Substância encontrada em exame de Tandara pode aumentar massa muscular
MAST IRHAM/EFE/EPA - 27.7.2021A notícia do exame antidoping positivo da oposto Dandara, da seleção de vôlei, um dia antes da semifinal olímpica, agitou a deleção brasileira que está em Tóquio, disputando os Jogos Olímpicos. De acordo com a ABCD (Agência Brasileira de Controle de Dopagem), a substância encontrada no exame da atleta, feito no dia 7 de julho, em Saquarema, no Rio de Janeiro, foi a ostarina, um modulador hormonal.
De acordo com Bernardino Santi, médico do esporte e especialista em controle de dopagem, a substância é usada em tratamentos de algumas doenças, mas pode causar o aumento de massa muscular. "É um receptor de androgênio [hormônio], e é utilizado para tratamento de controle do ciclo menstrual, mas pode causar aumento de massa muscular. A Osterina também é usada no tratamento de câncer e osteoporose", afirma Santi, que já foi médico do COB (Comitê Olímpico Brasileiro) e presidente do Comitê de Conformidade da instituição.
A ostarina é considerada um "SARM" (Selective Androgen Receptor Modulators), que na tradução livre para o português, são os moduladores seletivos do receptor de androgênio. E consta na lista de substâncias proibidas da WADA (Agência Mundial Antidoping).
O médico explica como o ganho de massa muscular interfere na atividade esportiva. "Se ganha mais massa muscular, o atleta ganha mais força, mais velocidade, mais potência no salto, no ataque, defesa", conta ele.
Santi que não pode dizer especificamente sobre o caso de Tandara, uma vez que não faz parte do COB, da ABCD ou da equipe médica da CBV (Confederação Brasileira de vôlei), mas acredita que o caso da atleta tenha sido acidental e que ela não tenha usado a substância para conseguir vantagem esportiva.
"Na minha opinião como médico, no caso a Tandara pode ter acontecido alguma falha de procedimento, que pode acontecer. Como a substância não é usada no vôlei para aferir vantagem. Pode até ter ganho de massa muscular, mas não vai interferir o desempenho no esporte coletivo. Como pode acontecer, por exemplo numa luta olímpica, boxe, levantamento de peso. Ai, o fator força é decisivo na parte esportiva", observa o especialista.
Os procedimentos usados para a testagem de doping no Brasil seguem as regras da Wada. Segundo Bernardino, os exames fora de competição, como o da oposto, são feitos pela ABCD com DCO (oficiais de controle de doping) credenciados, kit autorizados pela Wada e laboratórios preparados, credenciados e autorizados para fazer exame antidoping.
"Todo o sistema é auditado, controlado e autorizado. Em geral, quando o atleta precisa de um medicamento, ele comunica ao médico da seleção, clube ou confederação. A partir daí, o médico faz um documento chamado AUP (Autorização para Uso Terapêutico), emitido pela agência mundial, que é enviado para Wada, junto com exames, para justificar o uso do medicamento. O pedido é analisado por uma equipe médica e a resposta pode ser sim ou não. Se for sim, comunica a atleta que está autorizada a usar o remédio e tempo permitido. Se for não, a Wada avisa ao o médico, que fala para o atleta parar o tratamento ou tira o atleta da competição", explica o especialista.
Os resultados dos pedidos médicos, assim como o dos testes, são publicados em um sistema universal da Wada. Santi acredita que a falha pode ter sido de comunicação.
"Acredito que tenha sido acidentalmente, e alguém falhou na comunicação. O sistema é feito para se autocontrolar. Não existe sistema perfeito, porque erros fazem parte dos humanos. Em cada etapa, desde a coleta até o resultado, tem o que chamamos de cadeia de custódia, passa de mão em mão, e todo mundo assina cada um dos testes, dos pedidos", conta ele.
A atleta foi suspensa provisoriamente e está a caminho do Brasil para apresentar sua defesa. Santi acredita que a tendência é Tandara receber uma punição mais leve, por não ser uma substância que resulta em ganhos diretos no vôlei.
"Ela vai ser punida, porque existe o erro. Todo atleta quando começa a fazer atividade de alto rendimento, sabe que é responsável por tudo aquilo que for encontrado no corpo dele. Acidentalmente ou não", alerta o médico.
"Mas as penalidades são relacionadas aos efeitos que a substância traz para o atleta. Por exemplo, se ele usar um betabloqueador, que diminui o batimento cardíaco, no tiro-com-arco, faz toda diferença. Mas se for um corredor, o atleta perde a corrida. Então a punição tende a ser mais leve. Todas especificidades estão contempladas no Código Mundial Antidopagem", conclui Santi.