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Conheça os surfistas da “Tempestade Brasileira” que assustam mundo do surfe com vitórias sobre gênios do esporte

“Brazilian Storm” tem hoje o líder do ranking mundial, três entre os dez e sete surfistas entre os 25. Entenda porque o surfe cresceu tanto por aqui

|Do R7

Medina é especializado em aéreo, aquela manobra em que o surfista “voa” por alguns segundos
Medina é especializado em aéreo, aquela manobra em que o surfista “voa” por alguns segundos Medina é especializado em aéreo, aquela manobra em que o surfista “voa” por alguns segundos

O surfista brasileiro Gabriel Medina venceu, no dia 11 de março, da Gold Coast Quicksilver Pro, na Austrália, primeira das onze etapas do circuito mundial de surfe profissional (WCT).

Em outros tempos, essa vitória seria encarada como praticamente todas as outras de brasileiros na história. Assim: uma zebraça na semana em que os deuses do esporte decidiram, por capricho, boicotar americanos, australianos, sul-africanos, portugueses, franceses e todos os outros eternamente favoritos.

Mas fatores novos e importantes levam o mundo do surfe a desconfiar de que, dessa vez, as praias da belíssima costa dourada australiana abrigaram algo mais do que um mero triunfo do acaso.

Garotão paulistano criado na praia de Maresias, São Sebastião, litoral norte paulista, 20 anos, fala mansa e pausada, jeitão suave de menino bem educado e pinta de galã de banda teen, Medina é uma das principais estrelas da atual geração do surfe profissional brasileiro.

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Uma fornada reconhecida por rivais, técnicos, especialistas, veículos de comunicação e fãs de todo o mundo como a melhor produzida pelo Brasil na história. Por isso, recebeu no meio um nome de batismo bonito e sugestivo: The Brazilian Storm – A Tempestade Brasileira.

Medina venceu na final o campeão do mundo de 2012, o australiano Joel Parkinson, o Parko, 32 anos, um dos nomes mais fortes do surfe na atualidade. Não foi seu único feito na etapa. Para chegar à decisão, o brasileiro derrubou também o atual detentor do título, o também australiano Mick Fanning.

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Foi a primeira vitória de um brasileiro, e a segunda de um estrangeiro, desde a inclusão desta etapa no WCT. Em 2004, o americano Michael Mick Lowe venceu em Gold Coast. Fora isso, só deu Austrália.

Além do primeiro lugar de Medina, Adriano de Souza, o Mineirinho (apesar do apelido, paulista do Guarujá radicado em Florianópolis-SC), 27 anos, outro brasileiro muito respeitado no circuito, terminou a etapa em terceiro lugar. Perdeu a semifinal para Parko mas, antes disso, fez bonito: derrotou por duas vezes ninguém menos do que o americano Kelly Slater, lenda viva e fenômeno maior do esporte, onze vezes campeão mundial do WCT, considerado o Pelé do surfe, o maior atleta das pranchas em todos os tempos. Em 2013, Mineirinho venceu a terceira etapa do campeonato, a de Bells Beach, em Torquay, Victoria, também na Austrália.

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Para completar a festa brazuca em Gold Coast, outra jovem promessa da Brazilian Storm, Miguel Pupo, 21 anos, paulista de Itanhaém radicado na praia de Camburi, litoral norte de São Paulo, terminou a etapa em oitavo lugar.

Com esses resultados, o Brasil tem pela primeira vez três surfistas entre os dez primeiros do ranking mundial. E outros quatro até o 25º lugar: Jadson André, 24 anos, de Natal-RN (13º), e Filipe Toledo, 18 anos, paulista de Ubatuba; Alejo Muniz, 24 anos, argentino com cidadania brasileira que vive em Bombinhas-SC; e Raoni Monteiro, 31 anos, carioca radicado em Saquarema-RJ, esses três últimos empatados na 25ª posição. Dos 34 surfistas da primeira divisão atual do WCT, sete são brasileiros.

Confira os brasileiros no ranking após a primeira das onze etapas do campeonato

O relato de Gabriel Medina em entrevista ao R7 de Margaret River, na Austrália, onde disputará a segunda etapa do campeonato, entre os dias 2 e 13 de abril, dá o tom o otimismo:

— É uma honra fazer parte da Brazilian Storm porque meus colegas possuem um compromisso profissional com o aprimoramento. São todos muito competitivos. Conseguem unir prazer de surfar, dedicação, profissionalismo e talento de uma forma ainda não vista no surfe brasileiro. Por isso, creio, os resultados começam a aparecer nesta intensidade.

Medina segue rasgando onda:

— Kelly Slater, Parko, Mick Fanning, Taj Burrow, C.J. Hobgood, todos esses caras sempre foram monstros, nossos ídolos. Hoje, veja só, estamos aí, ao lado deles. É um prazer intenso, curioso e até estranho enfrentá-los percebendo que eles têm medo da gente em certas ocasiões. Não o medo pejorativo, mas aquele vindo do respeito, do reconhecimento, da consciência de que nós hoje podemos vencê-los a qualquer momento, em qualquer uma das onze provas do circuito. Se vamos vencer ou não no final é outra história, mas estamos nivelados para competir com os caras. Por isso estou certo de que o título inédito de uma temporada para o Brasil é questão de tempo. E, sinceramente, penso que há condições de acontecer em 2014.

Medina é especializado em aéreo, aquela manobra em que o surfista “voa” por alguns segundos e volta para continuar a “rasgar” a onda. A suprema maioria dos jornalistas especializados o considera hoje o maior especialista do mundo neste movimento. Um crítico da publicação americana Surfline, uma das bíblias atuais do esporte, destacou assim os aéreos do brasileiro na etapa de Gold Coast:

— Gabriel distribuiu seus aéreos em grande quantidade, com a leveza habitual, o que nos leva a pensar que a manobra é uma coisa fácil de realizar, ao alcance de todos.

Micah Abrams, especialista em surfe e esportes radicais do X-Games e da ESPN Internacional, concluiu assim o seu artigo sobre Gold Coast:

— Um brasileiro campeão da primeira temporada. Um brasileiro líder do WCT logo no início. Um brasileiro com pontuação de Kelly Slater. Claro que é cedo, mas até agora os dias pertencem ao Brasil.

Na legenda da foto de Medina, aberta com o título sintomático de The ASP’s Brazilian Threat (A Ameaça Brasileira no Circuito de Surfe Profissional), Abrams acusou o golpe com humor:

— Ele era um ótimo garoto... até decidir que realmente quer ganhar um título mundial.

A Brazilian Storm não é apenas fruto da coincidência do surgimento de uma mão cheia de jovens talentosos ao mesmo tempo. Outros fatores ajudaram a construir o salto de qualidade, como explica o jornalista carioca especialista em surfe Caio Barretto Briso:

— O Brasil teve surfistas talentosos no circuito desde os pioneiros, como Bocão e outros. Teco Padaratz e Fabio Gouveia mostraram talento. Mas essa molecada da Brazilian Storm, além de muito talentosa, tem uma fome de ser competitiva que é um negócio de maluco. Passam boa parte do ano treinando nos picos mais radicais do mundo. São disciplinados como nunca se viu por aqui para treinar e também cuidar da parte física. Observem: são uns touros, fortes demais. Alguns utilizam técnicas de resistência do exército americano em seus treinamentos.

A turma da Brazilian Storm tem outra diferença fundamental em relação aos pioneiros: a competição e a vitória como elementos mais importantes do que o lado romântico do esporte. O surfista paranaense Pedro Pereira dá mais detalhes:

— Os brasileiros tinham fama no circuito de não falar o inglês, sempre reclamar das decisões dos juízes e levar a coisa na corda bamba, no amadorismo, no surfe não como esporte e profissão, e sim como estilo de vida, way of life, droga e tal. Esses meninos quebraram esse paradigma. São atletas. Não usam drogas. São competitivos. Enxergam a coisa como profissão. Colocaram na cabeça que, apesar do prazer romântico proporcionado pelo surfe, é preciso vencer, sem bem sucedido, e ponto final. Odeiam perder.

Pereira lembra de dois fatos reveladores:

— O Mineirinho declarou recentemente que hoje não consegue mais surfar apenas por prazer. Está sempre analisando algo, tentando melhorar, aprimorar. Não por acaso, o Parko, atual campeão mundial, declarou há poucos dias que ele (Mineirinho) talvez seja o surfista mais competitivo do circuito atual. Quando tudo isso se junta a uma fornada que o destino quis ser talentosa, o resultado só pode ser algo como a Brazilian Storm.

Por tudo isso, as ondas rasgadas pelo mundo engordam também a conta bancária. Medina e sua família não conversam sobre cifras, mas hoje ele e os amigos têm dinheiro e estrutura suficientes para correr o mundo com a cabeça apenas nas ondas. A vitória em Gold Coast rendeu cem mil dólares (cerca de R$ 240 mil) a Medina, 20 mil dólares (R$ 48 mil) e 15 mil dólares (R$ 32 mil) a Pupo.

De acordo com o site da APS, a “Fifa” do surfe, Mineirinho ganhou 1,2 milhão de dólares, ou R$ 2,71 milhões, em prêmios na carreira até agora, Medina, filho de comerciantes de Maresias (sua mãe, Simone, tem uma loja de roupas e material de surfe) levou 879,6 mil, ou cerca de R$ 1,89 milhão. E Pupo, 517,15 mil dólares (R$ 1,17 milhão).

Some-se a isso o valor dos patrocínios fixos (cada um deles tem entre três e cinco em média), ocasionais, ações de marketing pontuais e cachês por participação em eventos. E também as queimas de etapas e ensinamentos proporcionados pelo fato de muitos deles serem “filhos de peixe”. A família de Medina tem uma loja de material de surfe. Pupo é filho do ex-surfista e shaper (criador de pranchas) Wagner Pupo. E Filipe tem em casa, como papai, o bicampeão brasileiro de surfe Ricardo Toledo. Gabriel Medina comenta:

— Esses bons resultados da nossa geração só são possíveis por causa desses desbravadores do esporte. Ralaram muito e, de certa forma, construíram parte da cama para a gente. No nosso caso, temos o privilégio de conviver com alguns deles nas nossas casas. Mas somos muito gratos também Bocão, Teco, Fabio, Jojó e todos os outros pioneiros. Sem eles a Brazilian Storm existiria.

É, são rapazes educados, como se percebe claramente.

Mas Slater, Parko, Mick, Taj & Cia, não se iludam: os bons meninos querem ser campeões.

Nem que para isso chamem tempestades...

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