Gazeta PressFabinho Fontes (segundo da esq.para dir.) ergue taça da Copa São Paulo de 1995
Fabinho Fontes foi uma das maiores revelações do Corinthians na Copa São Paulo. Vice-campeão em 1993 e campeão e artilheiro em 1995, a expectativa era de que o camisa 10 fosse o substituto de Neto, não só no número que carregava nas costas, mas na posição de ídolo da torcida. Porém, o meia foi vencido pela “gandaia” e não passou de mais uma promessa que ficou no meio do caminho da história do futebol.
Maiores campeões da história fazem a final da Copa São Paulo
- Eu tive oportunidades, tive apoio da torcida. O erro foi meu. A gandaia acabou comigo.
Em entrevista exclusiva ao
R7, Fabinho contou sobre como se perdeu em meio ao deslumbramento causado pela fama e relembrou os melhores momentos de sua carreira, como a antológica final da Copinha de 1993, quando o Corinthians perdeu por 4 a 3 do São Paulo.
- Foi um jogão em 1993, eram as duas melhores equipes ali. Tanto uma como a outra podia ganhar, mas naquele dia o Jamelli [atacante do Tricolor] estava iluminado e conseguiu fazer três gols. Fez a diferença no jogo. Mas fizemos um bom papel.
Depois de sua passagem pelo Corinthians, Fabinho foi emprestado em 1996 e rodou por vários times: LDU, do Equador – onde teve Sócrates como treinador –, Alverca, de Portugal, Taubaté e Figueirense. Atualmente, o ex-atleta voltou a vestir a camisa do Corinthians, mas na equipe de Masters do clube, que percorre o Brasil fazendo jogos.
Torcedor do Corinthians, Fabinho está acompanhando a Copinha e espera que o time do coração consiga mais um título nesta quarta-feira (25), na decisão contra o Fluminense. Leia abaixo a reveladora entrevista na íntegra.
R7- Qual é a importância de uma final da Copa São Paulo na carreira de um jogador que vem da base?
Fabinho Fontes - A importância é muito grande, porque o que o jogador mais quer na categoria de base é se destacar para ir para o profissional. Jogando em uma equipe grande como o Corinthians, melhor ainda. E ainda mais chegando a uma final e sendo campeão, é quase 100% de chance de jogar no profissional. Eu tive essa alegria de se destacar e chegar ao profissional.
R7 - Como era a estrutura que vocês tinham nos juniores em comparação com a que existe hoje?
Fabinho Fontes - A estrutura que o Corinthians tem hoje não tem nem comparação com a minha época. A gente treinava no terrão. Fiquei oito anos treinando ali e na época da Copinha a gente treinava no terrão também. Tinha o CT de Itaquera, mas os campos eram ruins também. Eu acho que nós chegamos bem no profissional, porque a gente já tinha uma base de oito anos jogando juntos. Tínhamos uma base de Corinthians, de vestir a camisa, mas condições extra-campo a gente não tinha. Foi na raça mesmo, pela nossa qualidade. Se tivesse essa estrutura que tem hoje, teríamos aproveitado melhor.
R7- Você subiu para o profissional já como um ídolo da torcida, coisa rara de acontecer. O que faltou para você se firmar de vez no time principal do Corinthians?
Fabinho Fontes - Faltou estrutura fora de campo. Pessoas que poderiam ter me dado um alicerce. Eu não tive isso. Aconteceu muito rápido. Eu já era ídolo da torcida nos juniores, fui para a seleção e fui campeão mundial sub-20 na Austrália. Jogador jovem, muita coisa acontecendo rápido, acaba se empolgando. Foi o que acabou acontecendo comigo. Eu me deslumbrei. Jogando em time grande. Com o nome que eu tinha nos juniores, eu tinha mais moral que alguns profissionais. Me empolguei fora de campo, na noite e tudo o mais. Jogando no Corinthians, eu tinha as coisas muito fácil. Isso me prejudicou bastante.
R7 - Que coisas? Mulheres, atenção, dinheiro?
Fabinho Fontes - É, as coisas que tem na noite, na balada. Me empolguei e a moral que eu tinha eu acabei perdendo.
R7- E essa estrutura que faltou tinha que ter vindo de onde?
Fabinho Fontes - De toda parte. Do Corinthians, da família, e empresarial também. Hoje os jogadores novos já têm empresário tomando conta da carreira, e isso ajuda. Estar sempre ali orientando, isso ajuda e eu não tive isso.
R7- Mas faltou apoio do elenco, do treinador?
Fabinho Fontes - Sempre tive apoio deles. Na minha época os caras da minha posição eram muito bons. Marcelinho Carioca, Souza, não tinha muita brecha pra jogar. E mesmo assim o Corinthians tentou, tive oportunidades para jogar. O erro foi meu mesmo. O pessoal apoiava, o time era bem unido. Subi em 93, tinha o Neto, o Marcelo, o Ronaldo. O Neto, que era o ídolo quando subi, me apoiou bastante. Treinava pênalti e falta comigo. Não faltou apoio deles.
R7 - Foi o Nelsinho Batista que chamou você para o profissional. Como era a relação com ele?
Fabinho Fontes - O Nelsinho deu muita moral para mim. Voltei da seleção e ele já me colocou no profissional. Ele me incentivava. Se não jogava de titular, entrava no intervalo. A partir de 95 comecei a perder a moral. Em 93 e 94 eu estava tranquilo, fazia minha parte, não era muito de gandaia. Depois estava mais seguro no grupo profissional e foi aí que caí na noite. Isso me estragou no Corinthians. Já fazia parte do grupo campeão do Paulista e da Copa do Brasil. A partir de então, fui para o caminho errado. Aí o técnico já era o Eduardo Amorim. Eu também tinha moral com ele, era sempre convocado para os jogos. Mas a partir do Brasileirão eu comecei com a gandaia e ele foi me afastando. Ele conversou comigo, mas quando você está empolgado ali você não pensa. Eu achava que era novo, que iria ter tempo para recuperar. Mas não é assim. Eu saía bastante e prejudicava o desempenho. O rendimento foi caindo e eles foram vendo, até me emprestarem em 96.
R7 - Aí você foi para o Equador, jogar na LDU. Lá o Sócrates foi seu treinador. Ele conseguiu abolir a concentração lá, como fez no Corinthians quando jogava?
Fabinho Fontes - Sim, fiquei um ano lá e fui artilheiro do time no campeonato, com 15 gols. O treinador era o Sócrates. Mas ele ficou só dois meses e foi embora. Sócrates era bom treinador, como era dentro de campo. Muito inteligente. Ele implantou um sistema que ele estava acostumado a jogar, ofensivo e com toque de bola. Concentração ele não conseguiu mudar lá não. Tinha que concentrar, não tinha jeito.
R7- Você conseguiu fazer um pé de meia, guardou algum dinheiro?
Fabinho Fontes - Não muito, porque na realidade eu gastei muito. Ganhei um bom dinheiro, mas gastei muito também.
R7 - Que conselho você daria para esses garotos que estão subindo agora para o profissional?
Fabinho Fontes - Falaria para ter personalidade e tranquilidade. Quem trabalha sempre vai ter oportunidade. Tem que ter paciência e não se empolgar com negócio de noite, porque isso aí tem mesmo. Fazer as coisas na hora certa. Porque juniores é uma coisa, profissional é outra. O ritmo de jogo é diferente, o cara tem que ter outra cabeça, senão não joga. Precisa se impor, ainda mais no Corinthians. Ali tem que chegar e jogar. Se chegar tímido, não vai conseguir jogar e vai ser esquecido. Espero que eles possam ter essa cabeça e que logo mais eu possa ver eles se destacando no profissional do Corinthians.
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