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Conquista do tetra era "obsessão" entre os jogadores

Grupo tinha até um local para "lavar roupa suja", chamado de "Quartão"

Copa do Mundo 2014|André Avelar e Eugenio Goussinsky, do R7

Jogadores de mãos dadas foi uma das marcas daquela seleção
Jogadores de mãos dadas foi uma das marcas daquela seleção Jogadores de mãos dadas foi uma das marcas daquela seleção

Durante a Copa de 1994, o assunto que prevalecia entre os jogadores era o fracasso da seleção brasileira quatro anos antes, quando foi eliminada nas oitavas de final pela Argentina, perdendo por 1 x 0. Mauro Silva, que era o volante titular, conta que havia quase uma obsessão para evitar que um novo vexame acontecesse.

— Foi trabalho em equipe. O grupo todo deixou a vaidade de lado. O Raí, por exemplo, perdeu a posição e não criou problemas, continuou colaborando com o time. Ninguém brigou por verba de publicidade, como aconteceu em 1990.

Aquela conquista, segundo Mauro Silva, começou quando o Brasil, pela primeira vez em Eliminatórias, perdeu um jogo, no dia 24 de julho de 1993. O adversário foi a Bolívia e, nos vestiários, após a derrota por 2 a 0, Parreira estava atônito, em uma situação similar à vivida pela comissão técnica brasileira após a derrota para a Alemanha, em 2014. No jogo seguinte, Parreira colocou Dunga no lugar de Luís Henrique, para atuar ao lado de Mauro Silva e fortalecer a marcação de meio-campo.

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— Doeu muito aquela derrota, foi terrível. Mas nunca pedi ao Parreira para que o Dunga entrasse. Às vezes é bom ficar calado e esperar pelos acontecimentos. O time se arrumou nas partidas seguintes e a derrota motivou a união dos jogadores.

Nas rodadas seguintes, o Brasil venceu a Venezuela, por 5 x 1, o Equador, por 2 x 0 e, na volta contra a Bolívia, os jogadores entraram em campo de mãos dadas, ritual que iria perdurar por alguns anos, como símbolo de união. Naquela tarde, o Brasil deu o troco com juros, fazendo 6 x 0 nos bolivianos.

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Combinação de estilos

Antes da Copa, a pressão era grande, similar à da Copa do Mundo de 2014, mas, na ocasião, o grupo soube lidar com as cobranças, conforme lembra o ex-zagueiro Ronaldão, que fazia parte do elenco e era um dos principais conselheiros dos jogadores durante os treinamentos.

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O ex-jogador ajudou a manter o ambiente sob controle. Quando um se exaltava, havia outro para evitar um conflito. Não foi à toa que a comissão técnica dividiu os jogadores de acordo com seus perfis, numa época em que os quartos não eram individuais.

O capitão Dunga, sempre disciplinado, ficou no quarto com o irreverente Romário. As personalidades de ambos se combinaram, a ponto deles serem amigos até hoje. O reserva Ronaldão também tinha muita amizade com o lateral-esquerdo Branco.

Ele evitou que Branco se exaltasse no momento em que, nos vestiários, durante a partida contra os Estados Unidos, pelas oitavas, o técnico Carlos Alberto Parreira optou por Cafu, como substituto do lateral Leonardo, expulso no fim do primeiro tempo.

Em sua primeira das três finais de Copa do Mundo, Cafu foi novamente chamado na decisão contra a Itália. O lateral-direito lembra que, ao contrário de hoje, os choros derramados naquela época eram apenas nas comemorações depois do título conquistado.

— Nunca vi um time chorar tanto assim. Chora porque ganha, porque perde... Chora por tudo. Na minha época a gente só chorava de felicidade.

Roupa suja

Ronaldão conta até que, na concentração em Los Gatos, perto de San Francisco, havia um lugar específico para os jogadores "lavarem a roupa suja".

— O assunto mais falado entre os jogadores na época era conquistar o título. Depois das partidas todos se reuniam para um bate-papo sincero. Na concentração, havia um quarto, que chamávamos de “Quartão”, em que conversávamos tudo sobre o dia-a-dia. Lá controlávamos a ansiedade e mantínhamos o foco na competição. Foi uma fórmula que deu certo.

Na opinião de Ronaldão, a Copa de 1994 já havia deixado um legado que durou por alguns anos. Ele afirma isso em tom de lamento, não medindo críticas ao atual estágio da seleção brasileira, após a derrota por 7 x 1 para a Alemanha, nas semifinais do Mundial de 2014.

— A campanha de 2014 jogou fora um trabalho, uma história conquistada com suor. O legado do tetra serviu para as duas Copas seguintes, quando o Brasil também chegou à final. Em 94, a seleção reencontrou o caminho da vitória, aprendeu novamente a encarar de frente uma Copa do Mundo. Nas Copas seguintes isso foi se perdendo.

Conhecedor do trabalho do técnico Parreira, Ronaldão notou algumas diferenças no estilo do treinador, que não contribuíram para que a atual seleção saísse vencedora da Copa no Brasil.

— Em 1994 Parreira era um comandante, fazia o que se esperava desta função. Tinha seu ponto de vista, manteve até o final e ganhou. Em 2014 ele teve sua parcela na derrota, poderia ter colocado mais a sua experiência de ter conquistado o título depois de 24 anos, em um momento de pressão. Ele precisaria ter um pouco mais de voz ativa na Comissão Técnica. Mas agora não adianta procurar culpados, o que é preciso é mudar o que houve de errado.

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