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Antigo celeiro de craques, clubes do interior definham à beira da falência 

Especialistas defendem um calendário que possibilite a sobrevivência destas equipes

|Eugenio Goussinsky, do R7

Antes um inesgotável celeiro de craques, o futebol do interior está à beira da falência em todo o Brasil. Os clubes lutam para não fechar as portas, diante de problemas que têm se tornado insolúveis: falta de verba, de interesse dos patrocinadores e de um calendário mais amplo.

Sem isso, fica praticamente impossível pagar salários aos jogadores, obter receitas de publicidade e, assim, voltar a despertar o interesse do público das regiões, que, quando tem condições financeiras, está cada vez mais voltado a outras atividades em um mundo globalizado.

Desta maneira, o surgimento de craques revelados no interior, como Renato Frederico (Guarani); Dino Sani, Sonny Anderson (XV de Jaú), Leão e Mauricinho (Comercial de Ribeirão Preto), Sócrates e Raí (Botafogo de Ribeirão Preto) e tantos outros, está minguando. Uma das exceções recentes foi o Ituano, campeão paulista de 2014, mas que se desfez da maioria dos jogadores e também luta para se manter.

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Para o jornalista Tarcísio Rezende, curador e proprietário de um museu sobre a história do futebol, em Ribeirão Preto, uma das causas deste declínio está no surgimento da Lei da Responsabilidade Fiscal, algo que, para ele, foi positivo.

Acontece que os clubes não souberam mais lidar com a falta de incentivo do poder público, numa relação que, segundo confirma Rezende, era muito promíscua.

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— Os municípios antigamente “bancavam” os clubes. Muitos clubes sofreram quando a administração municipal parou de dar este tipo de apoio e não souberam como encontrar novas fontes de receita.

Ele conta que, por exemplo, o América de Rio Preto, rebaixado da série A3 para a Segunda Divisão paulista, já teria seu estádio penhorado, se não o mantivesse em regime de comodato com a Prefeitura da cidade. Para ele, o interesse dos empresários em revender logo os jogadores também está prejudicando a formação nas equipes mais conhecidas.

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— A revelação de talentos em Ribeirão Preto não passa mais por Botafogo e Comercial, que são os clubes tradicionais da cidade. Praticamente quem tem atraído os jogadores mais jovens é a Escola de Futebol Olé, um time pertencente a empresários.

Rezende também atribui à questão da globalização um dos fatores que esvaziaram a ligação das novas gerações com as equipes locais. Antes era comum os jovens andarem pelas ruas com camisas do XV de Piracicaba ou do Bragantino.

— Atualmente o que se vê são as crianças vestirem camisas do Barcelona, Real Madrid, Milan e outros clubes do exterior.

O especialista em administração esportiva, Antonio Afif, também pensa de maneira semelhante.

— Surgiram outros interesses, TV a cabo, internet, videogame. As crianças passaram a ter os clubes de fora como referência. Os pais nem mais os levam aos estádios da região, para ver tudo deteriorado, cadeiras quebradas, estádio destruído. O garoto nem torce e nem mais se interessa em defender a equipe da cidade.

Algumas questões relativas à Lei Pelé, que acabou com o passe no futebol, também podem ter contribuído para o esfacelamento de agremiações interioranas. A lei em si foi boa e necessária, mas o tipo de ressarcimento que ela dá ao clube formador não facilita o investimento nas categorias de base.

Afif acredita que os clubes teriam de pagar altos salários às revelações para poderem compensar o investimento com a multa contratual, em caso de rescisão e transferência para um novo clube, por meio de um empresário.

— Até os 16 anos não há como se fazer nenhum contrato, a lei não permite isso. As multas recebidas em rescisões contratuais, como os salários são baixos, não estão cobrindo os gastos com categorias de base.

E ele ressalta um ponto fundamental, muito defendido pelos presidentes das agremiações: um calendário que se preocupe com estas equipes.

— Os campeonatos são muito curtos para estes times. Ficam quase o ano inteiro parados, após os estaduais. O interesse do público por outros torneios diminuiu. O ideal seria montar um campeonato longo em que as equipes se mantivessem em atividade a maior parte do ano. Aí sim poderiam planejar e atrair receitas. Mas, em todo o Brasil, não vejo preocupação em salvar os clubes do interior. Do jeito que está indo, todos caminham para fechar as portas.

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