Fifa enterrou investigações contra si sobre processo de escolha do Qatar 2022
Arnd Wiegmann/Reuters - 26.9.2017Autor de uma série de reportagens que revelou um suposto esquema de corrupção na escolha da sede da próxima Copa do Mundo, o jornalista Jonathan Calvert se mostra enfático. O britânico acredita que a Fifa deve rever sua decisão e retirar o Mundial de 2022 do Qatar.
As matérias — conhecidas como “Fifa Files” (Arquivos da Fifa) e que depois se transformaram no livro “The Ugly Game” ("O Jogo Feio", sem previsão de lançamento no Brasil), em parceria com o também jornalista Heidi Blake — apontaram para um esquema ilícito entre o então presidente da Fifa Joseph Blatter e autoridades qataris para a compra de votos na escolha da sede.
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Apesar das denúncias, a entidade enterrou as investigações sobre si mesma, no conhecido Relatório Garcia, de junho de 2017. Antes, em dezembro de 2015, o próprio Blatter havia renunciado à presidência da Fifa. Dois meses depois, Gianni Infantino assumiu com a promessa de reformar a entidade.
O jornalista do "The Sunday Times" conversou com o R7 antes de desembarcar em Foz do Iguaçu (PR) para o 23º Congresso Latino-Americano de Auditoria Interna, que acontece a partir deste fim de semana. Confira a seguir os principais trechos da entrevista:
R7: Por que as pessoas continuam assistindo futebol se é um “Jogo Feio”?
Jonathan Calvert: Futebol é o jogo mais amado, tem grande participação no mundo e por muito tempo pode ficar assim. O “jogo feio” é praticado por dirigentes corruptos e intermediadores que enchem seus próprios bolsos e financiam estilos de vida luxuosos às custas dos espectadores comuns.
R7: O que está por trás da escolha da Copa do Mundo no Qatar em 2022?
JC: A Copa do Mundo de 2022 foi entregue ao Qatar porque o Comitê Executivo da Fifa em 2010 era o grupo de dirigentes mais corrupto que o mundo já viu. O qatari Mohammed bin Hammam [membro do comitê] sabia como jogar esse jogo. Ele usou a vasta riqueza do Estado no Golfo para influenciar decisivamente na eleição.
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R7: Os jogadores deveriam se opor à corrupção no futebol?
JC: Definitivamente, não posso dar conselhos a jogadores de futebol. Acredito que haja um grande ponto de interrogação sobre a reforma da Fifa pós-Joseph Blatter. Recentemente, encontramos novas evidências de que a candidatura do Qatar quebrou as regras da Fifa durante a eleição de 2010, executando uma campanha de truques sujos contra seus rivais Estados Unidos e Austrália. Enviamos nosso trabalho para a Fifa, mas não tivemos nenhum retorno.
R7: Como você vê a CBF (Confederação Brasileira de Futebol) nos dias de hoje? Os dois últimos presidentes estão envolvidos no Fifagate.
JC: Como não sou jornalista esportivo, não posso comentar. Estou familiarizado com todas as acusações contra o Ricardo Teixeira. Mas nada além disso. Teixeira admitiu que fez parte de um acordo de conluio que trouxe pelo menos sete votos para o Qatar e a candidatura Espanha/Portugal em 2010. É preciso questionar a Fifa sobre o que está fazendo a respeito da violação flagrante de suas regras agora que um dos participantes-chave admitiu isso.
R7: O Fifagate pode mudar os rumos do futebol pelo mundo?
JC: A Fifa precisa defender a ética e a justiça retirando a sede da Copa do Mundo do Qatar. Isso mostraria ao mundo que a entidade realmente se reformou e acredita em algo mais do que encher seus próprios bolsos.