Oscar ficou sete anos no São Paulo
Gazeta PressOs anos 70 e 80 eram uma época de grandes atacantes no Brasil. Qualquer zagueiro que atuasse neste período, ainda mais no interior de São Paulo, onde as partidas sempre foram pegadas, tinha tudo para ser chamado de “beque de fazenda”. Também, quase não havia alternativa.
O importante era, diante de Sócrates, Serginho, Leivinha e outros, chutar a bola para o mato porque o jogo era de campeonato, como diz o ditado. O zagueiro Oscar, porém, era diferente. Jogava na Ponte Preta, no coração do Estado e, apesar de firme, jamais precisou usar das ferramentas da truculência para se firmar.
— Nossa geração, em Campinas, levou quatro jogadores à Copa de 1978 e outros três para a Copa de 1982. Havia muios talentos vindos das categorias de base na época. Eu, o Polozzi e outros subimos para o principal para preencher as vagas de jogadores que foram para outros clubes, como o Valdir Peres e o Chicão, transferidos para o São Paulo.
Desde que estreou na equipe de Campinas, com apenas 18 anos, em 1973, Oscar se impôs pelo jogo simples, contrastando com a elegância. Seus cabelos claros e volumosos o faziam se assemelhar a um galã de novelas.
Mas quando vestia o uniforme, esta imagem se desfazia, dando a impressão de que um operário de macacão trabalhava na máquina de uma indústira, sem se importar em se manchar com a graxa. Desta forma, ele ajudou nas conquistas do Paulista de 1980, 81, 85 e 87, além do Brasileiro de 1986. Pela seleção brasileira, participou das Copas de 1978, 82 e 86.
O zagueiro jogava um futebol “feijão com arroz”. Mas bem temperado. Não era de dar chutão e, por outro lado, nem de sair driblando três ou quatro adversários, após dominar ela no peito. Não. Nas jogadas de perigo, ele, meticulosamente, observava o melhor ângulo para o desarme, encaixava o pé de uma maneira eficiente e, com a bola sob controle, levantava a cabeça e tocava para alguém que saísse jogando com facilidade. A grande vantagem de Oscar era dar tranquilidade para a defesa.
Mão do técnico
Passados mais de 40 anos, suas palavras refletem o estilo de jogo. São objetivas e sem muito enfeite, já um pouco ofegante. Afinal, o eterno ídolo está com 60 anos. Quem não o ouve falar desde as vigorosas entrevistas dos tempos de atleta, estranha.
O senhor Oscar acompanha o futebol mesmo à distância. Além de ter um apego especial à Ponte Preta, ele se diz são-paulino, já que, depois dos seis anos em Campinas, ficou mais sete no Tricolor paulista, entre 1980 e 1987, após passagem pelo Cosmos, dos Estados Unidos. Conhecedor de todos os atalhos do Morumbi, o ex-zagueiro se mantém informado e em contato com dirigentes e profissionais que atuam até hoje no clube.
Conforme disse ao R7, antes do jogo contra o Coritiba, ele considera o momento do São Paulo bom, porém destacou que era importante o grupo conter a empolgação. Dito e feito. Na iminência de se aproximar do líder Cruzeiro, a equipe foi surpreendida e, com a derrota por 3 x 1, se distanciou ainda mais do time mineiro.
— O Campeonato Brasileiro é difícil de ser jogado. Às vezes uma equipe está numa situação boa, ganha, mas o time na frente na tabela também vence. O importante é saber jogar esta competição, buscando sempre a vitória para não ficar para trás.
Ganso espera ser chamado para seleção brasileira: "Vou estar preparado e não sair mais"
No momento, Oscar administra um resort ambiental e o Brasilis Futebol Clube, voltado à formação de jogadores estrangeiros. Ambos empreendimentos ficam em Águas de Lindoia, cidade próxima de Monte Sião, onde ele nasceu. Após uma carreira de técnico, entre 1989 e 1998, o agora empresário ainda não exclui a possibilidade de trabalhar em algum cargo de coordenação dentro de um clube.
Amigo de Muricy, ele vê no técnico são-paulino algumas semelhanças com Telê Santana, treinador que, ao lado de Cilinho, foi o melhor com quem trabalhou.
— O Muricy analisa muito os detalhes, como o Telê. Ele tem seu estilo próprio, mas há alguma semelhança. Também tem um pouco do Cilinho, mas acredito que se parece mais com o Telê.
Oscar considera o São Paulo um dos favoritos ao título, mas ainda vê um caminho longo pela frente, já que o Cruzeiro se distanciou na liderança na última semana.
— O Ganso, até pouco tempo atrás não estava tão bem. Mas todos sabem que ele é um craque e, agora que está jogando melhor, as coisas começam a fluir. Mas não é só ele. Quando uma equipe rende bem é que está acontecendo de tudo um pouco. Tem a mão do técnico, a boa fase de jogadores talentosos e um entrosamento do grupo. Tudo conta.
Nos tempos de Falcão
A presença de um jogador experiente e criativo como Kaká também é fundamental, na opinião de Oscar. Ele lembra que esta situação tem algo de parecido com a chegada do craque Falcão ao São Paulo, em 1985, para jogar junto com Oscar.
— Quando um nome deste porte chega, dá um ânimo maior, um estímulo por tê-lo dentro do grupo. Tínhamos um time bom, mas a vinda do Falcão contribuiu ainda mais com o ambiente da equipe. Acho que com o Kaká, os jogadores também se sentem mais estimulados ainda.
Natural de Monte Sião, em Minas Gerais, Oscar mora agora próximo à sua terra. Desfruta de todos os confortos que o futebol pôde lhe proporcionar. De lá, costuma sempre dar uma ligadinha para o auxiliar do São Paulo, Milton Cruz, para uma animada conversa.
— O Milton Cruz é meu compadre.
Oscar foi testemunha da fase inicial do atual São Paulo, um dos clubes mais modernos do país. Atuava pela equipe na época da inauguração do Centro de Treinamento da Barra Funda, em 1985, que mudou a história do clube. A partir de sua geração, a torcida tricolor teve um grande crescimento. O clube se "corintianizou", tendo até brigas de dirigentes em público. Diante dos desafios do mundo, o São Paulo agora é outro. Mas, para Oscar, sempre será a sua segunda casa.