Ao postar a imagem no Instagram, ele disse que queria causar e que era preciso ser corajoso para fazer o que ele fez. Realmente, causou. Mas nem Emerson Sheik imaginava que o selinho dado no amigo Isaac iria provocar tamanha repercussão. Na internet, na velha e na nova imprensa, nos campos de pelada, nos salões de cabelereiro, só deu ele.
Foi uma "bitoquinha" de nada, um leve roçar de lábios, ditos e garantidos heterossexuais, como o próprio jogador fez questão de reiterar ao pedir para olharem as suas fotos ao lado de mulheres voluptuosas antes de atirarem a primeira pedra.
Mas, de nada adiantou esse passado embalado pelos encantos de Afrodite, nem o fato do amigo ser pai de duas filhas e estar à espera de outro bebê. Não adiantou, muito menos, de os dois quando consumaram o ósculo da discórdia, se fazerem acompanhar das respectivas amadas.
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Para a enorme maioria dos que se manifestaram e ainda se manifestam nas redes sociais, Emerson manchou com as cores reluzentes do arco-íris, o manto sagrado dos que entendem não só o futebol, mas, sobretudo, a vida como um retrato em preto e branco. Uma meia dúzia de corintianos chegou a protestar na porta do CT do clube. “Aqui é lugar de homem", estampava uma das faixas. Mais clara, impossível. E era a menos agressiva. Alguns chegam a dizer que ele não vai mais poder jogar no Corinthians, que vai ser eternamente perseguido.
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Mas, por que tanta ira contra Emerson? Um jogador que traduz como poucos a chamada raça, tão incensada pelos cânticos que ecoam na arquibancada, que não tem medo de cara feia, ainda mais se for de argentinos, que enfrenta adversários nitidamente mais fortes de peito aberto e dentes afiados, que contribuiu de maneira decisiva para agigantar o nome do Corinthians nos últimos anos, que é o único jogador do futebol brasileiro que ganhou três títulos nacionais por três times diferentes e em todos os campeonatos sendo fundamental. Logo ele, sempre visto em companhia de mulheres que permeiam o sonho de milhares de marmanjos. Logo ele, sim. pPis, contra a ignorância dos preconceituosos, nada importa, só a visão estreita de como observam o mundo.
Emerson, claramente, com o seu ato queria defender uma bandeira e, sem querer, destampou uma parte podre da sociedade brasileira. Não com a foto em si, porque de impactante, convenhamos, não tem nada. Hebe Camargo distribuía selinhos de maneira industrial a quem quer que fosse, e fotos de homens e mulheres se beijando são a coisa mais comum nos dias de hoje. O que me espantou foi a saraivada de comentários maldosos a respeito da foto. Em grande parte preservados pelo anonimato, estes sim trazem algo de perverso condenam, atacam, ofendem de maneira brutal. Agressões rasteiras ao diferente, ao que não se enquadra nos moldes do que imaginam para as suas vidas.
Emerson está sendo bombardeado porque ousou destoar do coro dos contentes, ousou agir de acordo unicamente com suas convicções, ousou ir além dos que os outros querem para a vida que só pertence a ele. Esta sanha é que tem de ser combatida. A melhor psicologia de botequim ensina que muitas vezes tanto rancor esconde aquilo que teima em não querer ficar escondido. O inferno são os outros. O sujeito que pratica um crime sempre tende a achar seu crime menor. Então, vamos falar da vida alheia, escrutinar os pecados dos que estão ao nosso lado. Melhor do que encararmos as nossas próprias mazelas. E as redes sociais virtuais só engrossam este caldo de maledicências. E se ele for mesmo homossexual? Por que tanto ódio?
Vamos deixar cada um viver a sua vida. Essa preocupação com a vida dos outros até parece coisa de veado.