Copa nos Extremos: o R7 vai acompanhar todos os jogos do Brasil em extremos de São Paulo e trazer as histórias das festas preparadas pelos moradores da periferia.
No fundão da zona sul, onde quase não parece mais ser São Paulo, dezenas de jovens se reuniram para assistir o segundo jogo do Brasil, na manhã desta sexta-feira (22), contra a Costa Rica.
Com muito barulho de vuvuzelas, apitos e gritos, os adolescentes com idades entre 14 e 17 anos, que participam do CJ (Centro da Juventude) de Vargem Grande, região de Parelheiros, transformaram as cadeiras do lugar em arquibancada para o jogo do Brasil.
Uma das orientadoras da projeto é a poetisa Cinthya Santos, a Kimani — atual campeã do Slam SP (campeonato de poesia falada). Com camiseta do Brasil e rosto pintado, era uma das mais animadas no meio da galera.
“Não gosto de futebol, mas a Copa é diferente porque é um motivo para gente se unir”, conta a poetisa. “Quando vejo falar de Copa no Brasil, consigo ver o movimento que a periferia tem, que é a quebrada se reunindo para juntar dinheiro e pintar a rua, fazer uma bandeira”.
O barulho da torcida brasileira no CJ só abaixou com o fim do primeiro tempo. Intervalo do jogo, intervenção da juventude: primeiro um stand-up dos adolescentes, depois poesia da Kimani.
Nesse momento, o futebol ficou de lado e os versos da poetisa foram sobre racismo. Ainda acerca dessa questão, Kimani afirma que a Copa também traz uma reflexão sobre isso, principalmente quando os negros são protagonistas.
O segundo tempo começa e, com o persistente empate, as vuvuzelas, apitos e gritos foram ficando cada mais mais silenciados. Em alguns poucos momentos, os jovens levantavam na expectativa frustrada de ver um gol brasileiro.
Na torcida da seleção também tinha um atleta. “Gosto de futebol, vôlei, mas o que eu quero para minha vida mesmo é continuar no tênis de mesa”, conta o estudante Vicson Alberto, 16 anos. O jovem vestia uma blusa da Gaviões da Fiel — mesma torcida que esticou uma faixa atrás do gol da Costa Rica no primeiro tempo.
Morador do Vargem Grande, Vicson joga pelo clube Ateme, a três horas da sua casa. Ele treina no esporte desde 2015, e tem o sonho de se profissionalizar. "Mais do que qualquer conquista, eu quero trazer o esporte aqui, ser treinador, porque aqui no bairro quase ninguém conhece".
Enquanto isso, os jovens torcedores começaram a conversar e o jogo, sem gols, acaba ficando em segundo plano. Nos minutos finais, a decepção com o empate faz com que a torcida retome. Os dois gols saem no conhecido estilo brasileiro: resolvido na última hora.
Solucionado, mas com sofrimento — a primeira vitória da seleção brasileira na Copa do Mundo da Rússia aconteceu nos acréscimos do segundo tempo. O barulho no CJ depois dos gols e, principalmente após o apito final, foi ensurdecedor. Toda a força da juventude soprando as vuvuzelas e apitos, gritando, pulando e abraçando um ao outro.
O próximo compromisso da seleção brasileira é na quarta-feira (27), às 15h, no estádio de Spartak, contra a Suécia.
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Rua próxima do Centro de Juventude do vargem Grande, região de Parelheiros (zona sul de São Paulo), está em verde-e-amarelo para a torcida na Copa do Mundo