Entre vários diferenciais que o Grêmio busca atingir como clube, um deles pende para o lado negativo. O episódio envolvendo o goleiro Aranha, do Santos, que foi xingado de macaco por membros da torcida, no fim de agosto último, fez a diretoria de marketing trabalhar em dobro para reverter a imagem de racista que o clube adquiriu para parte da opinião pública.
Segundo o diretor de marketing do clube, Beto Carvalho, o departamento tem conseguido reverter a situação, com anúncios pagos na mídia, informações nas redes sociais e profissionais atuando dentro dos estádios, entre outras ações.
Tudo isso gerou um custo alto para o clube, justamente em um momento em que as contas estão longe do equilíbrio. Segundo a Pluri Consultoria, o déficit do Grêmio, de R$ 28,8 milhões em 2012, subiu para R$ 51,5 milhões em 2013. Carvalho, que recebeu o prêmio de melhor executivo de marketing de 2013, entre os clubes brasileiros, da Brasil Sports Market, admite que a pecha de clube racista incomodou. Mas ele garante que o problema está sendo superado.
— O Grêmio tem uma história de 111 anos que mostra que nunca fomos racistas. É óbvio que o ocorrido poderia e até pode prejudicar o clube em alguns segmentos. Mas temos trabalhado rápido nas ações de esclarecimento, usando várias plataformas de comunicação. E posso garantir que nenhum de nossos patrocinadores deixou de nos apoiar neste período.
Clima esquenta durante treino do Grêmio e jogadores saem no tapa
A questão é que o Grêmio está gastando muito com o episódio, em um momento em que a dívida da instituição está aumentando.
— É óbvio que gastamos dinheiro nestas ações, dinheiro que poderia ser investido para campanhas para atrair sócios. Mas isso é da situação do marketing. São coisas que acontecem e temos de estar preparados.
Atualmente, o departamento de marketing é a principal ferramenta para atrair receitas para o clube. No mesmo mês em que gastava dinheiro apagando o incêndio gerado pelos xingamentos, o clube inaugurava, no centro de Porto Alegre, a Hamburgueria 1903, que, segundo Carvalho, pode ser uma solução para ajudar o clube a sair do buraco financeiro. O Grêmio tem por objetivo fazer uma franquia com a marca, esperando aumentar seu faturamento de forma significativa nos próximos cinco anos.
— Somos o primeiro clube do mundo a abrir uma rede de fast-food. Já vendemos 15 mil lanches em um mês, 50% a mais do que o projetado. Há promoções para os sócios. O objetivo é, em cinco anos, termos 100 lojas, em sistema de franquia, o que significará um salto para as receitas o Grêmio.
A dívida gremista aumentou muito nos últimos dois anos, em função da necessidade de pagar à construtora OAS parcelas para a utilização da Arena Grêmio, inaugurada em dezembro de 2012. Ao mesmo tempo em que o novo estádio fez o clube arrecadar mais, aumentou e muito as despesas.
De 2012 para 2013, a dívida geral do Grêmio passou de R$ 187 milhões para 276,9 milhões, em um aumento de 47%. Deste total, cerca de R$ 30 milhões são de curto prazo, relativos a salários e fornecedores.
Para amenizar o prejuízo, além das iniciativas de marketing, como a criação da lanchonete, o ex-presidente Fábio Koff, que acaba de deixar o cargo para que o recém eleito Romildo Bolzan Júnior assuma, renegociou as parcelas junto à OAS, que, segundo a diretoria, deverão diminuir gradativamente. O negócio gira em torno de R$ 450 milhões, a serem pagos em 20 anos.
Carvalho também afirma que outra fonte importante vem da ala social do clube, considerada a mais rentável do país, tendo gerado uma receita de cerca de R$ 50 milhões em 2013. Além disso ele aponta o programa sócio-torcedor, com o segundo maior número de associados no Brasil (cerca de 75 mil), como outra alternativa que pode ajudar cada vez mais.
Atualmente, a quantia proveniente deste programa chega a R$ 4,5 milhões por ano. E como o clube recebe "apenas" R$ 55,4 milhões de cotas de TV, Carvalho diz que a diretoria iniciou uma intensa busca de verbas alternativas, mesmo que os direitos de transmissão ainda sejam uma das principais fontes de receita. O clube renovou, por exemplo, o patrocínio das camisas. Só do Banrisul receberá R$ 15 milhões anuais.
— Temos todos os patrocínios renovados para o ano que vem, o que nos dá maior tranquilidade para planejar.