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Campeão das estatísticas, jóquei brasileiro ganha destaque na Inglaterra

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Pode-se dizer que Silvestre de Sousa já nasceu cavalgando, lá nos rincões do Maranhão. O pai, sitiante, criava alguns cavalos e o mirrado garoto logo se encantou pelos prazeres da montaria. Porém, quando galopava pelas terras da propriedade, ajudando na lida com o gado, nem imaginava que pouco mais de duas décadas depois encantaria nobres ingleses. Mas é o que faz. Aos 34 anos, é hoje um dos principais nomes do turfe na terra da rainha.

Silvestre teve um ano de ouro em 2015 - mais um, aliás. A consagração veio em outubro, quando fechou a temporada recebendo o Stobart Flat Jockey’s Champion, prêmio dado ao jóquei campeão das estatísticas. O brasileiro obteve 154 vitórias, quatro a mais que o campeoníssimo Luke Morris. Foi a consagração do maranhense de 1,52 m e 53 quilos. "É algo especial, principalmente sendo eu um estrangeiro", comemorou Silvestre.

De certa forma, o Stobart Flat - disputa em que ficara em segundo em 2011 e em 2013 - é a coroação de uma carreira marcada por muita determinação e talento, mas que teve no espírito aventureiro e na ousadia aliados fundamentais.

Silvestre deixou São Francisco do Maranhão, cidadezinha de cerca de 12 mil habitantes a 636 km por estrada de São Luís, aos 16 anos, em direção a São Paulo. Um irmão o apresentou no Jockey Club paulistano. Lá ele começou a tratar cavalos. Aos 17 entrou para a escolinha de jóquei e aos 20 era profissional. Fazia boa carreira, ganhava corridas, mas queria mais.

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Tomou coragem e aos 22 anos foi parar na Irlanda. "O Jockey Club estava numa crise e sempre quis conhecer a Europa. Aí, apareceu a oportunidade e lá fui eu", recordou. Porém, Silvestre não foi para a Irlanda como jóquei. Voltou a trabalhar nas cocheiras, com o treinador Dermot Weld, cuidando de cavalos. "Eu voltei no tempo, depois de tudo que tinha conquistado no Brasil. Na Europa, comecei do zero", disse.

No turfe brasileiro, o maranhense assegura que teve cerca de 100 vitórias em dois anos. "Meu currículo é muito bom. Tenho aproveitamento de 25% no Brasil, o que é excelente".

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Na Irlanda, ele queria montar, claro, mas como praticamente não falava uma só palavra em inglês, não foi possível logo de cara. "Como é que você vai se explicar depois de montar sem falar a língua? O trabalho na cocheira é fácil, mas quando monta a gente tem de falar com o proprietário do cavalo, divulgar as corridas, falar o que é preciso fazer para melhorar o cavalo, coisas assim".

GRANDE CHANCE - Foram dois anos naquela vida, até que Silvestre conheceu um treinador inglês, David Nicholls, que tinha vários cavalos. Já não se enrolava com a língua e Nicholls deu-lhe algumas montarias. Ali, há mais ou menos dez anos, recomeçava a carreira de Silvestre. "E começou o meu sucesso. No primeiro ano montando para ele, tive 28 vitórias. Foi um ano excelente".

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Silvestre foi acumulando vitórias - em seus cálculos, diz ter 20% de aproveitamento, ou seja, de cada dez páreos que corre vence dois, e garante estar se aproximando do milésimo triunfo no turfe britânico -, títulos, e deferências da nobreza britânica. "Já ganhei várias provas com membros da Família Real na plateia, inclusive a rainha", contou. De fato, Elisabeth II está sempre presente nos páreos realizados em Ascot.

O sucesso também lhe rende, claro, um bom dinheiro - só pelo Stobart abocanhou R$ 140 mil. Ele diz que, numa boa temporada no Reino Unido, a premiação chega a 2,5 milhões de libras (cerca de R$ 14 milhões). O jóquei fica com uma porcentagem desse valor, em média 20% - os ganhos vão para proprietários dos cavalos, treinadores e outras pessoas envolvidas -, considerado ganho excelente.

"Graças a Deus eu vivo bem. Se fosse no Brasil, viveria como um jogador de futebol que faz sucesso", comparou Silvestre, que vive em uma confortável casa em Newmarket, cidade perto de Cambridge considerada berço e centro mundial de corridas de cavalos puro-sangue, com a mulher, a ex-joqueta irlandesa Victoria, e o filho Ryan, de oito anos.

MUNDO AFORA - Sem contar que a Inglaterra ficou pequena para Silvestre. Por isso, após cada temporada britânica ele deixa a Família Real de lado e vai montar sob os olhares dos xeques em Dubai, nos Emirados Árabes, na Índia, e em outros lugares. Vence provas importantes como a Dubai World Cup, e isso significa outros bons punhados de libras na conta bancária. "Quando chega o inverno os prêmios na Europa ficam bem mais baixos. Aí, de outubro a março vou para outros países montar, compensa mais’’, justificou.

O maranhense, inclusive, está descobrindo outros mercados. Quando falou por telefone com a reportagem, estava em Nova York. Era sua primeira visita aos Estados Unidos, levado por um agente. "Vim para fazer um teste, sempre tive vontade de conhecer. Esse é o único país no qual eu nunca estive", explicou. E as corridas? "Já consegui minha primeira vitória dia desses".

O Brasil é que já não ocupa mais lugar na raia de Silvestre Alves de Sousa. Desde que embarcou rumo à Irlanda, ele voltou apenas duas vezes ao País. Não fecha as portas, mas acha difícil voltar. "Minha vida está feita na Inglaterra".

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