Chapecoense perdeu jogadores na tragédia em Medellín, mas ganhou milhões de torcedores espalhados pelo mundo
Ricardo Moraes/ReutersMesmo só uma semana depois da tragédia que matou 71 pessoas em Medellín, na Colômbia, a Chapecoense já dá mostras de que se reerguerá dentro de campo. O trauma de velar tantos integrantes do clube em seu próprio estádio será mais difícil do que questões financeiras. A tragédia não pode ter feito bem para nenhum dos envolvidos, mas, com o reconhecido modelo de sucesso administrativo, não é difícil imaginar o time do oeste catarinense como uma potência do futebol em cinco anos.
Com a queda do Avro RJ85, por mais cruel que possa parecer, a Chapecoense perdeu valores imateriais, grandes jogadores, mas não perdeu propriamente dinheiro. Os atletas em geral não tinham grande vínculo econômico com o clube. No início do ano, o orçamento previsto era de R$ 45 milhões, bem distante dos mais de R$ 400 milhões calculados pelo Flamengo, por exemplo. Os jogadores ganhavam de R$ 20 mil a R$ 100 mil de salário, apenas o veterano Cléber Santana extrapolava o teto.
Mesmo com futuros bem encaminhados no cenário nacional, jogadores de destaque não renderiam grandes fortunas aos cofres do time da Arena Condá, muito por conta da conhecida atuação dos empresários no meio futebolístico. O modelo adotado pelo clube previa não depender do dinheiro municipal de uma cidade com pouco mais de 200 mil habitantes, mas sim dos executivos do agronegócio.
Para quem pode achar exagero, as palavras do vice-presidente da associação traduzem a vontade de seguir adiante. Ivan Tozzo – que em um primeiro momento parece ser o homem destinado a seguir as lições do presidente Sandro Luiz Pallaoro, morto no trágico acidente – respeita o luto, mas já prepara o trabalho de reconstrução.
Em discurso emocionado no funeral de 44 integrantes do clube pelo qual dedicou uma vida, Tozzo deu sua palavra que a Chapecoense não desaparecerá. Ao contrário do perfil de outros dirigentes do futebol nacional, isso não é pouco.
“Queridos torcedores, queridas famílias, nossos pequeninos, não percam a esperança. Vivam o sentimento mais profundo de pesar dos nossos heróis e eternos campeões, mas ergam a cabeça e continuem firmes e fortes. A Chapecoense, nossa amada Chape, mais do que nunca, precisa de vocês”, disse o vice-presidente. “O sonho não acabou pois o sonho é uma arte involuntária.”
Fora as palavras, jogadores de relevância até internacional já se ofereceram para atuar na Chapecoense. O atacante islandês Eidur Gudjohnsen (de 38 anos, com passagem importante pelo Barcelona) se ofereceu para jogar e já até convocou Ronaldinho Gaúcho – empresário do jogador, Assis disse que o irmão pode ajudar de outras formas. Até mesmo o meio-campo argentino Juan Riquelme (que se aposentou recentemente) poderia jogar no oeste catarinense.
No Brasil, os clubes, outrora meros adversários, se ofereceram a emprestar jogadores gratuitamente. Atlético-PR, Botafogo, Coritiba, Corinthians, Cruzeiro, Fluminense, Palmeiras, Portuguesa, Santos, São Paulo e Vasco divulgaram notas dispostos a ajudar. O único senão foi levantado pelo São Paulo, que prefere que as contribuições sejam financeiras, para que os benefícios cheguem também às famílias. Há também o projeto ainda em discussão fixar a Chapecoense na Série durante três anos.
A ajuda dos demais torcedores também será fundamental. E o brasileiro deu mostras de que está disposto a ajudar. Uma campanha nas redes sociais fez o número de sócios-torcedores saltar de 9 mil para 30 mil em menos de uma semana. A partir de R$ 16 por mês, os novos fãs da Chapecoense podem contribuir com o clube.
Na tarde da última segunda, a Conmebol oficializou o que já era desejos de todos os amantes da Chapecoense, e eles não são poucos. A equipe, que viajava para enfrentar o Atlético Nacional, em Medellín, foi declarada campeão da Copa Sul-Americana.
Com isso, a Chapecoense deve receber US$ 2 milhões pelo título além de vaga garantida na Recopa e, por isso, mais US$ 1 milhão. A Libertadores ainda rende US$ 600 mil por cada jogo da primeira fase em casa e serão no mínimo três.
A reestruturação da Chapecoense deve completar a frase brilhantemente escrita pelo Atlético Nacional logo após o acidente:
"Vieram por um sonho, partiram como lendas" e fizeram do time uma potencial do futebol.
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