Logo R7.com
Logo do PlayPlus
Publicidade

Futebol brasileiro já vislumbra maiores investimentos de empresários americanos

Nas cinco principais ligas europeias já são 19 clubes com donos americanos, em especial na Inglaterra e Itália

Futebol|

John Textor, empresário dono de 90% da SAF do Botafogo
John Textor, empresário dono de 90% da SAF do Botafogo John Textor, empresário dono de 90% da SAF do Botafogo

A forte presença de investidores dos Estados Unidos já é uma realidade no futebol mundial. Nas cinco principais ligas europeias já são 19 clubes com donos americanos, em especial na Inglaterra e Itália. Com a Lei da SAF (Sociedade Anônima do Futebol) em 2021, o futebol brasileiro também integrou esse movimento, com o "desembarque" de empresas da Flórida no país.

Enquanto o milionário americano John Textor comprou as ações do Botafogo, o Vasco assinou um acordo com a empresa 777 Partners. A Kapital Football, do empresário Joseph DaGrosa, sócio minoritário que acentuou a crise financeira do Bordeaux, da França, entre 2018 e 2019, negociou com o América-MG, mas as partes não chegaram a um entendimento.

Tanto Textor quanto a 777 Partners também são donos de clubes europeus e integram o movimento crescente chamado "Multi Club Ownership", em que se cria uma rede de vários times de futebol pelo mundo. Ambos adquiriram recentemente equipes da Bélgica (Molenbeek e Standard Liège). Textor possui ainda ações no Crystal Palace, da Inglaterra, e a 777 Partners é dona do Genoa, da Itália, além de ser sócia minoritária do Sevilla, da Espanha. "Olhamos times de mercados que têm possibilidade de crescimento", disse o diretor da 777 Partners, Juan Arciniegas, ao Estadão.

Os motivos para investir no futebol brasileiro vão desde a fonte quase que inesgotável de talento, número grande de torcedores e a força do esporte no País, com agenda de janeiro a dezembro. A percepção do mercado internacional é de que se trata de uma liga subvalorizada e capaz de crescimento de receitas em todas as áreas. No entanto, a insegurança jurídica é um dos problemas apontados por especialistas em relação aos investimentos no futebol nacional.

Publicidade

Os novos investidores também vislumbram a possibilidade de obter um crescimento de receitas a partir de uma nova e lucrativa venda de direitos de transmissão do Brasileirão tocada por uma liga de clubes, independente da CBF, que ainda está se organizando e cujo trabalho só deve começar em 2025, quando os atuais contratos de TV chegam ao fim.

EXEMPLOS

Publicidade

Parte do sucesso da liga inglesa dentro e fora de campo foi acompanhada e impulsionada por lucrativas vendas de direitos de transmissão. Esse é um tipo de trampolim que investidores projetam tanto na Itália quanto no Brasil. Clubes bem estruturados, como Palmeiras e Flamengo, geram receitas anuais de R$ 1 bilhão - valor considerado baixo perto das ligas europeias, por exemplo.

"Não sabemos como será essa liga e como vai gerar dinheiro para os clubes. O mercado, hoje, não é claramente de aumento de receitas de transmissão de TV a curto prazo. Então, o crescimento (desses valores) tende a ser um pouco mais lento do que nos exemplos extremados da Inglaterra e Espanha. É preciso ter uma expectativa justa de receitas", analisa o economista e sócio da consultoria Convocados Cesar Grafietti.

Publicidade

O futebol brasileiro ainda ficou em banho-maria durante dois anos da pandemia, e isso esfriou alguns negócios. Foram temporadas de sobrevivência.

Leia também

DE OLHO NA ITÁLIA

A chegada de americanos também passou a ocorrer recentemente na Itália. Na primeira divisão, oito dos vinte clubes - incluindo Milan e Roma - são de propriedade de empresários americanos.

Existe o elo emocional com o país - alguns dos bilionários são ítalo-americanos -, com interesse na cultura, gastronomia e história. Mas o principal motivo é a avaliação de que também se trata de uma liga subvalorizada e com chance de crescimento exponencial de receitas.

O futebol italiano já foi o melhor e mais prestigiado da Europa. Para os envolvidos, trata-se de uma oportunidade de mercado difícil de recusar. Os americanos acreditam que o Campeonato Italiano pode ser mais bem gerido, com aumento significativo de receitas e modernização dos antigos estádios do país. É uma liga forte e que sonha em se aproximar financeiramente dos rivais ingleses e espanhóis.

As "armadilhas" talvez não sejam óbvias para investidores americanos que desconhecem a fundo o seu novo negócio. Muitos desses investidores americanos têm experiências com outros esportes, especialmente no futebol dos Estados Unidos, beisebol e basquete, que se organizam de forma bem distinta do futebol tradicional fora do país. Esses esportes americanos não têm ligas concorrentes estrangeiras e os donos precisam aprender como o jogo funciona.

LIGA AMERICANA

A própria Major League Soccer, principal liga de futebol dos Estados Unidos, também se organiza e se estrutura de forma diferente do restante do mundo. A MLS, por exemplo, não tem acesso nem rebaixamento. As regras diferentes interferem dentro e fora de campo e os investidores precisam se adequar a esse aspecto que pode ser decisivo no sucesso esportivo e financeiro de um clube estrangeiro.

"Ao longo do tempo, as franquias americanas ficaram muito caras, até as que eram mais baratas da MLS, por conta do crescimento e da demanda. Custa muito caro, apesar de ter retorno. Como o esporte dominante no mundo é o futebol, (os investidores) viram um potencial de retorno maior fora dos Estados Unidos: os valores de compra desses clubes eram baixos e um retorno relativamente alto", explica o economista Grafietti.

Por causa dos riscos financeiros e esportivos de uma queda para uma divisão inferior, os clubes devem investir continuamente em talentos, o que pode dificultar a geração de lucros. Especialmente, quando há concorrentes bancados por governos, como o Manchester City (pelo Catar) e o Paris Saint-Germain (pelo Emirados Árabes Unidos).

Os principais alvos dos empresários americanos são geralmente clubes com graves problemas financeiros e desorganizados. Uma das estratégias usadas é a do "turnaround": comprar o clube em baixa, colocar a casa em ordem, sanar as contas, melhorar as receitas, recolocar o time no caminho do crescimento e revender por um valor maior do que comprou.

Essa cultura é muito usada para aquisição de empresas nos Estados Unidos. Reflexo disso é que tanto Vasco quanto Botafogo foram avaliados com preços em baixa e com potencial de crescer pelos seus investidores americanos.

INGLÊS, O MAIOR MERCADO

Mas é no futebol da Inglaterra que se encontra o maior número de investidores americanos. Hoje, nove dos 20 clubes da primeira divisão inglesa têm donos dos Estados Unidos. A "primeira geração" de americanos no futebol inglês se deu entre 2005 e 2012, período em que sete clubes foram comprados.

Atualmente, três dos principais times ingleses, Arsenal, Liverpool e Manchester United, são de propriedade de empresários americanos, que também possuem franquias de futebol americano, beisebol e basquete.

Os bilionários Stan Kroenke, do Arsenal, e os irmãos Avram e Joel Glazer, do Manchester United, têm sido alvo de muitos protestos dos torcedores ao longo dos anos por decisões estratégicas consideradas equivocadas, enquanto os rivais acumulam cada vez mais troféus.

A falta de sucesso esportivo é o principal motivo das críticas. Em maio do ano passado, centenas de torcedores do Manchester United invadiram o estádio de Old Trafford e entraram no gramado com faixas e bandeiras pedindo a saída dos Glazer. A chegada de Cristiano Ronaldo, que voltou ao United depois de quase fechar com o rival City, acalmou os ânimos.

Uma das polêmicas foi como a família realizou a aquisição do clube, por meio do "leveraged buyout". Essa é uma prática em que se contrai empréstimo e o dinheiro obtido é usado justamente para comprar um ativo, que passa a ser responsável por essa dívida - os ativos são utilizados como garantia.

"Na Inglaterra, temos ótimos modelos de administração americana com investimentos em analytics e crescimento comercial, como é o caso do Liverpool, mas muitos casos de leveraged buyout, que normalmente são muito mal vistos pelos torcedores dado o aumento da dívida e o limitado investimento de capital por parte dos donos", avalia o empresário brasileiro Guilherme Decca, que comprou o Wakefield AFC, da 11.ª divisão inglesa, em 2020. "Um ótimo exemplo é o Burnley, um time que estava saudável e, se cair para segunda divisão, estará em uma situação complicada por conta disso."

IMPULSO

No Liverpool, o atual dono, o americano John W. Henry, substituiu em 2010 no comando do clube os compatriotas Tom Hicks e George Gillett Jr., que causaram pesadelos na torcida em função da gravíssima crise financeira. O clube foi do inferno ao céu a partir da mudança.

"A compra do clube por eles (Hicks e Gillett Jr.), outro leveraged buyout, havia sobrecarregado o Liverpool com dívidas impressionantes de 351 milhões de libras, o que incluía um empréstimo de 237 milhões de libras do Royal Bank of Scotland que venceria em questão de semanas. Incapaz de cumprir tais obrigações, o Liverpool enfrentava um sério risco de falência", diz um trecho do livro "A Liga: Como a Premier League se tornou o negócio mais rico e revolucionário do esporte mundial".

O cenário encontrado pela Fenway Sports Group (FSG), a empresa de Henry, no Liverpool, era caótico em 2010. Em campo, o time havia terminado o Campeonato Inglês apenas na sétima posição, com resultados frustrantes. A situação financeira era delicada e a corda no pescoço só apertava.

Nos últimos 12 anos, Henry colocou dinheiro de sua empresa no clube, aumentou receitas com melhores patrocínios, fez reformas para aumentar a capacidade de Anfield, visando retorno financeiro, e precisou vender grandes nomes como Fernando Torres e Luis Suárez para equilibrar as contas. As receitas comerciais, sem considerar o montante gerado em dias de jogos e os relacionados à venda de direitos de transmissão, aumentaram de 67,7 milhões de libras em 2010 para 188 milhões de libras em 2019.

ACERTO NO TÉCNICO

Demorou, mas o sucesso também veio dentro de campo. Tudo começou a mudar em 2015, com a contratação do técnico alemão Jürgen Klopp, que liderou o processo de reconstrução da equipe. Desde então, foram cinco títulos, incluindo o Campeonato Inglês e a Liga dos Campeões.

"Não depende da origem do investidor, mas sim da organização e do preparo. Os donos do Liverpool tinham essa visão clara de reconstrução. Tem modelo de gestão muito bem definido. Um clube com potencial imenso, mas à época desestruturado. Sem gastar mais do que arrecadava, investiu o que pôde e melhorou as receitas", analisa Grafietti.

Na cabeça dos investidores americanos, todo negócio tem de ser bem organizado, bem gerido e lucrativo. E o futebol brasileiro, para eles, começa a oferecer tais condições.

Éric Abidal, ídolo do Barcelona, é investigado tráfico de órgãos

Últimas

Utilizamos cookies e tecnologia para aprimorar sua experiência de navegação de acordo com oAviso de Privacidade.