Logo R7.com
Logo do PlayPlus
Publicidade

Jorge Jesus, técnico do Fla, faz um bem danado ao futebol brasileiro

Com firmeza e até duras exageradas, português conquista respeito do elenco, da imprensa, dispara no BR e cria novos desafios para os técnicos brasileiros

Futebol|Eduardo Marini, do R7

Jesus: cobrança dura, elenco sob controle e 'poupança inteligente' de jogadores
Jesus: cobrança dura, elenco sob controle e 'poupança inteligente' de jogadores Jesus: cobrança dura, elenco sob controle e 'poupança inteligente' de jogadores

Quinze vitórias, dois empates e apenas uma derrota no Campeonato Brasileiro de 2019. Quarenta e nove pontos ganhos em 54 disputados. Dez pontos e cinco vitórias à frente do Palmeiras, segundo colocado, e treze pontos e também três triunfos além do Santos, o terceiro. Aproveitamento de 90,74% em 18 rodadas do Brasileirão (no total, incluindo a nove partidas sob o comando de Abel Braga, cai para 79%). E a disputa por um lugar na final da Libertadores, contra o Grêmio, nesta quarta-feira (23), no Maracanã, com a vantagem do empate em 0 a 0.

Eis o saldo impressionante de apenas 120 dias de trabalho do técnico português Jorge Fernando Pinheiro de Jesus, o Mister Jorge Jesus, à frente do Flamengo. Mister não é nenhum Pep Guardiola, José Mourinho ou Jürgen Klopp. Ainda que seu ótimo desempenho à frente do time mais popular do Brasil possa valorizá-lo por um período, quando retornar a Portugal, será muito pouco provável que o coloque no primeiro time dos grandes treinadores europeus.

Estabelecidas as devidas ressalvas e dimensões, é preciso admitir que JJ é sério, competente e trabalhador. Vem demonstrando uma capacidade invejável de colocar estrelas com salários amazônicos para trabalhar com seriedade profissional, algo cada vez mais raro nas relações entre técnicos brasileiros e seus elencos em clubes onde boleiros costumam bombar ou boicotar treinadores ao sabor do vento.

Conheça alguns pontos que fazem JJ cair nas graças da imprensa e de parte dos torcedores. E, ao mesmo tempo, despertar indisfarçável sentimento de ciúme em parte dos treinadores brasileiros:

Publicidade

Aqui mando eu, ora pois

JJ aparenta ter pleno domínio sobre seu elenco salpicado de estrelas. Interrompe coletivos aos berros para corrigir posicionamento. Dá duras públicas nos atletas quando acha que deve, algumas delas até com aparente exagero. Mas os jogadores parecem entendê-lo. Alvos dos das duas chamadas mais firmes, o volante Willian Arão e o jovem meia-atacante Reinier cobriram o professor de elogios recentemente, e foram igualmente paparicados com palavras pelo comandante. Em um clube como o Flamengo, com seu laissez faire, seu ‘deixe fazer’ histórico, que sempre teve como método passar a mão na cabeça e dar tapinhas nas costas de boleiro, sobretudo quando eles menos merecem, não poderia ter ocorrido coisa melhor.

Publicidade

O Mister não poupa ninguém

Ninguém é exagero. Mas JJ se recusa a substituir quase todo - ou todo - o time de uma partida para outra, como faz Renato Gaúcho, Felipão e outros técnicos brasileiros. Ótimo: esse exagero de poupa-poupa torra a paciência no Brasil. O português prefere a poupança inteligente: troca dois ou três por jogo quando imagina ser o limite. E, mesmo assim, costuma colocar o atleta “de folga” no banco, como ocorreu com Willian Arão, que entrou no segundo tempo contra o Fluminense.

Publicidade

Jesus, o insaciável

Jesus empurra seu time para espremer o outro nas cordas sempre que possível. Para ele, parece não haver vantagem no placar que justifique pé no freio. Mesmo nos jogos em que o Flamengo abre dois ou três gols de frente, é comum vê-lo à beira do campo empurrando a equipe com gestos firmes. Intensidade do primeiro ao último minuto, algo que na maioria dos casos deixa o adversário tonto, como ocorreu outra vez, no domingo (20), na vitória por 2 a 0 sobre o Fluminense.

Na minha equipe craque tem que jogar

No Flamengo, ele arrumou lugar para quase todo mundo. Hoje escala Gerson, Everton Ribeiro, Gabigol, Bruno Henrique e Arrascaeta juntos. Abel, por exemplo, não pensava assim. Deixava o uruguaio Arrascaeta no banco. É bom ter técnicos com essa preocupação. JJ terá outra ‘dor de cabeça da boa’ até o final da temporada: o meia Diego está recuperado.

O time titular é esse, ó pá

Diego Alves, Rafinha, Rodrigo Caio, Pablo Marí e Filipe Luís; Willian e Gerson; Everton Ribeiro, Bruno Henrique, Gabigol e Arrascaeta. Se nenhum desses estiver contundido ou punido por suspensão, pode anotar: o time de JJ é esse, ó pá. A coragem e a pouca disposição de poupar jogador sem ter certeza da necessidade devolveram ao torcedor do Flamengo um prazer perdido pela maioria dos rivais: saber escalar seu time do goleiro ao extrema-esquerda na ponta da língua. Não há fanático que não se sinta orgulhoso da atitude.

Por tudo isso, Jorge Jesus merece reconhecimento. Promove uma sacudida positiva no cenário do futebol brasileiro, acomodado, entre outras coisas, pelo comodismo corporativo de seus técnicos. Podem anotar: em 2020 vai ter muita gente poupando menos, adiantando marcação, colocando boleiro para marcar saída... E jogando bola, enfim, e não apenas mergulhada nessa grande retrancona enfadonha que garante aos técnicos e cartolas o sapato folgado para não apertar o calo. Essa moleza com ares de covardia vai acabar.

Reconhecimento dos adversários que gostam de bola, porque, entre a torcida do Flamengo, o “olê, olê, olê, Mister, Mister” já supera até os gritos por muitos craques do time.

Últimas

Utilizamos cookies e tecnologia para aprimorar sua experiência de navegação de acordo com oAviso de Privacidade.