que empurrou esse time extremamente competitivo a superar seus limites. A Croácia estava desacreditada não só em toda Europa. Mas no seu próprio país. A equipe estava para ser eliminad, quando Zlatko Dalić assumiu. A equipe estava muito mal com Ante Čačić.

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Discretamente, Zlatko, que era auxiliar, deixou que os nacionalistas da equipe, como Vida, ganhassem força. Encarando partidas com a vibração de uma batalha, veio a salvadora vitória diante da Ucrânia. O time ficou em segundo no grupo I, atrás da Islândia. Veio a repescagem e a classificação, diante dos gregos.

Nem a imprensa croata acreditava em uma boa Copa do Mundo. Jornalistas repetiam que a equipe era mediana e tinha dois talentos no meio de campo, Modric e Rakitic, rivais do Barcelona e Real Madrid. E mais um 'tanque de guerra' no ataque, Mandzukic, da Juventus.

O que fez Dalić?

Tratou de adaptar o esquema tático mais competitivo, que mais pudesse compensar a ausência de técnica do time como um todo. Escaou da dependência dos repentes, dos improvisos de Modric e Rakitic.

Desenvolveu o 4-5-1, com um trabalho incrível da preparação física. A equipe tem um sistema de marcação fortíssimo e contragolpes em velocidade. Com a vantagem do toqe de bola genial de Modric e objetivo de Rakitic. Mas a força física e a explosão muscular de Manduzik.

Por trás da união do time ainda persiste o forte sentimento nacionalista da guerra
Por trás da união do time ainda persiste o forte sentimento nacionalista da guerra Por trás da união do time ainda persiste o forte sentimento nacionalista da guerra

Há outros destaques como Vida e Lovren, que mesmo cercados de dúvidas, fazem ótima Copa como dupla de zaga. Perisic e suas arrancadas e chutes potentes. Mais o goleiro Subasic, muito firme. 

O destaque, no entanto, está no conjunto. Na superação da Croácia como um time. Tradicionalmente, o país sempre formou equipes ofensivas. E com problemas defensivos. Desta vez, não. Assistir a dinânmica, a movimentação da equipe, no estádio, é uma aula de futebol. De dedicação.

O ritmo intenso não é por acaso. É para compensar no preenchimento dos espaços, nos ataques em bloco, na bltiz nos escanteios, a ausência de mais jogadores talentosos.

Modric joga absolutamente pelo time. Tem potencial para dar show particular com a bola nos pés. Mas faz o necessário para o bem da equipe. Não pensa em si, como, por exemplo, Neymar. O dom do croata para jogar futebol é muito melhor aproveitado por sua seleção. 

Outro fator importantíssimo está no menosprezo dos adversários. A começar pela fase de grupo. A Croácia entrou como coadjuvante. Brigaria com a Nigéria e a Islândia pela segunda posição no grupo D. Zlatko utilizou tudo o que a imprensa internacional escreveu e falou sobre seu time. E, estudou, com cuidado todos os adversários. Principalmente, a Argentina. Daí querer o amistoso contra o Brasil.

E usando estratégia, força física, velocidade, intensidade, massacrou os argentinos de Messi. 3 a 0. Foi o jogo que deu a certeza que a Copa seria histórica. Derrotou a Nigéria. E ainda, teve o prazer de despachar, eliminar os islandeses. Os mesmos que mandaram a Croácia para a repescagem.

O caminho foi fácil até final para quem pensa nos adversários. Mas os croatas fizeram jogos duríssimos contra a Dinamarca. Empataram em 1 a 1 suando sangue. Venceram nos pênaltis. A lógica indicaria a Espanha como próxima rival. Mas os espanhóis implodiram. Os anfitrões russos também usaram a força física e a pressão da torcida para esconder a fraqueza técnica do time. Outra batalha épica de 120 minutos e pênaltis. Superada pelos croatas.

E veio ontem a tradicional Inglaterra. O país que inventou o futebol. Com uma seleção competitiva, vibrante e que também usava a força física para se impor. Os britânicos saíram na frente e obrigaram os croatas a correrem ainda mais para conseguir o empate. E vitória no segundo tempo da prorrogação.

Manduzik resume a força física do time croata no ataque. É um gladiador
Manduzik resume a força física do time croata no ataque. É um gladiador Manduzik resume a força física do time croata no ataque. É um gladiador

jamais nos Mundiais uma seleção teve de enfrentar três prorrogações.

"Nós somos empurrados pela alma, pelo coração", define o treinador.

Nos vestiários, a raiva dos atletas diante da descrença da imprensa internacional, principalmente parte da britânica, que considerava a partida vencida.

Enquanto os jogadores celebravam nos vestiários, alguns filhos dos atletas quebravam o protocolo, invadiam o gramado do estádio Luzhnikí e brincavam, chutavam a bola para o gol. A torcida croata estava exatamente atrás da trave. E ela apladia os meninos entre 4 e 6 anos. 

Era o reconhecimento, a felicidade pela nova geração croata.

O time de Zlatko Dalić superou a equipe que chegou em terceiro lugar no Mundial de 1998. Estará decidindo no domingo o direito de ser campeão do mundo. Levar pela primeira vez a taça ao Leste Europeu. E ainda se vingar da frustração da semifinal vencida há vinte anos pelos franceses.

Vale mais do que os 48 milhões de dólares, R$ 215 milhões, que serão dados pela Fifa ao campeão.

Rancor é o combustível que alimenta os croatas.

Para eles, o futebol não é só futebol.

Não, quando os jogadores vestem a bandeira do sofrido país.

A França de Deschamps que se prepare.

Haverá uma nova batalha, domingo, aqui em Moscou...

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