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Com Apartheid, títulos na Europa e raízes portuguesas na história, Lusa e Briosa jogam pela Copa Paulista

Tradicionais equipes luso-brasileiras se enfrentam neste domingo (13)

Futebol|Do R7*

Portuguesa Santista manda seus jogos no Ulrico Mursa
Portuguesa Santista manda seus jogos no Ulrico Mursa Portuguesa Santista manda seus jogos no Ulrico Mursa

Neste domingo (13), o Estádio Ulrico Mursa, em Santos, será palco de um duelo dos mais tradicionais do Estado de São Paulo: Portuguesa Santista x Portuguesa de Desportos. O confronto de raízes lusitanas carrega uma história quase centenária de dois clubes que até hoje se mantêm fiéis, ao menos em parte, às suas origens.

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“A Portuguesa Santista foi fundada por um grupo de trabalhadores, quase todos portugueses, da Pedreira do Contorno. Esses trabalhadores eram chamados de ‘canteiros’, uma atividade muito comum em Santos na década de 1910. Um grupo de ‘canteiros’ resolveu então criar uma agremiação que lembrasse Portugal”, conta Alvaro dos Santos Silveira Filho, economista e conselheiro da Portuguesa Santista. “Os primeiros anos foram administrados por esse grupo que escolheu para o uniforme oficial as cores da bandeira de Portugal: verde e vermelho”.

O conselheiro atualmente se dedica ao lançamento do livro do centenário da Portuguesa Santista, comemorado em novembro. Ele, que conhece tudo sobre a Briosa, lembra das origens portuguesas do clube santista: “foram sempre portugueses, empresários bem-sucedidos na cidade, os grandes incentivadores e responsáveis pela continuidade do clube nas graves crises financeiras. Essa relação se mantém até hoje, visto que os maiores patrocinadores do clube são empresas com fortes laços com os portugueses”.

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Do lado paulistano, quem fala sobre o vínculo luso-brasileiro é Luiz Nascimento, jornalista e editor do Acervo da Lusa. “É impossível desvincular Portugal da história da Portuguesa. O próprio dia de fundação, 14 de agosto de 1920, não foi por acaso. A data é a mesma em que, em 1385, Portugal venceu a famosa Batalha de Aljubarrota e conseguiu a independência da Espanha”, comenta.

“O escudo da Lusa, um dos únicos do país sem uma letra ou palavra sequer, tem a Cruz de Avis. Era o símbolo da dinastia que conseguiu tornar Portugal independente”, explica o jornalista que também dirigiu o filme “Rubro-Verde Espetacular”, ao lado de Cristiano Fukuyama, sobre a Lusa da década de 1950. “Até hoje a Portuguesa é comandada por portugueses. Nos raros momentos em que algum presidente brasileiro chegou ao poder, tinha ascendência portuguesa. E tudo que compõe o clube, como o Conselho Deliberativo, ainda é formado por portugueses”.

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Sobre as semelhanças entre as portuguesas, Luiz diz que a vontade de imigrantes lusos se sentirem representados no esporte foi fundamental para as criações de ambas as instituições. “Os dois clubes nasceram em uma época em que a colônia portuguesa era muito numerosa no país. O Porto de Santos era a grande porta de entrada dos portugueses que vinham a São Paulo. Portanto, a criação da Briosa e da Lusa foi motivada pelo desejo da colônia em ser representada em um esporte que, na época, já começava a arrebanhar um grande público e a ter espaço na imprensa”.

Ulrico Mursa viu Palmeiras de Vágner Love em 2004
Ulrico Mursa viu Palmeiras de Vágner Love em 2004 Ulrico Mursa viu Palmeiras de Vágner Love em 2004

O palco do duelo de domingo, o Ulrico Mursa, é a sede da Portuguesa Santista desde sua criação. O Estádio foi construído na área de trabalho dos “canteiros” fundadores do clube. “A Pedreira do Contorno ficava em frente ao terreno que os canteiros obtiveram autorização para limpar e construir um campo de futebol. Era um imenso matagal com muitas pedras, no qual os trabalhadores, após o horário do expediente, varavam as noites preparando o terreno. Posteriormente, o espaço foi cedido à Portuguesa para a construção do Estádio Ulrico Mursa”, diz Alvaro.

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Donos de belas histórias, os clubes luso-brasileiros vivem momento complicado. A partida deste fim de semana marca a 8ª rodada da Copa Paulista, campeonato que dá vaga na Série D do Campeonato Brasileiro ao campeão. Mas os times que hoje buscam voltar a disputar um torneio nacional têm grandes histórias para contar. “Tanto a Portuguesa quanto a Portuguesa Santista despontaram no futebol como grandes e foram destaque pela revelação de craques. Um dos principais foi o Brandãozinho, que jogou primeiro na Briosa e depois na Lusa. Ele foi campeão do mundo com a seleção brasileira em 1958”, conta Luiz, diretor do documentário que aborda a conquista do tricampeonato da Fita Azul pela Lusa.

Ele repassa momentos dos anos 50, quando a colônia portuguesa vibrou muito com seus times brasileiros. “A Fita Azul é uma conquista em comum entre os clubes. A Lusa foi pioneira, venceu em 1951, 1953 e 1954, quando bateu clubes como Atlético de Madrid, Valencia, Galatasaray, Besiktas e Fenerbahçe. Já a Briosa conquistou em 1959, em uma viagem histórica à África do Sul em que os jogadores enfrentaram o forte preconceito imposto pelo Apartheid”, explica o jornalista.

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Um consenso entre Luiz e Alvaro é que a presença do Santos Futebol Clube na cidade litorânea contribuiu para a falta de atenção dada à Briosa. Mesmo na época do título da Fita Azul, em 1959, Pelé já havia estreado na Vila Belmiro, atraindo olhares de todo o mundo para Santos. Com o Rei em ascensão, poucos olhos enxergavam o lado lusitano.

Quando entrarem em campo neste domingo, Portuguesa Santista e Lusa serão adversários, mas também terão que enfrentar seus próprios problemas fora dele. “O fato de ser um clube de colônia dificulta em alguns momentos, principalmente pela questão política. O fato de ser formada por famílias acaba tornando a política do clube inviável. Há muita vaidade e intriga. É o que tanto danifica a política do clube”, avalia Luiz, sobre a Lusa.

Isso, porém, não é motivo para o time abandonar as raízes, como conclui o editor do acervo histórico do clube do Canindé: “a Lusa não pode jamais perder essa essência. Não há razão de a Lusa existir a não ser em rubro-verde. É o diferencial dela, é o que a torna diferente, especial. Todo o contrário é jogar na vala comum”.

*Pedro Rubens Santos, estagiário do R7

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