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Projetos sociais veem no skate uma ferramenta de transformação

Medalhas de Rayssa Leal e de Kelvin Hoefler resgatam o sonho de quem aposta no esporte para a vida

Olimpíadas|Hysa Conrado, do R7

Aos 13 anos, Rayssa Leal, a "Fadinha", conquistou medalha de prata no skate na Olimpíada
Aos 13 anos, Rayssa Leal, a "Fadinha", conquistou medalha de prata no skate na Olimpíada Aos 13 anos, Rayssa Leal, a "Fadinha", conquistou medalha de prata no skate na Olimpíada

O sonho da medalha olímpica nas mãos de uma "fadinha" de 13 anos fez o Brasil torcer vidrado como há muito não se via. As pratas de Rayssa Leal e de Kelvin Hoefler, primeiro atleta brasileiro a conquistar uma medalha nos Jogos Olímpicos de Tóquio, entraram para a história de um país que, por muito tempo, marginalizou não só o skate, mas quem se atrevesse a encará-lo como esporte e estilo de vida.

Para Anderson Lucas, vulgo Nego, skatista profissional e um dos coordenadores do Coletivo Love CT, projeto que ensina gratuitamente skate na Cidade Tiradentes, periferia do extremo leste de São Paulo, as conquistas olímpicas resgatam o sonho de quem aposta no esporte para a vida.

“As medalhas de prata têm um sabor de ouro para nós, pelo que o skate brasileiro já representa. Elas resgatam uma esperança da periferia, esse sonho de que é possível viver do esporte e alcançar lugares antes inimagináveis para a categoria. Acho que todo mundo acordou refletindo sobre onde o skate pode chegar”, afirma.

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Apesar do estigma, a modalidade esportiva se consolidou no Brasil não só alçando grandes nomes à cena mundial, mas como agente transformador da realidade pelas periferias do país. Este é o outro lado do skate que, ainda sem incentivo, busca respeito e mais investimento no esporte.

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Desde 2011, Nego e outros skatistas tentam manter o projeto ativo na Cidade Tiradentes. Por causa da pandemia, as aulas estão suspensas desde março do ano passado. Mas não é só o cenário pandêmico que tem afastado as crianças da pista. O coletivo já foi contemplado pelo Programa VAI, da Secretaria de Cultura da cidade de São Paulo, mas atualmente está sem apoio financeiro para manter as aulas dos mais de 45 alunos. 

“Somos um projeto com viés de skate, mas temos bastante coisa integrada, como oficinas de informática, de violão, inglês e de composição de rap. Agora estamos com parcerias com algumas entidades para fazer doação de cesta básica e produtos de higiene pessoal aqui no nosso bairro”, conta Nego.

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Alunos do Coletivo CT antes da pandemia
Alunos do Coletivo CT antes da pandemia Alunos do Coletivo CT antes da pandemia

O skatista explica que o trabalho do coletivo “é mais de inclusão do que de resultado”, porque, para ele, é desleal falar de competição quando grande parte dos alunos não tem condições de comprar um bom skate ou um tênis apropriado para a prática do esporte. Ainda assim, sem investimento, cerca de 20 alunos do Coletivo CT estão competindo nos circuitos do país.

“Hoje o Guga Nakamura, que foi um dos nossos alunos em 2013, já está bem encaminhado na carreira, é um aluno que tem um pouco mais de estrutura familiar e consegue viajar para competir. Mas têm vários outros que participam de competições locais, mas não conseguem sair de São Paulo ainda por falta de patrocínio e de estrutura”, explica Nego.

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No Rio de Janeiro, o Instituto ADEMAFIA também trabalha o skate como ferramenta de transformação social. Semanalmente, cerca de 60 crianças do Morro Santo Amaro têm, além das aulas gratuitas de skate, oficinas de arte, de música e de áudiovisual. Quem comanda o projeto é o skatista Ademar Lucas.

“O nosso instituto também atua nas necessidades básicas da comunidade, nos juntamos para fazer a limpeza dos locais. Com o espírito de coletividade que o skate traz, tentamos mostrar como resolver problemas do cotidiano”, conta.

No final de semana de competições que rendeu ao Brasil as duas medalhas olímpicas, os alunos do ADEMAFIA puderam acompanhar a transmissão dos jogos e torcer juntos enquanto a história era escrita nos Jogos Olímpicos de Tóquio.

“Foi muito irado ver as crianças torcendo não só para o Brasil, mas também para o skate. Deixamos claro para elas que era uma conquista do nosso esporte e que o mundo inteiro estava vendo. Agora as empresas podem ver o skate com potencial de transformação e vão poder somar, existem projetos como o instituto em várias comunidades pelo Brasil”, destaca Ademar.

ONG Social Skate

Uma das principais referências quando o assunto é transformação social envolvendo o esporte, a ONG Social Skate atua há 10 anos em Poá, na região metropolitana de São Paulo, e atende cerca de 150 crianças com aulas gratuitas e alimentação. Com a chegada da pandemia, o projeto somou forças e conseguiu apoiar 460 famílias a passarem pelo momento de crise.

Mas o trabalho não para por aí. Desde 2020, em parceria com a CBSk (Confederação Brasileira de Skate), a ONG tem trabalhado para mapear todos os projetos sociais envolvendo o skate no país. A proposta é dar visibilidade e facilitar a captação de recursos para manter a atuação dos projetos em todas as regiões brasileiras.

Antes da estreia histórica do skate nos Jogos Olímpicos, cerca de 50 projetos já tinham sido cadastrados. Uma das primeiras ações da ONG e da CBSk foi distribuir 28 mil máscaras e cerca de 50 litros de álcool em gel para essas iniciativas.

Desde sábado, quando Kelvin Hoefler conquistou a primeira medalha, o skatista Sandro Testinha, idealizador da ONG, conta que as novas solicitações de cadastro passaram a chegar aos montes. “Primeiro vamos analisar e ver se o projeto realmente existe, se tem documentação. Caso não tenha, temos uma orientação para esse projeto se regularizar também”, explica.

O apelo de Sandro Testinha é que as empresas entendam que muitas Fadinhas e Kelvins podem conquistar ainda mais para o Brasil. Mas, para isso, precisam de apoio e incentivo.

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