Em 1996, Paula defendeu Brasil nos Jogos Olímpicos de Atlanta
Luludi/Agência Estado/26-07-1996Nos tempos de Hortência e Paula, as maiores jogadoras da história do basquete brasileiro, a rivalidade entre as duas fazia os fãs a cada hora, ou cesta, acharem uma melhor delas do que a outra. Na seleção brasileira, também. Competição para ver quem faz mais cestas? Sim, mas no momento de passar a bola, ter a humildade e o orgulho de ver a rival triunfar.
Agora, elas desfrutam dessa história com um bom relacionamento. Entrevistada pelo R7, Maria Paula Gonçalves da Silva, conhecida como Magic Paula, 59 anos, se mostra orgulhosa com toda essa trajetória, que, de tão marcante, será tema de um longa-metragem. A captação de R$ 6,9 milhões para a produção foi autorizada pela Ancine em janeiro e a obra começará a ser gravada ainda neste semestre.
Paula e Hortência serão tema de um filme
Luludi/Agência Estado/05-08-1996"Estamos neste projeto há dois anos, é algo muito importante para as novas gerações. E também as gerações que acompanharam a nossa trajetória. É uma história de duas mulheres que foram evoluindo, se transformando como jogadoras e pessoas com essa rivalidade, que marcaram época construindo coisas muito bacanas para o Brasil", afirma Paula.
Paula considera que a obra pode ser um estímulo também para que o Brasil volte a figurar entre as grandes seleções de basquete. Em Tóquio 2020, será a primeira vez desde os Jogos de 1992 que o País não terá representantes no feminino e no masculino.
"Ultimamente se pensa só no resultado pontual, não se olha o que aconteceu em duas décadas. Os problemas não são de agora. A CBB (Confederação Brasileira de Basquete) passou dois ciclos com gestões temerárias, que prejudicaram gerações. Mas quando a seleção está jogando, só se quer o resultado", afirma Paula, atual vice-presidente da CBB.
Paula é vice-presidente da CBB
Tiago Queiroz/Agência Estado/04-10-05Para ela, uma classificação e depois uma medalha olímpica necessitam de um projeto de longo prazo, neste momento.
"Temos de pensar desde já em como melhorar e começar a trabalhar para isso. Se não planejarmos dois, três, ciclos olímpicos, vai ficar sempre assim, se classifica hoje, amanhã não", observa.
A ex-jogadora considera que a seleção brasileira precisa reunir atletas das novas gerações, tanto no feminino quanto no masculino, e manter uma base.
"As jogadoras e jogadores não podem se reunir por 15 dias para uma competição apenas. O resultado não vem de um dia para o outro", observa.
O contexto atual, no entanto, é diferente de anteriores, quando, em épocas de glória, a seleção brasileira ficou marcada por grandes jogadores e jogadoras que atuaram juntos por muito tempo, como Paula, Hortência, Janeth, Helen, Marcelo, Oscar, Marquinhos, Carioquinha e Adílson. Paula tem consciência disso, mas, mesmo assim, considera que a seleção brasileira pode voltar a triunfar.
"Potencial não falta em um país das dimensões do nosso. É necessário conseguir resgatar o orgulho de jogar pelo Brasil. Atualmente, nos Estados Unidos, há 40 jogadores brasileiras. Para elas é bom, estão aprendendo nova língua, conhecendo nova cultura, boa remuneração. A partir disso, pode-se planejar para que elas joguem juntas por mais tempo pela seleção e também promover novos talentos, com camping, torneios, trabahando novas gerações e não esperando que o resultado caia do céu", ressalta Paula.
Ao falar de seus tempos de jogadora, ela afirma que a rivalidade realmente foi vivenciada de forma produtiva, servindo como um estímulo e fazendo hoje as duas compartilharem todo o aprendizado daquela época.
"Tudo foi positivo em nossa rivalidade. Quando descobrimos coisas saudáveis em uma concorrência, podendo crescer com isso, é um triunfo enorme, um privilégio", completa a ex-jogadora.
Paula, que começou no Assis Tenis Clube, admite que, na época, a competição entre as duas era grande. Em grande parte da carreira, elas jogavam em diferentes times, sempre na luta pelos títulos no País.
Somente na Ponte Preta, em 1994, Paula e Hortência tiveram a chance de jogarem juntas em clubes. E na seleção brasileira, quando ambas uniam a própria experiência, e a competitividade, em prol da equipe.
"Não só nós, a equipe ganhava com a rivalidade que se unia na seleção. Uma acabava ajudando a outra. É importante que as gerações atuais conheçam essa história, para entenderem sempre como o trabalho em conjunto e a individualidade podem se completar", disse.
A personagem de Hortência será interpretada pela atriz Letícia Colin e a de Paula, por Camila Márdila.
O filme abordará a chamada época de ouro das duas jogadores, entre 1989 e 1996. Foi um período em que elas entraram para a história, quando conquistaram o ouro nos Jogos Pan-Americanos de 1991, vencendo a fortíssima seleção de Cuba, em plena capital Havana. Na premiação, ficou eternizada a imagem do presidente cubano, Fidel Castro, brincando com as duas jogadoras, enfileiradas para receber a medalha.
Em 1994, na Austrália, ambas conquistaram o título mais importante da carreira, ao vencerem o Mundial. Dois anos depois, ficaram com medalha de prata nas Olimpíadas de Atlanta 1996.
Hortência de Fátima Marcari, hoje com 61 anos, disputou cinco mundiais e duas Olimpíadas com a seleção. Em um total de 127 jogos oficiais, marcou 3.160 pontos, sendo a maior pontuadora da história da equipe nacional.
Paula, por sua vez, é a segunda maior pontuadora, com 2.537 pontos. É, no entanto, a atleta que mais atuou pela seleção, com 150 jogos oficiais, tendo disputado dois Jogos Olímpicos, seis mundiais e atuado por um tempo na Espanha, quando defendeu o Tintoretto, entre 1989 e 1990.
Não se sabe qual delas aparecerá por mais tempo na tela. Isso, no entanto, não será problema em um enredo que, muito mais do que a história de uma rivalidade, contará a história de uma dupla.
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