“Treinar para um dia participar do Pan, né?”, diz Isabely, de 11 anos. Na maior favela de São Paulo não é só o futebol que figura como protagonista nos sonhos da garotada: a grande estrela de Paraisópolis é a bola oval do rugby, que apareceu por lá há 15 anos e ficou.
O esporte chegou ao Brasil na mesma época em que o futebol e nesses Jogos Pan-Americanos o país conquistou a melhor colocação da história, ficando em 4º lugar com a seleção feminina e masculina. Da comunidade, saíram três jogadores, entre eles Bianca Silva, de 21 anos, eleita a melhor atleta brasileira de rugby em 2018.
A iniciativa de levar a modalidade para o bairro paulistano foi do Instituto Rugby Para Todos. “A gente subiu aqui um dia e estava acontecendo um jogão de futebol, era Dia das Mães e tinha um boi amarrado como prêmio”, lembra Maurício Draghi, um dos cofundadores do projeto.
“Esse campo não tinha grade, não tinha luz, aquela arquibancada era um morro. Mas fomos conquistando espaço, todo mundo viu que a gente veio fazer o bem”, conta Draghi, que também é ex-integrante da seleção brasileira de rugby.
Nas palavras de Draghi: o rugby é um jogo maluco. O único em que você tem de ir em direção à meta, mas só pode passar a bola para trás. Por isso o esporte ensina a humildade e, aqui, a palavra ‘apoio’ é uma palavra técnica.
Da quebrada para o mundo
O trabalho que o Instituto desenvolve em Paraisópolis tem dado frutos e revelado nomes de peso. A atleta Bianca Silva, além do título de melhor atleta da última temporada, também é uma das embaixadoras da World Rugby, entidade máxima do esporte no mundo.
Ela chegou ao projeto com 11 anos para ser uma das alunas e ficou. “Aqui eu aprendi muita coisa, mas principalmente humildade”, afirma.
Dubai, Londres, Hong Kong e Lima, no Peru. Esses são alguns dos lugares que Bianca conheceu por causa do rugby.
“Antes eu só tinha viajado até Minas Gerais, é um oportunidade única. Se eu for perguntar pra alguém daqui se já foi pelo menos até o Paraguai, vai falar que não”, comenta a atleta, que mora em Paraisópolis.
Hoje a jogadora é espelho para os jovens da comunidade. Quando voltou do Pan, Bianca passou a ser abordada pelas crianças na rua. “Isso é muito especial pra mim e não caiu a ficha de que eu sou exemplo para eles”, revela.
Gabriel Lopes é mais um dos meninos de ouro que o Instituto revelou para o mundo. O atleta de 23 anos atualmente joga como profissional em um time de Los Angeles, nos Estados Unidos, e já chegou a ser o capitão da equipe. “O Rugby Para Todos me abriu portas. Se não fosse esse projeto, quem sabe onde eu estaria hoje…”, afirma.
Assim como a maioria dos alunos ele chegou ainda criança, aos 10 anos. A partir dos 15 já disputou o primeiro campeonato internacional, no Uruguai. “Quando você sai da comunidade e vê que o mundo é maior do que isso, você pensa ‘a gente pode ir longe’”, comenta. Antes de ir para os Estados Unidos, o atleta passou um ano na Nova Zelândia, conhecido como o país do rugby.
“As crianças se inspiram, quando ando pelas ruas de Paraisópolis elas falam ‘aquele é o tio Gabriel’. É um incentivo para elas não desistirem dos sonhos”, completa. Gabriel voltou ao Brasil para rever a família e matar a saudade, mas logo retorna para fazer faculdade e continuar como atleta em Los Angeles.
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}Rugby em comunidades proporciona educação e aproxima famílias
O trabalho desenvolvido pelo Instituto Rugby Para Todos atende mais de 200 alunos, com idades entre 6 e 18 anos, nas periferias de São Paulo e do Rio de Janeiro. "A maioria das família não vinha aqui para o filho praticar um esporte diferente, mas porque o horário casava com o trabalho e aí elas tinham com quem deixar as crianças", lembra Maurício Draghi, um dos cofundadores do projeto